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sábado, 5 de outubro de 2019

TONICO SARAMAGO E MANUEL OLIVEIRA AOS PATOS


Tonico Saramago e Manuel de Oliveira aos patos no Calvinos .



A caça á semelhança de muitas outras coisas sofreu nas últimas décadas grande evolução quer a nível de armas, de cartuchos e de todo o tipo de acessórios. Estaríamos talvez na década de sessenta, quando o Manuel Oliveira, ficou a saber que existiam patos de plástico, autênticas réplicas dos reais e que se destinavam a servir de chamariz para os outros. Porque á data era feitor no Roncanito resolveu nesse dia o Tonico Saramago (conhecido por todos nós com a alcunha do Siética) ir aos patos para as lagoas de Calvinos, tal como se impunha chegou por ali bem cedinho e com todo o esmero possível iniciou a construção do aguardo, (abrigo) cortou alguns ramos de freixo e com algumas varas de loendro e estevas foi dando forma aquilo que seria o seu esconderijo durante as próximas horas, havia que ficar bem feito já que os patos são extremadamente desconfiados e não podia correr o risco de ser visto, colheu mais umas varas de loendro e deu a construção por terminada, carregou para dentro todo o equipamento e certificou-se que nada que pudesse espantar os patos ficava á vista, era hora de preparar as negaças, patos de plástico comprados em Lisboa e aos quais havia que atar um bom bocado de fio de pesca para que fosse possível lança-los á água e posteriormente recupera-los, a manhã começava a clarear e adivinhava-se mais um dia de calor intenso próprio de Agosto no Alentejo um a um foi atando o fio e com a ajuda de uma vara comprida foi dispondo estrategicamente os patos dentro de água, por forma a que ficassem bem visíveis vistos do ar. Regressou ao aguardo tirou a espingarda de dentro da bolsa carregou-a e encostou-a a uma vara de loendro com uma pequena forca escolhida propositadamente para isso, tudo pronto pensou, só falta encontrar o apito que também lhe havia oferecido um amigo de Lisboa e que imitava na perfeição o quá quá característico dos patos, não foi difícil encontrar, já que sabia que devia estar no saco dos cartuchos, apenas faltava um pequeno pormenor, havia que pôr-lhe um bocado de fio para que pudesse pendura-lo ao pescoço e ficar mais perto da boca já que era um instrumento de sopro. A manhã já ia alta quando o Manuel Oliveira cansado de tanto esperar pelos patos decidiu abandonar o rudimentar abrigo que havia construído horas antes junto á lagoa comprida, toda a manhã tinha ouvido os patos na outra extremidade da lagoa e pelo barulho que faziam deviam estar por ali pousados, a distancia ainda era considerável talvez uns duzentos ou trezentos metros, decidiu arriscar por uma aproximação sorrateira pé ante pé, o caminho não era fácil mas servindo-se da vegetação existente lá foi avançando ao sabor das loendreiras, corricava de uma para outra tentando escapar ao ouvido e visão dos patos, quase a meio do percurso apercebeu-se que um pequeno grupo de patos passava por cima de si, ficou completamente imóvel e quase se cozeu ao chão numa tentativa de não ser visto, ouviu novamente o quá quá característico dos patos e pensou, são os que estão dentro de água que estão a chamar estes, talvez quando chegue por ali estejam todos pousados e seguramente mato um ou dois, avançava agora ainda mais confiante já não tinha duvidas que estavam por ali, tinha ouvido perfeitamente e ficado com uma noção mais exata da distancia que os separava, os cuidados na progressão eram agora redobrados mais que a visão, a partir deste momento não podia fazer qualquer ruído, olhava sempre antes de pôr o pé não fosse algum pau de esteva seca deitar por terra todo este esforço, não tardou começou por ver um pato dentro de água, têm que haver mais pensou, avançou mais alguns metros e de facto mais três, assim sim! Mato um pousado e depois com um pouco de sorte pode ser que derrube outro, pontaria cuidada e PUM como era leve e de plástico o pato voou um metro ou dois á frente do tiro, coisa que desnorteou um pouco o Oliveira e muito mais quando os outros ficaram impávidos e serenos algo de anormal se passava, atónito com o que se teria passado, olhou os canos da espingarda pensando que algum bocado podia ter abalado, pois não encontrava explicação para tão estranho tiro, não tardou saltou o Saramago do aguardo, GRITANDO O SUA BESTA VOCÊ NÃO VÊ QUE OS PATOS SÃO DE PLÁSTICO. O Oliveira tentando explicar o inexplicável argumentava, de plástico???? MAS EU ATÉ OS OUVI FAZER QUÁ QUÁ, QUÁ QUÁ FAZIA EU COM ESTE APITO SEU PALERMA dizia o Sietica. Durante muitos anos este episódio foi motivo de brincadeira com o Oliveira, principalmente no convívio das tabernas, onde havia sempre algum engraçadinho que se lembrava dos patos do Calvinos. Obrigado á família de ambos pela autorização para a publicação desta estória.
FIM
“Foto e texto. Isidro Pinto” Para Monsaraz a Caminhar

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