O RABOLISTA E OS FOGUETES DA FESTA DO SR. JESUS DOS PASSOS
Hoje vamos recordar aqui através desta pequena estória mais um
Montesarense, que deixou em todos nós imensa saudade o Ti Morais, bom homem,
que apesar dos muitos gélidos Invernos e abrasadores Verões passados nas
herdades do Xerez, Fonte Frades e Vaquinha foi para todos nós um exemplo de
longevidade, faleceu com noventa anos, deixando á uns anos atrás Monsaraz mais
pobre. Estimado por todos e de personalidade tão peculiar que ainda hoje se faz
alusão a algumas expressões tão características do Ti Morais. Quando atingida a
idade de reforma e abandonados os montes onde passara toda a sua vida, trouxe
consigo para Monsaraz o fiel e inseparável companheiro Rabolista, cão de gado,
de porte médio, pelagem cinzento-escuro, raça indefinida, mas a fazer lembrar
um cão de fila. Habituado á vastidão das planícies Alentejanas onde os únicos
ruídos era os chocalhos das vacas, ou algum assobio mais estridente do seu dono,
teve o pobre bicho alguma dificuldade de adaptação á vida de vila,
principalmente no período das festas anuais, onde desaparecia sempre por um período
de quatro ou cinco dias, só regressando no final das mesmas, quase todos os
cães tem medo dos foguetes mas o Rabolista não tinha medo, o Rabolista entrava
completamente em pânico. As festas de Monsaraz são sempre no segundo Domingo de
Setembro e é sempre na quinta-feira que antecede esse Domingo que chega o fogo
de artificio e se veste o Sr. dos Passos, tradições que se cumprem á seculos,
nesse ano nessa quinta-feira estava o Ti Morais e alguns Montesarenses mais,
sentados na muralha ao fresco, á Porta da Vila, não sendo ainda dia de festa
estava o Rabolista completamente distraído dormitando junto aos pés do seu dono.
Era um fim de tarde quase noite e no ar já se respirava festa, quando passa por
eles a camioneta que transportava o fogo, alguém de entre o grupo e porque era
conhecido o pânico do Rabolista aos foguetes exclamou, Uiii!!! Se o Rabolista
soubesse o que ai vai não estava a dormir tão descansado!!! Já tiraram o
sossego ao pobre animal, acrescentava outro também ele conhecedor daquele ponto
fraco do Rabolista. Ò Rapazes se vocês vissem este cão agarrado ao rabo de uma
vaca nem acreditavam, não havia vaca ou touro que lhe metesse medo, na vacada
da herdade da vaquinha havia lá um toro Salamanquino que o gajo era velhaco, o
moiral que estava lá antes de eu para lá ir que era o Chico da Amieira, chegou
a dormir encima dos chaparros com medo do bicho, o gajo de noite procurava a
cama do moiral - ó Ti Morais não me diga que também dormia encima dos Chaparros?
Perguntava um dos mais novos de entre os presentes, olha rapaz não dormia,
porque eu tinha o Rabolista capaz de enfrentar o touro até às ultimas
consequências para me defender, isto era um cão valente, dizia o Ti Morais tentando
salvar a honra do seu fiel amigo, bha… tão valente tão valente que assim que
deitarem um foguete nunca mais miguem o vê, dizia outro dos presentes, lá isso
é verdade, dizia o Ti Morais só agora desde que veio para Monsaraz é que ficou
meio mariquinhas e até dos foguetes tem medo concluía, é lá Ti Morais o vir
para Monsaraz não faz ninguém mariquinhas, dizia um que também tinha chegado á
uns anos atrás á vila, bem não sejam maldosos que vocês sabem o que quis dizer
dizia o Ti Morais. Tradições são tradições e aqui era e continua a ser, sempre
que descarregado e arrumado o fogo de artificio, lançado um foguete que todos
os Montesarenses sabiam significava precisamente isso, que havia chegado o fogo
e que as festas estavam aí, só o Rabolista foi apanhado completamente de
surpresa, e que foi de tal ordem QUE, IGNORANDO COMPLETAMENTE O QUE ESTARIA NO
VAZIO DO OUTRO LADO DA MURALHA, MAS POR MUITO MAU QUE FOSSE SERIA SEGURAMENTE
MELHOR QUE AQUELA COISA QUE, FAZIA SHE…..PUM….. ATIROU-SE DA MURALHA PARA
BAIXO. Apesar da altura ser
bastante, apareceu um dia ou dois depois do final das festas felizmente sem
mazelas de maior. Obrigado Manuel, obrigado João Jacinto e
obrigado Tonhico pela autorização para publicar esta pequena estória. Recordar
as nossas gentes é uma forma de homenageá-los.
"Autor texto e fotos Isidro Pinto" para Monsaraz a Caminhar
"Autor texto e fotos Isidro Pinto" para Monsaraz a Caminhar
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