Pesquisar neste blogue

domingo, 30 de janeiro de 2022

O TI GARRANA A VENDA DO BENTO E A TROVOADA

 O TI GARRANA A VENDA DO BENTO E A TROVOADA


Já aqui referi em alguns textos, que o Telheiro provavelmente devido á sua privilegiada localização geográfica, desempenhou importante papel socioeconómico durante várias décadas, nomeadamente, nas de 50/60/70 proporcionando como tal uma enorme oferta de serviços das mais variadas profissões, foi nessa condição, que atraído pela prosperidade do Telheiro e pela consequente oferta de trabalho, oriundo dos Motrinos chegou ao Telheiro o Ti Garrana, onde durante longos anos, desempenhou o papel de malhador de ferro na oficina dos LOPES, com o passar dos anos e o vício a corroer-lhe o físico, acabou por passar os últimos anos da sua vida, sozinho numa improvisada choça, junto ao tronco de uma milenar oliveira, que ainda hoje existe, na tapada da fonte quase a chegar ao posto de aquilo que era a Guarda Fiscal do Telheiro.
Sem meios próprios de subsistência, vivia da caridade alheia e da boa vontade de um ou outro que lhe pagavam um copinho.
Foram épocas duras para todos, de uma maneira geral, as mercearias e tabernas ou vendas como também se designavam eram pequenos negócios familiares, na maioria dos casos repartidos com outras atividades, ou pequenos seareiros ou até assalariados de outros nas grandes herdades, como era o caso do Bento à época, carreiro no Azinhalinho, ficando durante o dia o negócio entregue à esposa.
O ti Bernardino Garrana apesar de entregue ao álcool e das precárias condições em que vivia era bom homem, respeitador e educado, sendo por isso respeitado por toda a gente, nesse dia e como de costume, foi já perto da hora de almoço até á Venda do Bento no Ferragudo, quem sabe aparecia alguém capaz de lhe pagar um copinho, quis o destino, que enquanto estava por ali, se armou trovoada tamanha, que foi a Chica Viola que apavorada com o medo dos trovões lhe disse, AÍ Ti BERNARDINO!!!!! Deixe-se estar aqui que eu e a minha Maria Antónia temos muito medo das trovoadas e assim sempre nos faz companhia, respondia o BERNARDINO, OH CHICA!!!!!! está descansada que pelo menos aqui não me cai a água em cima, a trovoada foi-se aproximando, os relâmpagos e trovões eram cada vez mais frequentes e fortes, aproximando-se a hora do almoço e incapazes de comer com medo dos trovões, trouxe a CHICA VIOLA as sopas de feijão, que estavam ao lume na panelinha de barro e que tinha preparadas para si e para a filha, comentando para o Ti Bernardino OLHE Ti BERNARDINO!!!! Coma as nossas sopas que a gente com a trovoada não somos capazes de comer, enquanto a Chica Viola e a Filha a cada relâmpago forte se benziam, AI JESUS SANTO NOME DE JESUS, SANTA BARBARA NOS ACOMPANHE!!!!! Impávido e sereno a tudo isto ia o Bernardino banqueteando-se com as sopinhas de feijão e o copinho de vinho, já bem comido e quase a terminar a refeição, num gesto tão próprio de quem não usa guardanapo, limpou os beiços as costas da mão, lambeu os lábios e exclamou, AI VIRGEM SANTÍSSIMA, ASSIM FIZESSE TRAVOADA TODOS OS DIAS!!!!!!
O orgulho nas nossas origens é aquilo que nos diferencia e nos engrandece a Chica Viola e o Bento eram os meus pais e a Maria Antónia a minha irmã.
“Texto Isidro Pinto”
“Foto da Net”

Sem comentários:

Enviar um comentário