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sábado, 28 de setembro de 2019
LENDAS DE MONSARAZ - OS DOTES DAS RAPARIGAS ORFÃS
LENDA DOS DOTES DAS RAPARIGAS ORFÃS DO TERMO (CONCELHO) DE MONSARAZ
História, lendas e tradições da Villa de Monsaraz
A lenda dos dotes de casamento das raparigas orfãs do termo (Concelho) de Monsaraz
Manoel Gonçalves, abastado lavrador do termo (Concelho) de Monsaraz era dono de várias herdades, hortas e Moinhos no rio Guadiana, casado com Josefa Maria Coelho, um rico homem senhor de grande fortuna, mas vivia amargurado por não ter descendentes!
O lavrador Manoel Gonçalves era devoto de Nossa Senhora da Orada, à qual, desde o momento em que começou a tardar o nascimento de filhos, pediu auxilio, prometendo entregar-lhe desde, cereais, gado e dinheiro, se o seu pedido fosse atendido!
O lavrador tinha tudo, menos o que mais queria, filhos, todos os bons negócios lhe vinham ter à mão, no dia 07 de Novembro de 1580, vendeu a herdade do Monte Novo e a horta das Fontainhas, por valores nunca vistos em Monsaraz, ficando, ainda com outras herdades e Moinhos, mas pensava: - para que lhe serviam, se não tinha filhos para deixar a sua fortuna!
Os anos passavam, ele estava cada vez mais rico, mas quanto a filhos, nada de novo, a sua mulher tomava mesinhas indicadas pelo melhor físico (médico) mestre Ambrósio da Villa de Monsaraz e, de todas as bruxas da região que, lhe faziam promessas e levavam muito dinheiro, mas os resultados eram nulos! À medida que os anos passavam o lavrador aumentava o valor das suas promessas a Nossa Senhora da Orada, mas a esperança estava quase perdida, devido à idade da ti Josefa Maria, então o lavrador, talvez em desespero, fez a última promessa a Nossa Senhora da Orada!
A ti Josefa Maria, aproximava-se dos cinquenta anos de idade, do limite possível, para poder ter filhos, quando, um dia começou com enjoos e todos os sintomas de gravidez, mas nem ela, nem o lavrador já acreditavam que isso fosse possível, porém, foi mesmo possível, tomaram todo o cuidado, seguiram todas as indicações do físico e, ao fim de nove meses, no dia 15 de Janeiro de 1587, nasceu uma linda menina, a quem foi dado o nome de Maria, em homenagem a Santa Maria, mãe de Jesus!
A Maria era tratada com todo o cuidado e apresentava muita saúde e desenvolvimento no dia a dia, até que, já passados três meses do seu nascimento, estava na altura de acertar as contas com Nossa Senhora da Orada, então a ti Josefa, um dia, disse ao lavrador:
Ti Josefa: Oh Manoel, não podemos negar que o nascimento da nossa filha foi um milagre de Nossa Senhora da Orada! Por isso, queria dizer-te que fiz uma promessa de uma oferenda e quero cumpri-la assim que tu puderes!
O lavrador ficou apreensivo, não fosse a mesma oferenda da promessa que ele tinha feito a Nossa Senhora da Orada!
Lavrador: Oh mulher, eu não tenho nenhuma dúvida que foi um milagre de Nossa Senhora da Orada, por isso, se a tua promessa depende de mim, vamos pagá-la assim que tu quiseres!
Ti Josefa: Sim, homem, depende de ti, tens de escolher uma bezerra desmamada, aqui da nossa vacada, vendê-la, ou tens que ver quanto vale e damos o dinheiro para a Igreja de Nossa Senhora da Orada! É essa a minha promessa, além de acender lá umas velas e outras oferendas!
Lavrador: Oh mulher, fizeste muito bem, mas a bezerra da tua promessa não pode ser desta vacada, mas deixa lá, vem lá da outra!
Ti Josefa: Está bem, Manoel, desta ou da outra é igual, mas temos aqui tantas bezerras, porque é que não pode ser desta?
Lavrador: Não pode ser desta vacada, porque ela não é nossa!
Ti Josefa: Ai valha-me Deus, então se a vacada não é nossa, de quem é homem?
Lavrador: Oh mulher, a vacada não é nossa, porque é de Nossa Senhora da Orada! Foi essa a minha promessa se tivesse um filho ou filha, como tivemos, temos de a pagar!
A ti Josefa foi apanhada de surpresa, ficou um pouco apreensiva, depois lá reagiu!
