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terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

A ORIGEM DAS CALÇADAS DE MONSARAZ

 IMPORTANTE E BONITO TEXTO DO NOSSO AMIGO Francisco Capelas SOBRE  A ORIGEM DAS CALÇADAS DE MONSARAZ



 Monsaraz

As antigas calçadas das ruas da vila e dos seus acessos.

Sabe-se que , ao lado da posse de altos cargos administrativos e de títulos nobiliárquicos os nobres portugueses continuaram no século XV a receber diversos privilégios fiscais .

Em tempos de D. João I, Monsaraz e o seu termo foi integrado na sereníssima Casa de Bragança, por doação de D. Nuno Alvares Pereira em 1422, ao seu neto D. Fernando passando em matéria de tributação fiscal, a constituir um dos mais preciosos e fartos vínculos desta grande casa ducal portuguesa.

Desde os tempos de D. João I , era uma terra imune, por ser couto de homiziados, destinado a atrair moradores e a tentar a sua expansão demográfica a custa de criminosos foragidos à justiça e recrutados na escória Humana do Pais, caracterizada pelo não pagamento de impostos à coroa, onde a entrada de funcionários régios era proibida, e onde todas a funções administrativas dependiam da sereníssima Casa de Bragança, que nomeava o juiz ou ouvidor para fazer justiça, o cobrador de impostos, vigários e meirinhos, e onde também mantinha as suas próprias tropas.

Na história de Monsaraz, encontramos períodos de graves e perigosas crises de despovoamento derivado ao fato da vila ser «fragosa e de má serventia» situação ,aliás, que originava um fenómeno periódico e repetido, com carater fatalista , dadas as frequentes crises demográficas.

A sua importância estratégica como povoação fortificada próxima da fronteira com Castela, recomendava o seu forte povoamento, e para isso havia que criar condições que levasse a fixação dos seus moradores.

Por isso D. Afonso V nas cortes de 16 Dezembro de 1439,terá atendido de imediato aos apelos formulados pelo procurador do concelho, concedendo a Monsaraz todos os privilégios.(1)

O grande investigador da história regional Dr. José Pires Gonçalves escreveu a propósito o seguinte:

«E tão grave se manifestou esta crise demográfica que , nas cortes celebradas em tempos de D. Afonso V, o procurador do concelho de Monsaraz, Diogo Lourenço, apelou ao rei e solicita para os moradores da vila e do seu termo, como medida repovoadora, a isenção dos tributos a que se encontravam obrigados, alegando ainda, à concessão com clarividência politica, que essa isenção devia ser extensiva «aos judeus e mouros que ali fossem morar»

O rei com exata noção da realidade local, não só atendeu as reclamações formuladas por Diogo Lourenço em matéria administrativa e fiscal, como também, para facilitar o acesso dos moradores da vila, mandar pavimentar as congochas que pelos flancos do outeiro ascendem ás portas da muralha e alarga a sua generosidade até à conceção do grande previlégio urbanístico do calcetamento das ruas no interior da povoação.

Este calcetamento foi executado com material lítico pobre do Xisto regional e para maior segurança ambulatória das cavalgaduras e dos próprios homens, movendo-se nas ruelas de acentuado desnível, a técnica aplicada foi o da calçada em cutelo, com os toscos blocos de lage implantados de gume no leito da pavimentação, como ainda hoje ali de pode observar nos troços mais antigos do empedramento»(2)

Estes grandes obras de beneficiação da vila e dos seus acessos, terão decerto necessitado de muita mão de obra escrava, naquele tempo abundante no termo de Monsaraz.

Não conheço nenhum documento que me permita afirmar como verdade histórica, de onde foram extraídas as pedras de xisto necessárias para estes pavimentos, mas,… é na toponomia do tablado físico do antigo concelho de Monsaraz que ainda hoje existe o topónimo” Serra das Pedras”. Não me custa acreditar que terão sido dos afloramentos de xisto existentes naquela serra (próxima de Monsaraz), que terão sido extraidas as pedras para os penosos trabalhos de calcetamento das ruas e acessos á vila medieval de Monsaraz.

