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sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

A TI ANA ROLA E O Dr. RAMOS

 A TI ANA ROLA E O Dr. RAMOS


Não serão já muitos mas alguns conterrâneos haverá que ainda se recordam da tão carismática figura do doutor Ramos, médico veterinário de reconhecido valor e muito admirado nos concelhos de Reguengos, Mourão, Moura, não só pelas suas capacidades profissionais mas também pelo seu elevado sentimento humanista, muitas eram as vezes que aos pobres nada cobrava. Monsaraz desde os tempos mais remotos sempre viveu condicionada pelos difíceis acessos, uma das fornas de o minimizar era a utilização do gado muar, quase todas as famílias tinham um burro, para carregar a lenha, para ir buscar a água ou para lavrar as íngremes encostas, de onde com muito esforço arrancavam à terra, as batatas, os grãos, as favas e algum trigo ou centeio para o fabrico do pão. Era do conhecimento geral que não se podia deixar fartar os burros de palha de favas, creio por lhe causar obstipação podendo leva-los à morte. Por um pequeno descuido deixou a Ti Ana Rola que a burra comece mais palha de favas do que devia, passados já alguns dias e com a burra a piorar de dia para dia, não tiveram mais remédio que chamar o Dr. Ramos, que após imenso e árduo trabalho conseguiu salvar a burra. Aliviada por ver a sua burrinha fora de perigo pergunta a Ti Ana Rola ao Dr. Ramos, Dr. Quanto lhe devemos ? Deixa estar não te preocupes não é nada é de graça respondia este. Não cabendo em si de contente exclamou a Ana Rola, BENDITO SEJA O SR. DOS PASSOS QUE SE SALVOU A MINHA BURRINHA. Ai foi o Sr dos Passos !!! Eu é que me fartei aqui de trabalhar e agora foi o Sr. Dos Passos !!! vai lá buscar o dinheiro para me pagares que acabou-se o de GRAÇA dizia o Dr Ramos.

Obrigado amigo António Rodrigues (Marreneco) por mais este pedaço de história das nossas gentes.

"Texto e foto de Isidro Pinto"

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

A LENDA F O MILAGRE DO SENHOR JESUS DOS PASSOS

 


A Lenda do Milagre do Senhor Jesus dos Passos, em Monsaraz

Nos finais da centúria de 1500, uma rapariga chamada Maria Roseta, morava numa casa pequenina junto ao Castelo da Vila de Monsaraz, deixada por uma tia, vindas não se sabia de onde e, após a morte dessa tia, ficou a morar com o seu gato preto! 

A Maria Roseta era muito pobre e franzina e toda a gente dizia que era feiticeira, porque sabia rezas e mezinhas, com as quais curava muitas maleitas, mesmo assim, não era respeitada pela maioria dos montesarenses e sempre que saia à rua era alvo de troça, risos, assobios e palavras ofensivas, mas muitas dessas pessoas ou familiares, quando se sentiam mal, em segredo, corriam a sua casa pedir-lhe ajuda e ela tratava todos os males com muita sabedoria e dedicação! 

No dia 9 de Junho de 1594, era Corpo de Deus, e os ranchos já andavam a ceifar pelos campos de Monsaraz, cerca das 10 horas, quando as foices entravam pelas searas, o sol, repentinamente, desapareceu, os ceifeiros e ceifeiras ficaram assustados, pararam o trabalho e os seus olhos virararm-se para o lado do astro rei e viram uma nuvem negra que o ofuscava e não deixava passar a luz! 

Os montesarenses ficaram aflitos sem perceber o que se estava a passar e pensaram que, seria alguma trovoada sem trovões, mas naquele momento começaram a cair milhares de gafanhotos esfaimados que consumiam os cereais como se fosse fogo! O combate aos insetos começou, imeditamente com tudo o que tinham à mão, mas era uma luta sem tréguas e não demorou a juntar-se gente á procura de ajuda ou de alguma solução para tão grande problema, mas apesar de surgirem muitas ideias, devido á desconformidade de insetos, depressa caiam por terra! 

À medida que o tempo passava, a situação piorava, então, alguns montesarenses decidiram pedir ajuda à Maria Roseta, porque, diziam que ela sabia mezinhas para todos os males do mundo e não tinham outra alternativa! 

Um grupo de homens e mulheres, correram pelas ladeiras de Monsaraz a pedir ajuda à Maria Roseta, mas ela respondeu-lhe que não tinha nenhuma mezinha para aquele mal, não podia fazer nada, perante a decepção e a insistência ela disse-lhe que sabia quem podia ajudar, deviam fazer, imediatmente uma procissão aos campos de Monsaraz com Nosso Senhor Jesus dos Passos! 

