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quinta-feira, 7 de novembro de 2019

A LENDA DO TESOURO REAL ESCONDIDO EM MONSARAZ


História, lendas e tradições da Villa de Monsaraz


A lenda do tesouro real, escondido na Villa de Monsaraz

A Vila de Monsaraz foi conquistada aos mouros por Geraldo Sem Pavor, no ano de 1167, sem dificuldade, devido à sua tática de surpresa, neste caso, foi escolhida uma noite de invernia, de chuva torrencial e de escuridão, encostaram as suas célebres escadas às muralhas, subiram sorrateiramente e, eliminaram as sentinelas que, não conseguiram dar o alerta! Depois, abriram as portas, permitindo a livre entrada  dos homens de armas e a fortaleza foi tomada! Porém, as tropas do Califa de Córdova vieram em auxílio dos Almóadas e, reconquistaram todas as terras do vale do rio Guadiana, incluindo a Vila de Monsaraz e, só em 1232 D. Sancho II, com a ajuda dos cavaleiros da Ordem do Templo, também designados Templários,  reconquistou, definitivamente estas terras!

O domínio do rei Almóada Muzaffar sobre Badajoz, capital do seu reino, terminou, definitivamente com a tomada desta fortaleza pelo rei Afonso IX de Leão, em 19 de Março de 1230, obrigando à fuga do rei e sua Corte para o Castelo de Mira Flores na Vila de Alconchel!

A Corte do rei Muzaffar ficou residente neste Castelo cerca de um ano, quando começaram a surgir ameaças na região com a aproximação dos seus inimigos o rei reuniu o Conselho de Guerra para fazer a avaliação da defesa e delinear estratégias de ataque contra os portugueses e castelhanos, no sentido de reconquistar as suas terras, mas face às notícias que chegavam, concluíram que, podia haver um cerco ao Castelo de Miraflores, onde não conseguiam aguentar mais de um mês sem rendição e, sabiam que era necessário mais do que esse tempo até à chegada de reforços do Califado de Córdova!

Após a avaliação das fortalezas da região que, ainda lhe restavam, o rei Muzaffar deixou cair os braços desanimado, porque nenhuma oferecia as condições necessárias! Porém, naquele momento, um dos seus mestres de guerra, pediu licença para falar, levantou os olhos, estendeu o braço direito e, com o dedo indicador apontado disse:

- Rei meu senhor, está na nossa frente, a única fortaleza da região que, abastecida de água e mantimentos, pode suportar um cerco o tempo suficiente até à chegada do auxílio de Cordova!

O rei ficou surpreendido, virou-se e fitou os olhos nas alturas de Monsaraz, entretanto, já os seus mestres de guerra abanavam a cabeça em sinal afirmativo! O rei compreendeu que eles tinham razão e mandou preparar a Corte e as suas tropas para partirem no dia seguinte para a Vila de Monsaraz!

Como todos os reinos, também o do rei Muzaffar tinha o seu tesouro, constituído por muito dinheiro, em dirrãs, dinares de ouro, peças em ouro, pratas, jóias e pedras preciosas que, em caso de fuga, como esta, os acompanhava, bem guardado por homens da sua confiança, os chamados guadiões do tesouro do reino, que davam a sua vida não só pela família real, mas também por aquele tesouro!

A Corte do rei Muzaffar do reino mouro de Badajoz, estava instalada na airosa Vila de Monsaraz, onde a Família Real passava o tempo muito serenamente! As notícias que chegavam sobre as tropas portuguesas não constituíam ameaça, diziam que, eram constituídas por poucos homens e mal preparados e, as castelhanas mais temidas, andavam em combates na mata de Montiel em Toledo, muito longe da Vila de  Monsaraz, entretanto, o rei Muzaffar continuava a reforçar as suas tropas com homens do seu exército que, tinham andado perdidos na região e que conseguiam chegar a Monsaraz, acalentando a esperança de se lançar na reconquista de algumas fortalezas que estavam na posse do rei português D. Sancho II, como Elvas, Olivença, Juromenha e outras, depois, talvez a ex capital do reino, a sua saudosa, Badajoz!

No Domingo, dia 29 de Agosto de 1232, decorria mais uma grandiosa festa na Corte em Monsaraz, quando chegou um cavaleiro, espião do rei Muzaffar a informar que, o exército português tinha sido reforçado com centenas de cavaleiros da Ordem do Templo, monges guerreiros muito temidos pelos mouros, devido à sua bravura e ao uso de novas estratégias de combate, com catapultas, com as quais desmoronavam qualquer muralha, lançando grandes pedras e, tudo o que pudesse infetar e aniquilar os sitiados, não havendo praça que suportasse o seu cerco por muitos meses, eram considerados invenciveis!