Texto: FRANCISCO CAPELAS

Fotos: Porta d´Évora -José Rosado de Carvalho

E Monsaraz A Caminhar 

Referências:

(1)-A.N.T.T., Chancelaria de D. Afonso V, Livro 19, fól. 70

(2)-Monraraz- Vida morte e ressureição de uma vila alentejana-Joé Pires Gonçalves




quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

A lenda do Milagre do Senhor Jesus dos Passos no Terramoto de 1755

 

História, lendas e tradições da Vila de Monsaraz 

A lenda do Milagre do Senhor Jesus dos Passos no Terramoto de 1755 

Na madrugada do dia 01 de Novembro de 1755, a aurora não apresentava nenhum sinal diferente das anteriores, anunciava mais um lindo dia de sol brilhante e, mesmo sendo o dia de Todos os Santos, a vida do campo não podia parar, embora, as sementeiras estivessem feitas, o trabalho nunca acabava, assim, após assistirem à primeira missa da manhã, os moradores da Vila de Monsaraz, trabalhadores rurais, dirigiram-se aos respetivos Montes e herdades, mas os funcionários do Reino e da Sereníssima Casa de Bragança, a donatária da Vila, sendo feriado, estavam aliviados das suas funções e, com as suas famílias, foram assistir à Missa das nove horas na Igreja de Santa Maria da Lagoa! 

Cerca das nove horas e trinta e cinco minutos, da manhã, a Vila de Monsaraz estremeceu com tão grande intensidade que, as suas muralhas, muito degradadas desmoronaram, imediatamente, assim como  parte do Castelo, porém, os edifícios e as Igrejas do interior da Vila, pouco sofreram, apenas ficaram algumas rachas e cairam uns pedaços de paredes velhas e de rebocos, sem fazer nenhuma vítimas! 

Naquela manhã, a Igreja de Nossa Senhora da Lagoa estava cheia de fiéis, a assistir à Missa de Nossa Senhora do Rosário que, era cantada com orgão e assistida por oito sacerdotes e, no momento em que a Igreja sofreu o grande impacto do terramoto, caiu muito pó e rebocos e, algumas Imagens foram afastadas dos lugares nos seus altares, os fiéis entraram em pânico, mas não houve nenhum perigo para as pessoas que se achavam na Igreja, apenas ficaram muito empoeiradas, sendo a sua proteção atribuída a Nossa Senhora do Rosário, a qual todos os fiéis durante o terramoto, com vozes e lágrimas invocaram! 

Passados poucos minutos, ficou um medonho silêncio, sem ninguém se mover do lugar onde se encontrava, com receio que o seu movimento desencadeasse a queda das paredes e, começaram a ouvir-se gritos de aflição no exterior, porque, as pessoas não viam sair ninguém e pensaram  que, a abóboda da Igreja de Santa Maria da Lagoa tinha desabado e estavam lá todos sepultados!

Assim que, o povo e as autoridades se certificaram da ausência de réplicas do terramoto, ainda desorganizados, começaram a correr pelas ruas, pelos campos, por todo o lado, à procura dos seus amigos e familiares, dando lugar a grande confusão! 

O tempo foi passando e antes do meio dia, já havia grupos organizados para prestar ajuda, começaram por visitar as casas e os seus moradores, avaliando o nível de destruição e se era necessário dar alguma ajuda, foram entrando nos edifícios e nas Igrejas da Vila e, quando um grupo entrou na Igreja da Misericórdia deparou-se com um cenário que os deixou abismados, não mexeram em nada e, algumas pessoas saíram a correr a chamar as autoridades, os guardas, militares e padres e com eles veio muita gente atraída pelo alarido! 

Na Igreja da Misericórdia, Nossa Senhora da Piedade com sua criança, tinha o seu lugar no segundo Altar colateral da parte da Epístola e, durante o terramoto caiu no meio da Igreja em frente de Nosso Senhor Jesus dos Passos, ficando a seus pés, em posição de suplício, por isso, foi logo assumido pelos devotos que Nossa Senhora movida da sua piedade se prostrou por terra a suplicar a seu Bendito Filho, para salvar a Vila de Monsaraz e seu Termo, (Concelho) da destruição, e de verdade, não houve ruína de relevo nos edifícios da Vila e, as gentes não sofreram o menor dano físico! 

A notícia de que o Senhor Jesus dos Passos tinha feito um Milagre ao salvar a Vila de Monsaraz e seu Termo da destruição, depressa se espalhou e, em poucas horas o povo juntou-se na Igreja da Misericórdia, onde decidiram continuar a juntar-se durante nove dias seguidos a fazer Preces e no fim fizeram uma procissão e Missa cantada para lhe dar as graças! 

Os montesarenses reconheceram o grande benefício, sem dúvida, que foi um Milagre, por isso, continuaram a dar as graças a Nosso Senhor Jesus dos Passos, tornando-se excessiva a sua devoção para com a sua soberana Imagem, havendo devotos que a visitavam todos os dias, mas o dia da visita comum, estava assente que seria às Sextas - Feiras! 

Os montesarenses são muito devotos de Nosso Senhor Jesus dos Passos, continuando a venerá-lo, de entre outras formas de fé, através da realização da Festa em sua honra no segundo fim de semana do mês de Setembro. 


Fim

Texto: Manuel Correia 

Fotografia: Isidro Pinto 


Nossa Senhora da Piedade - Monsaraz