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quarta-feira, 30 de outubro de 2019

A PEREIRINHA E O BALÃO DO S. SEBASTIÃO



A PEREIRINHA E O BALÃO DO S. SEBASTIÃO




O Telheiro durante toda a primeira metade do século XX e até á década de 60/70 era sem dúvida alguma, a mais próspera aldeia da freguesia, tendo como tal, umas festas anuais capazes de rivalizar, ou ate suplantar quaisquer outras festas.
Tendo como padroeiro o S. Sebastião, sempre se realizavam a 20 de janeiro, não obstante ser inverno, sempre juntavam muita gente, quer vindas de outras aldeias da freguesia quer de freguesias vizinhas.
Tal como á época era hábito, também no Telheiro o culminar do fogo-de-artifício se fazia com o lançamento do balão.
Nessa época e que ninguém fique chocado, não havia luz elétrica nem agua canalizada, o que de alguma forma inviabilizava o ter casa de banho, ricos e pobres, todos tinham que fazer as suas necessidades fisiológicas no bacio (vulgo penico) ou, quando existia quintal, num local determinado deste, a que normalmente se chamava estrumeira, já que acumulava também outros detritos quer de animais, quer vegetais, ao ato de ir fazer as necessidades, utilizava-se muito o termo de IR-SE AGACHAR (ainda hoje essa expressão se utiliza muito entre as gentes mais velhas) e até nos trabalhos agrícolas, quando se dava por a falta de alguém e o manajeiro perguntava, logo os colegas diziam, a fulana ou o fulano foi-se agachar para detrás daquelas rochas, ou seja foi fazer as suas necessidades.
Nesse ano e a semelhança de todos os outros, corriam de feição as festas do Telheiro, que apesar de ser inverno não havia chovido permitindo assim, que todas as damas mostrassem os seus lindos vestidos e echarpes, e os homens os tradicionais capotes alentejanos onde apenas a gola definia os diferentes extratos sociais sendo as de raposa as da classe mais abastada.
Era sábado á noite e o leilão das fogaças, constituídas na sua grande maioria por enormes ramos de laranjas, oriundos das hortas da pega, tinha sido proveitoso.
Aproximava-se a hora do fogo-de-artifício e o respetivo lançamento do balão. O Telheiro não tinha propriamente um largo e era na ramificação das ruas, junto á casa dos Galegos que se fazia o arraial, muito próximo da casa onde onde vivia a ti Pereirinha e o marido Benvindo, como a noite já ia avançada e não sendo eles um casal de grandes festanças, á muito que se haviam recolhido.
Mais foguete menos foguete e era hora de lançar o balão, tarefa que nem sempre era bem-sucedida, sendo por isso momento de grande expectação, segura daqui levanta de ali e lá ia tudo ajudando a erguer o balão, enquanto o mestre fogueteiro, colocava a armação de arame que havia de levar a mexa que iria produzir o ar quente necessário para a subida, depois de um bom bocado ardendo com intensidade e á voz do fogueteiro LARGUEM todos largaram o balão, que velozmente subi-o empurrado pelos ventos fortes de poente, mas que depressa desapareceu, por entre os telhados circundantes, o que criou algum desnorte na assistência, correndo uns para baixo outros para cima, mas ninguém vislumbrava o balão, no meio de toda esta confusão surge de repente em roupas menores (combinação) a TI Pereirinha gritando AI QUEM ME ACODE!!! Logo a prioridade deixa de ser o balão e toda a gente se junta em volta da Pereirinha e esta continuava AI QUEM ME ACODE!!! Mas quem lhe acode o quê mulher? Gritavam alguns já impacientes, AI QUEM ME ACODE!!! Desembuche mulher, como quer que a gente lhe ajude se não passa disso, AI QUEM ME ACODE!!! ESTAVA AGACHADA no meu quintal, caiu lá um bocado do céu a arder FIQUEI TODA CHAMUSCADA!!! foi aí que alguns mais intrépidos, entraram portas dentro cujo enfiamento levava diretamente ao quintal, onde na referida estrumeira foram a encontrar o balão das festas a arder.
Episódios engraçados que fazem parte da história de uma comunidade
Obrigada Inácia Azevedo
"Texto de Isidro Pinto" para  Monsaraz a Caminhar

2 comentários:

  1. História engraçada e cheia de humor, pareceu-me já a conhecer, e admirei-me com isso, até que passadas horas se fe, luz !! Deve ter sido num livro que o meu amigo editou e me deu grande prazer ler. Parabens pela historia e pelo livro, e um abraço !!

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  2. 0 comentario acima é meu, nem sei pk saiu anonimo 🙁

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