O rei Muzaffar mandou terminar a festa e convocou o Conselho de guerra! Quando o espião, cavaleiro mouro, explicou como estavam a ser reforçadas as tropas portuguesas, ficaram aterrorizados e decidiram escolher seis bons cavaleiros e os melhores ginetes para irem, imediatamente a Córdova pedir auxílio ao Califa, cedendo-lhe tudo o que ele exigisse, em troca da sua ajuda no combate aos inimigos, cristãos!

O Regimento de D. Sancho II, saiu de Elvas recebendo companhias de outras praças da raia, desceram pela linha do rio Guadiana, aumentando as hostes à medida que desciam, incluindo a cavalaria dos Templários e de outras Ordens militares!

Assim que, as tropas portuguesas iniciaram a sua movimentação, o rei Muzaffar foi logo informado sobre a sua força, por onde seguiam, a sua direção, o número aproximado de cavalos, de homens, como estavam armados, que apoios tinham em termos de mantimentos, de todos os pormenores!

O rei Muzaffar tinha os seus espiões no terreno, junto das tropas portuguesas, alguns disfarçados de almocreves e, todos diziam que, o destino dos portugueses era, sem dúvidas, a Villa de Monsaraz, então, o rei mandou que viessem os melhores guerreiros das praças de Mourão, Noudar, Moura e Serpa, deixando aquelas fortalezas vulneráveis a um eventual ataque dos portugueses, mas faziam falta para defender Monsaraz, depois de derrotar os portugueses logo voltariam aos seus postos, mandaram abrir trincheiras, covas de lobo e reforçar as muralhas, abasteceram a Vila de água da Fonte do Telheiro, de mantimentos e de tudo o que pudesse servir de defesa, porém, o exército de D. Sancho II que seguia na direção de Monsaraz passou ao lado, sem mostrar nenhum interesse por esta fortaleza!

O rei Muzaffar e seus mestres de guerra, ficaram irritados, porque pensaram ser uma manobra de diversão do rei português para os tentar enganar, achavam-se muito espertos e, decerto, queriam dar a entender que não estavam interessados em atacar Monsaraz, mas depois atacavam de  surpresa, mas desta vez, seriam surpreendidos, porque as tropas do rei Muzaffar estavam bem preparadas para os surpreender, em lugares estratégicos, bem armados, sobre ordens rigorosas de não sair dos seus lugares por motivo algum! Porém, todos os espiões que chegavam a Monsaraz davam a mesma informação, as tropas portuguesas estavam cada vez mais longe, mas isso não demovia o rei de alterar a estratégia que tinha planeado, porque estava convencido que era uma armadilha dos portugueses!

D. Sancho II, sabia das manobras do rei Muzaffar, quanto à sua estratégia de defesa da fortaleza de Monsaraz e que seria difícil ser auxiliado pelo Califado de Córdova ou outro qualquer reino mouro, uma vez que, os castelhanos lhe cortavam todos os caminhos, por isso, pensou enganá-lo, deixando esta praça para trás e, atacar, Noudar, Moura, Serpa e Mourão! Assim, o Regimento de D. Sancho II, incluindo as Ordens militares, rapidamente conquistaram estas praças que, ofereceram pouca resistência, uma vez que, os seus melhores guerreiros estavam em Monsaraz!

Quando o rei Muzaffar se apercebeu que tinha sido enganado pelos portugueses, já era tarde, como esperava o ataque à Vila de Monsaraz, já não foi a tempo de movimentar as suas tropas em auxílio daquelas praças!

Foi grande desânimo, ao mesmo tempo chegavam más notícias ao rei Muzaffar, em relação aos homens que tinha enviado a Córdova, os mesmos, não tinham lá chegado, tinham sido capturados pelos castelhanos, por isso, não havia esperança em receber auxílio daquele Califado!

Entretanto, as tropas portuguesas que, estavam pelas fortalezas de Serpa e Moura, preparavam-se para marchar sobre a Vila de Monsaraz, a qual, podia resistir alguns dias ou até meses, mas sem receber reforços, mais cedo ou mais tarde caía na posse dos cristãos que, decerto, não poupavam a vida do rei nem da família Real, então, em Conselho de guerra foi decidido que a Corte devia partir para o Reino do Al-Gharb Al-Àndalus, o único lugar seguro em todo o território do Al-Andaluz!

No Conselho de guerra, ainda foi colocada a hipótese de enfrentarem os Cristãos em campo aberto, nas margens do rio Guadiana, mas após a avaliação do Regimento do rei português e que, a todo o momento podia receber reforços, rapidamente concluiram que, era impossível, mas o rei não queria fugir para outro reino sem lutar, era cobardia, uma vergonha perante o rei mouro da cidade de al-Shilb (Silves),  onde tinham decidido ser o seu refúgio, por isso, o rei ainda esperou alguns dias na esperança que surgisse alguma alternativa de defesa!

Porém, passados alguns dias, o rei Muzaffar foi informado que, as hostes portuguesas, aproximavam-se da Villa de Monsaraz em grande força, sendo impossível fazer-lhe frente, por isso, foi decidido que o rei e a família Real tinham de fugir o mais brevemente possível!