Ti Josefa: Fizeste muito bem homem! A nossa filha não é comparável a nenhuma vacada e, se não fosse este milagre de Nossa Senhora, não tinhamos a nossa filha! Sim, vamos entregar a vacada à dona!
A conversa continuou, o lavrador explicou à mulher, qual era a sua ideia, ia nesse dia, falar com o Prior de Monsaraz, contar-lhe tudo sobre a promessa, pedir-lhe autorização para a entrega da vacada e saber que papelada tinha de assinar!
O Prior ouviu o lavrador, começou por ficar muito surpreendido, mas perante a situação e a sua devoção, concordou com tudo, somente lhe pediu para lhe dar um dia ou dois, a fim de dar a notícia ao padre da Ermida de Nossa Senhora da Orada e, para ele, Prior, tratar dos documentos da escritura que seria feita pelo Tabelião do Cartório de Monsaraz!
Depois do Prior tratar da respetiva papelada, pediu ao sacristão para informar o lavrador Manoel Gonçalves, que a escritura estava pronta a assinar!
O lavrador, o Prior e o padre da Ermida de Nossa Senhora da Orada, dirigiram-se ao escritório do Tabelião que, leu a escritura em voz alta, onde constava a vontade do lavrador que era a seguinte:
"Saibam quem este Instrumento de escritua virem que, sendo no Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil quinhentos e oitenta e sete annos sendo aos onze dias do mês de Abril do ditto anno, o lavrador Manoel Gonçalves, entrega a sua vacada a Nossa Senhora da Orada, sendo a sua vontade que, metade do produto da sua venda, seja para remodelação da Ermida de Nossa Senhora da Orada e, a outra metade para ser dada a escritura de juro e o seu produto será usado na constituição de dotes de casamento das raparigas orfãs do termo (Concelho) de Monsaraz, desde que, as mesmas o peçam! O dote será o correspondente ao valor de uma vaca, no momento do respetivo casamento! O Tabelião, nominado e asignado ".
Nada se escreveu sobre o eventual retorno do dote, ou de parte dele, se a mulher viesse a falecer num determinado período de tempo, após o casamento, pelo que, se isso viesse a acontecer o marido não tinha de fazer nenhuma devolução do valor que a esposa tinha recebido!
Após tudo tratado, venderam a vacada, o lavrador comprou muitas vacas, pelo preço justo e, tudo seguiu em conformidade com o que constava no contrato escritura!
Nos finais da década de 1590, a Ermida de Nossa Senhora da Orada sofreu profundas alterações, sendo criada a Comenda de S. Tiago, por vontade do Duque de Bragança!
Os dotes das raparigas orfãs do termo (Concelho) de Monsaraz foram, imediatamente constituídos e, durante 83 anos, até 1670, tudo decorreu normalmente, porém, em 1670 a Igreja de Nossa Senhora da Orada foi entregue à Ordem dos Eremitas Descalços de Santo Agostinho que, no ano de 1700 fundou o Convento de Nossa Senhora da Orada, demolindo a referida Igreja!
Assim, em 1670, o negociador da edificação do Convento, Fr. Manuel da Conceição, deparou-se com mais essa situação, a da atribuição dos dotes às raparigas orfãs do termo de Monsaraz!
Depois de não se encontrar outra entidade que pudesse assumir essa obrigação, uma vez que, a Santa Casa da Misericórdia de Monsaraz estava com problemas financeiros e de administração, não houve outro remédio, senão, o Convento de Nossa Senhora da Orada ficar com essa obrigação! Por isso, a partir de 1670, os dotes das raparigas orfãs, passaram a ser da responsabilidade deste Convento, até ao ano de 1820, quando, o mesmo, foi inserido no Convento da mesma Ordem em Portalegre, continuando o dote a ser assegurado pela Câmara de Monsaraz e, depois pela de Reguengos de Monsaraz até meados da centúria de 1900!
Bem Haja, lavrador ou vaqueiro, Manoel Gonçalves, de Monsaraz!
Após alguma investigação, é esta a nossa versão da lenda dos dotes dos casamentos das raparigas orfãs do termo (Concelho) de Monsaraz!
É verdade que, existem contradições, principalmente quanto a datas e instituições envolvidas!
É verdade que, lendas são lendas e, ao longo de gerações podem perder parte, ou ganhar aditivos, mas a essência é sempre a mesma.
Fim
"Autor da Lenda Correia Manuel dos Amigos de Capelins" para Monsaraz a Caminhar
Convento de Nossa Senhora da Orada, Ferragudo . Monsaraz
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