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segunda-feira, 5 de setembro de 2022

A LENDA DO MILAGRE DO SENHOR DOS PASSOS, QUANDO ESCONDEU MONSARAZ

A lenda do Milagre do Senhor dos Passos, quando escondeu Monsaraz 




História, lendas e tradições da Vila de Monsaraz

A lenda do Milagre do Senhor dos Passos, quando escondeu Monsaraz

Nosso Senhor Jesus dos Passos é um título de Jesus Cristo, é uma devoção na Igreja Católica dirigida a Jesus, relembrando o trajeto percorrido na Via Dolorosa até chegar ao calvário!
A sua imagem surgiu na Villa de Monsaraz, na então Igreja do Espírito Santo, depois da Misericórdia, por doação do Duque de Bragança D. Teodósio II, talvez, cerca do ano de 1600 e, a devoção dos montesarenses pelo Senhor dos Passos, foi imediata!
Nos finais da centúria de 1600, a fama dos Milagres de Nosso Senhor Jesus dos Passos, já tinha passado a fronteira e chegado às terras da Raia em Castela, de onde chegavam cada vez mais romeiros a Monsaraz!
A devoção pelo Senhor Jesus dos Passos, em terras de Castela era tanta que, um grupo de romeiros de Figueira de Vargas, Vale de Mata Mouros, Vila Nueva del Fresno e outras localidades, engendraram um plano para roubar o Senhor e erigir-lhe uma Igreja em Figueira de Vargas, porque era muito doloroso fazer o caminho, passar o rio Guadiana e depois subir o planalto até Monsaraz!
O plano dos castelhanos foi fácil de acertar, consistia em fazer uma peregrinação a Monsaraz, composta por um grande número de romeiros, homens, mulheres e crianças já crescidas, integrado nesse grupo, seguia outro de danças e cantares com bandeiras, Pendões e estandartes que representavam as suas Vilas, depois à porta da Igreja da Misericórdia armavam um grande espetáculo e distraiam os montesarenses, entretanto, outro grupo bem treinado, envolvia o Senhor dos Passos nos Pendões e seguiam a caminho de Castela, mas no exterior da Vila entregavam o Senhor a um grupo de cavaleiros que rapidamente passaria a fronteira e, se necessário, alguns davam cobertura na retirada, embora o resultado das simulações indicavam que, quando os montesarenses dessem pela falta do Senhor, já o mesmo estaria bem escondido em Figueira de Vargas!
Os castelhanos treinaram bem, conforme o plano, foram várias vezes a Monsaraz a ensaiar e tinham a certeza que tudo ia correr bem, logo, estava garantido que tudo daria certo, assim, marcaram a sexta feira dia 5 de Agosto de 1695, um dia de semana, depois da Missa da manhã, quando os montesarenses saíssem a trabalhar nas herdades e os funcionários já estivessem nas respetivas Repartições e na Câmara, seria mais fácil, porque havia poucas pessoas por ali!
Os castelhanos começaram a juntar-se às portas de Vila Nueva del Fresno na noite de quinta feira, onde foram dadas as últimas indicações, para de madrugada estarem junto ao rio Guadiana no Lugar do Gato, onde já tinham alguns barcos para os passar para a margem portuguesa, mas a cavalaria e outras montadas passavam a nado!
Quando os castelhanos se aproximaram do rio Guadiana, não conseguiam ver um palmo à frente do nariz, ficaram espantados, porque nunca tinham assistido a um nevoeiro tão cerrado no mês de Agosto, mas pensaram que, seria passageiro e, rapidamente o dia ficaria limpo, mas quando os romeiros embarcaram era tão grande a escuridão que os barcos iam contra as rochas e alguns partiam-se e só não houve naufrágios porque o rio Guadiana naquele lugar dava pé em quase todo o lado!
Perante aquele desastre, os romeiros aflitos gritavam assustados, ouviam-se em Monsaraz e por todo o Vale das Ribeiras da Pega e do Azevel, por fim, quando conseguiram juntar o grupo, através de gritos pelos outeiros, uma vez que não viam nada, partiram sem orientação, porque não faziam ideia para que lado ficava a Vila de Monsaraz, que estava coberta pelo manto negro de nevoeiro que não deixava nenhuma pista aos castelhanos que passaram ao lado, sendo barrados na serra da Barrada, onde um grupo de cavaleiros do Regimento da Casa de Bragança os esperava e, depois de os cercarem, fizeram-nos ajoelhar e obrigaram-nos a contar o motivo daquela incursão, e os castelhanos contaram ao pormenor como tinham planeado roubar o Senhor dos Passos de Monsaraz, mas estavam muito arrependidos, e adiantaram que andavam perdidos devido ao nevoeiro cerrado!
O capitão de cavalos, ao ouvir a mesma versão a vários romeiros, não teve dúvidas que falavam verdade e, perante a presença de mulheres e crianças, mandou aplicar pequenos castigos, para não facilitar e a situação voltar a acontecer, então tiraram-lhe os cavalos e as melhores botas e calças aos homens, que seguiram descalços e em ceroulas para as suas Vilas!
Os militares portugueses levaram os castelhanos de volta ao Porto do Gato, onde chegaram muito exaustos, alguns já de gatas, entretanto, alguns guardas da Praça de Monsaraz e muitos montesarenses que tinham ouvido tanto barulho, desceram ao seu encontro, mas não lhe fizeram mal, antes pelo contrário, como conheciam alguns romeiros, até os ajudaram a passar o rio Guadiana para Castela!
Quando já estava tudo calmo, e os castelhanos a caminhar para as suas Vilas, repentinamente, desapareceu o manto de nevoeiro e ficou um lindo dia de sol, vendo-se a Vila de Monsaraz a brilhar nas alturas e, Nosso Senhor Jesus dos Passos lá ficou no seu lugar!
Depois da notícia deste acontecimento percorrer a Vila de lés a lés e toda a região, os montesarenses não tiveram dúvidas que tinha sido um Milagre de Nosso Senhor Jesus dos Passos, que escondeu a Vila de Monsaraz para não ser roubado pelos castelhanos e, ainda nesse dia, fizeram uma procissão que percorreu as ruas da Vila em sua veneração.
Fim
Texto: Manuel Correia
Fotografia: Isidro Pinto

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