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quinta-feira, 5 de setembro de 2019

AS NOSSAS GENTES - O RABOLISTA E OS FOGUETES DA FESTA



O RABOLISTA E OS FOGUETES DA FESTA DO SR. JESUS DOS PASSOS


Hoje vamos recordar aqui através desta pequena estória mais um Montesarense, que deixou em todos nós imensa saudade o Ti Morais, bom homem, que apesar dos muitos gélidos Invernos e abrasadores Verões passados nas herdades do Xerez, Fonte Frades e Vaquinha foi para todos nós um exemplo de longevidade, faleceu com noventa anos, deixando á uns anos atrás Monsaraz mais pobre. Estimado por todos e de personalidade tão peculiar que ainda hoje se faz alusão a algumas expressões tão características do Ti Morais. Quando atingida a idade de reforma e abandonados os montes onde passara toda a sua vida, trouxe consigo para Monsaraz o fiel e inseparável companheiro Rabolista, cão de gado, de porte médio, pelagem cinzento-escuro, raça indefinida, mas a fazer lembrar um cão de fila. Habituado á vastidão das planícies Alentejanas onde os únicos ruídos era os chocalhos das vacas, ou algum assobio mais estridente do seu dono, teve o pobre bicho alguma dificuldade de adaptação á vida de vila, principalmente no período das festas anuais, onde desaparecia sempre por um período de quatro ou cinco dias, só regressando no final das mesmas, quase todos os cães tem medo dos foguetes mas o Rabolista não tinha medo, o Rabolista entrava completamente em pânico. As festas de Monsaraz são sempre no segundo Domingo de Setembro e é sempre na quinta-feira que antecede esse Domingo que chega o fogo de artificio e se veste o Sr. dos Passos, tradições que se cumprem á seculos, nesse ano nessa quinta-feira estava o Ti Morais e alguns Montesarenses mais, sentados na muralha ao fresco, á Porta da Vila, não sendo ainda dia de festa estava o Rabolista completamente distraído dormitando junto aos pés do seu dono. Era um fim de tarde quase noite e no ar já se respirava festa, quando passa por eles a camioneta que transportava o fogo, alguém de entre o grupo e porque era conhecido o pânico do Rabolista aos foguetes exclamou, Uiii!!! Se o Rabolista soubesse o que ai vai não estava a dormir tão descansado!!! Já tiraram o sossego ao pobre animal, acrescentava outro também ele conhecedor daquele ponto fraco do Rabolista. Ò Rapazes se vocês vissem este cão agarrado ao rabo de uma vaca nem acreditavam, não havia vaca ou touro que lhe metesse medo, na vacada da herdade da vaquinha havia lá um toro Salamanquino que o gajo era velhaco, o moiral que estava lá antes de eu para lá ir que era o Chico da Amieira, chegou a dormir encima dos chaparros com medo do bicho, o gajo de noite procurava a cama do moiral - ó Ti Morais não me diga que também dormia encima dos Chaparros? Perguntava um dos mais novos de entre os presentes, olha rapaz não dormia, porque eu tinha o Rabolista capaz de enfrentar o touro até às ultimas consequências para me defender, isto era um cão valente, dizia o Ti Morais tentando salvar a honra do seu fiel amigo, bha… tão valente tão valente que assim que deitarem um foguete nunca mais miguem o vê, dizia outro dos presentes, lá isso é verdade, dizia o Ti Morais só agora desde que veio para Monsaraz é que ficou meio mariquinhas e até dos foguetes tem medo concluía, é lá Ti Morais o vir para Monsaraz não faz ninguém mariquinhas, dizia um que também tinha chegado á uns anos atrás á vila, bem não sejam maldosos que vocês sabem o que quis dizer dizia o Ti Morais. Tradições são tradições e aqui era e continua a ser, sempre que descarregado e arrumado o fogo de artificio, lançado um foguete que todos os Montesarenses sabiam significava precisamente isso, que havia chegado o fogo e que as festas estavam aí, só o Rabolista foi apanhado completamente de surpresa, e que foi de tal ordem QUE, IGNORANDO COMPLETAMENTE O QUE ESTARIA NO VAZIO DO OUTRO LADO DA MURALHA, MAS POR MUITO MAU QUE FOSSE SERIA SEGURAMENTE MELHOR QUE AQUELA COISA QUE, FAZIA SHE…..PUM….. ATIROU-SE DA MURALHA PARA BAIXO. Apesar da altura ser bastante, apareceu um dia ou dois depois do final das festas felizmente sem mazelas de maior. Obrigado Manuel, obrigado João Jacinto e obrigado Tonhico pela autorização para publicar esta pequena estória. Recordar as nossas gentes é uma forma de homenageá-los.


"Autor texto e fotos Isidro Pinto" para Monsaraz a Caminhar

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