Na Corte do rei Almóada, começaram os preparativos da partida e, secretamente na noite marcada desceram a ladeira de Monsaraz, em cavalos, mulas e burros, na direção da foz da Ribeira do Azevel no rio Guadiana, passaram para a outra margem e seguiram o mais afastados possível das praças ocupadas pelos portugueses, longe das tropas portuguesas, livres de embaraços, levando só o essencial, mas não puderam levar o tesouro real, era um grande risco, decidiram que ficava mais seguro escondido na Vila de Monsaraz e, quando reconquistassem estas terras, ali o tinham todo seu!

Na noite anterior à sua partida, o rei entregou o tesouro aos guardiões do mesmo, e disse-lhe que, o queria enterrado, bem fundo, no seguinte lugar: A partir da porta da Grande Mesquita, contavam cinquenta passos para o meio dia, desenhavam aí o Quarto Crescente, virado para Nascente, escavavam dentro um falso túmulo, depois, contavam mais cinquenta passos para Nascente, escavavam uma cova bem funda, metiam lá o tesouro e faziam uma muralha com dois metros de largura e três de altura, ligada à muralha da fortaleza, para dar a ideia que a sustentava e esta, ficava mesmo por cima do tesouro!

Depois da fuga do rei Muzaffar, a Vila de Monsaraz ficou defendida pelos seus mestres de guerra e suas tropas, bem armados e com ordens do rei de nunca se renderem aos portugueses, deixando a promessa que voltaria em seu auxílio ao comando de um grande exército, reconquistando todo o seu reino de Badajoz e todos seriam recompensados!

Na terça feira, dia 12 de Outubro de 1232, quando a noite começou a dar lugar ao dia, já a fortaleza de Monsaraz estava completamente cercada, havendo nas suas imediações, longe das flechas disparadas pelos Almóadas e das covas de lobo, grande movimentação de homens e animais, escolhendo as melhores posições de defesa e de ataque e os lugares para instalar as temíveis máquinas de guerra, constituídas por catapultas e outros instrumentos que serviam para o desmoronamento das muralhas!

A conquista da Vila de Monsaraz foi muito difícil, devido à sua situação geográfica e à resistência dos Almóadas que, combateram até à morte, sempre na esperança de ver chegar o seu rei à frente de um grande exército, como lhe tinha prometido, mas nos finais do mês de Novembro de 1232 os portugueses e as Ordens Militares, entraram triunfantes na fortaleza de Monsaraz!

Esta vitória, não teve o fim esperado, porque os portugueses foram enganados pelos Almóadas, o rei não estava na Vila de Monsaraz, nem o seu tesouro ao seu dispor, por isso, o saque foi muito fraco, apenas existiam os poucos haveres do pobre povo!

O rei Muzaffar e sua Corte, com algumas dificuldades, conseguiram chegar ao Reino do Al-Gharb Al-Àndalus, refugiaram-se em al Shilb, (Silves), onde, ele acabou os seus dias, aí faleceu dois anos antes da conquista desta praça forte em 1249, pelo português D. Paio Pires Correia!

Após a conquista, a Vila de Monsaraz ficou na posse da Ordem dos Templários, pairando sobre ela muita paz, por isso, os guardiões do tesouro, voltaram disfarçados de almocreves, a vender sal, mel, peixe seco e outros produtos do Al-Garb, com o olho no tesouro, a sua missão era saber se os portugueses o tinham descoberto, como também, das possibilidades de o recuperar! Alguns guardiões, com receio de serem aniquilados devido ás más notícias que levariam ao rei Musaffar, ficaram para sempre a residir em Monsaraz, sonhando com o desmoronamento da grande muralha e de poderem recuperar para eles o tesouro real, esquecendo a lealdade para com o seu rei!

A muralha que estava sobre o tesouro do rei Musaffar, foi destruída no momento da conquista da fortaleza, depois, quando as muralhas foram reconstruídas, os Templários interrogaram-se sobre o que fazia ali aquela muralha, não percebiam o motivo da sua implantação naquele lugar, mas todos foram unânimes em a mandar levantar, porque se ela ali estava, era porque fazia falta, decerto era muito importante em termos de defesa e, não estavam esquecidos de quanto tinha custado destruí-la com as catapultas, então, decidiram aumentá-la para o dobro da largura, mantendo a mesma altura!

Esta robusta muralha, ainda se encontra erguida na Vila de Monsaraz, sem ninguém perceber porque motivo foi edificada naquele lugar! Dizem que, apoia a outra muralha, mas também dizem que, é a outra muralha que apoia esta e, todos/as dizem que, se ela lá está, é porque faz lá falta!

Conforme a lenda, o tesouro do rei Muzaffar do reino Almóada de Badajoz, está escondido na Villa de Monsaraz, protegido por esta grande muralha.

Fim
"Texto e foto de Correia Manuel" para Monsaraz a Caminhar

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