O Bunda e a lebre da rua Direita
Ao falar
de vizinhos apenas com uma casa de permeio morava o meu amigo Bunda, bom homem
com quem mantive e mantenho uma óptima relação de amizade. Era mais uma noite
de Agosto de um calor insuportável em que a única forma de amenizá-lo era abrir
as portas, não só para tornar o serão mais aprazível mas também para que as
casas refrescassem um pouco para o dia seguinte, não querendo perder pitada da
televisão estava o Bunda e a família, ti Rosa sua esposa e os filhos Domingos
José, Francisco, e José Domingos na sala de entrada, que normalmente neste tipo
de habitações alentejanas é também sala de estar. Na televisão o José Mestre
Baptista toureava já o segundo toiro, da corrida do campo pequeno, a falta de
nitidez do velhinho aparelho era notória queixava-se insistentemente a ti Rosa
ó Tonho és sempre a mesma coisa estou farta de te dizer para ires acima do
telhado arranjar a antena e tu nada, agora, está a dar a tourada e isto só se
vê esta chuva, o Bunda fazia ouvidos de mercador. Apesar de tudo isto, a
atenção era redobrada, apenas o José Domingos havia adormecido no camalho, as
portas estavam abertas de par em par e para que os mosquitos não entrassem a
única luz existente era a da televisão, a duzentos metros mais acima mais ou
menos junto á porta do Lumumba acabava de chegar um casal de turistas de meia
idade e que, supostamente, haviam morto uma lebre na estrada que se apressaram
a tirar do porta bagagens, para estupefacção de ambos assim que o abriram a
lebre ó pernas para que te quero e de um salto em escassos segundos já corria
rua abaixo, completamente desorientada corria agora na direcção do castelo, a
perseguição era feita não só pelo casal mas também por muita outra gente que
aquela hora estava sentada na rua ao fresco, a estupefácção era geral, até um
pachorrento cachorro que dormitava junto ao pelourinho não quis acreditar no
que os seus olhos viam e não demonstrou o menor interesse de correr atrás dela,
até que não se sabendo bem porquê resolveu a dita lebre entrar portas dentro
para a casa do Bunda, imagine-se o espanto e confusão a perseguição era agora
feita entre mesas e cadeiras e apenas com a luz que emanava da televisão. Não
me recordo como terminou este episódio mas suponho que nada bem para a lebre.
"Texto e foto Isidro Pinto"
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