Os montesarenses, não veneravam o Senhor Jesus dos Passos e interrogaram a Maria Roseta se a procissão não podia ser a outro Santo ou Santa? Ela afirmou que não, só podia ser o senhor dos Passos, então o povo já de cabeça perdida correram à Igreja da Misericórdia e a rezar levaram a imagem do Senhor dos Passos que tinha sido oferecida por D. Teodósio II, Duque de Bragança, poucos anos antes e, nem esperaram pelo Padre que quando se apercebeu partiu a correr com a batina ao pescoço atrás da procissão, mas assim que, a imagem do Senhor dos Passos saiu da Igreja da Misericórdia, os gafanhotos que já estavam nas terras de Monsaraz, começaram a morrer e quando avistaram a grande nuvém de gafanhotos, o sol quase, repentinamente, começou a brilhar, porque a nuvem desceu e os insetos começaram a cair mortos sobre as águas do rio Guadiana, sendo impedidos de alcançar os campos de Monsaraz! 

O povo de Monsaraz não conseguia perceber o que tinha acontecido e, surgiram muitas versões sobre o acontecimento, no entanto, no dia seguinte a vida rural voltou ao normal, mas não se falava noutra coisa e o povo foi-se apercebendo do risco que correram, ficando cada vez mais claro que tinha acontecido um milagre de Nosso Senhor Jesus dos Passos que, os tinha livrado da praga de gafanhotos, logo da fome certa, por isso, tinham de encontrar uma forma de agradecimento, então, marcaram uma reunião popular, onde decidiram que entre outros atos de fé, todos os anos depois das colheitas a Vila de Monsaraz, por gratidão, fazia uma procissão ao Senhor Jeusus dos Passos no segundo Domingo do mês de Setembro e, como sabemos, essa tradição ainda hoje se mantém! 

Ainda nessa reunião popular, alguém lembrou que, se o milagre tinha acontecido, devia-se à Maria Roseta, porque, ninguém imaginava pedir auxílio ao Senhor Jesus dos Passos, por isso, ela não podia ser  esquecida e, naquele momento, alguns lavradores de Monsaraz que estavam presentes, prontificaram-se a dar-lhe uma casa nova e todos os bens alimentares, até ao fim da sua vida! 

A partir daquele dia, os montesarenses que troçavam dela, mostraram-se arrependidos e, em vez de troçar, começaram a venerá-la e quando a Maria Roseta foi prestar contas a Deus, todos os montesarenses lhe prestaram homenagem de agradecimento, acompanhando-a até à sua última moradal 

A casa da Maria Roseta, já não existe, porque teve de ser sacrificada para dar lugar à construção das novas muralhas da Vila de Monsaraz, durante a guerra da restauração. 

Bem Hajam, Marias Rosetas!

Fim 

Podemos garantir que, existem documentos régios de Castela dessa época, a testemunhar a ocorrência desta, ou de outras pragas semelhantes, de gafanhotos nesta região e que deixaram as populações a passar fome, porque esses insetos devoraram os cereais e as pastagens do gado.

Texto: Manuel Correia 

Fotografia. Isidro Pinto

sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

O BUNDA E A LEBRE DA RUA DIREITA

 

O Bunda e a lebre da rua Direita




 Ao falar de vizinhos apenas com uma casa de permeio morava o meu amigo Bunda, bom homem com quem mantive e mantenho uma óptima relação de amizade. Era mais uma noite de Agosto de um calor insuportável em que a única forma de amenizá-lo era abrir as portas, não só para tornar o serão mais aprazível mas também para que as casas refrescassem um pouco para o dia seguinte, não querendo perder pitada da televisão estava o Bunda e a família, ti Rosa sua esposa e os filhos Domingos José, Francisco, e José Domingos na sala de entrada, que normalmente neste tipo de habitações alentejanas é também sala de estar. Na televisão o José Mestre Baptista toureava já o segundo toiro, da corrida do campo pequeno, a falta de nitidez do velhinho aparelho era notória queixava-se insistentemente a ti Rosa ó Tonho és sempre a mesma coisa estou farta de te dizer para ires acima do telhado arranjar a antena e tu nada, agora, está a dar a tourada e isto só se vê esta chuva, o Bunda fazia ouvidos de mercador. Apesar de tudo isto, a atenção era redobrada, apenas o José Domingos havia adormecido no camalho, as portas estavam abertas de par em par e para que os mosquitos não entrassem a única luz existente era a da televisão, a duzentos metros mais acima mais ou menos junto á porta do Lumumba acabava de chegar um casal de turistas de meia idade e que, supostamente, haviam morto uma lebre na estrada que se apressaram a tirar do porta bagagens, para estupefacção de ambos assim que o abriram a lebre ó pernas para que te quero e de um salto em escassos segundos já corria rua abaixo, completamente desorientada corria agora na direcção do castelo, a perseguição era feita não só pelo casal mas também por muita outra gente que aquela hora estava sentada na rua ao fresco, a estupefácção era geral, até um pachorrento cachorro que dormitava junto ao pelourinho não quis acreditar no que os seus olhos viam e não demonstrou o menor interesse de correr atrás dela, até que não se sabendo bem porquê resolveu a dita lebre entrar portas dentro para a casa do Bunda, imagine-se o espanto e confusão a perseguição era agora feita entre mesas e cadeiras e apenas com a luz que emanava da televisão. Não me recordo como terminou este episódio mas suponho que nada bem para a lebre.

"Texto e foto Isidro Pinto"