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sábado, 18 de janeiro de 2020

SERRANO E A FUROA BRANQUINHA DO LUMUMBA


Serrano e a furoa branquinha do Lumumba




Muitas são as estórias que me recordo mas sem dúvida que aquele que mais as protagonizou foi o Serrano, homem simples a quem a sorte nem sempre bafejou. Trabalhador rural exemplar, exímio executante da poda do olival, talvez pela amizade e admiração que ele tinha pelo meu pai sempre recordo o Serrano com muito carinho, bom homem, amigo de todos e muito estimado pela comunidade Montesarense. Muitas são as histórias que se contam dele mas uma das que eu acho mais pitoresca é sem dúvida a do furão, era um fim de tarde de um Dezembro já adiantado e como era hábito nesse tempo vinha-se diretamente da caça para a taberna não era necessário bolsa para as espingardas e muito menos cadeados e não me recordo do mais pequeno incidente com armas nessa época, eram outros tempos, hoje há uma autentica perseguição a quem quiser possuir ou transportar legalmente uma arma, nesse dia provavelmente com alguma sorte já que constava que não era grande atirador trazia o Serrano dois ou três coelhos, a taberna estava quase cheia era a hora do vinho do trabalho, e, Monsaraz nessa época tinha muita gente, o Serrano entrou, tirou de tiracolo a velhinha espingarda que teve o cuidado de abrir e encostar a um canto da taberna, as pernas cansadas pelo calcorrear das Lameiras e serra do Xerez pediam-lhe um lugar sentado, alguém lhe cedeu um lugar numa das pequenas mesas encostadas á parede do lado esquerdo, tirou a cartucheira de onde jaziam pendurados os três coelhos e dispôs-se a abrir o pequeno talego que levara com a merenda onde havia sobrado um pouco de toucinho e um pequeno naco de pão, para acompanhar pediu um copo de vinho, ao balcão, além de muitas outras pessoas estavam também dois guardas da venatória sendo um deles o Ferreira, amigo pessoal do taberneiro Lumumba e conhecido ali de quase todos os presentes, um copo e outro copo e a noite foi chegando, as interpelações ao Serrano eram constantes, alguém dizia, três coelhos para o Serrano só se foi de furão, livra nem pensar, respondia o Serrano, um copo mais e alguém voltava novamente á carga questionando a origem dos coelhos, depois de alguns copos a bexiga já pedia uma ida á casa de banho que neste caso ficava no outro estremo da casa depois de passar o restaurante, longe de imaginar o que lhe iriam fazer dirigiu-se o nosso amigo Serrano á casa de banho tendo ficado por lá um bom bocado. Regressado ao convívio da taberna alguém voltou a insistir na história do furão desta vez é o Lumumba que também diz que três coelhos só de furão, ó Ferreira você como autoridade podia-o revistar e ver se ele fala verdade dizia outro, fazendo jus á sua idoneidade logo se prontificava o Serrano para ser revistado, ó Serrano você importa-se que eu o reviste, dizia o Ferreira, de quê !!!! dizia o Serrano, á vontade, e de imediato se levantou, pronto par a revista e desejando que terminasse aquele clima de suspeição, começou a revista pelos bolsos do casaco que nada de anormal revelaram, toda a taberna estava presa ao desenrolar dos acontecimentos, já agora se não se importa deixe-me lá ver a talega da merenda insistia o Ferreira, sabendo o que se passava pegou nela com algum cuidado abriu-a, meteu a mão dentro, e como que se de um truque de ilusionismo se tratasse tirou de lá uma furoa branquinha, incrédulo o nosso amigo Serrano nem queria acreditar que alguém tivesse tido a coragem de lhe fazer tamanha maldade, nesse momento o seu grande desejo era vingar-se de ato tão ignóbil que o havia desacreditado e exposto a possíveis sanções legais perante tamanha assistência, despiu o casaco que com um gesto brusco atirou para um canto da taberna e dispôs-se para a luta, se é homem que salte prá qui o gajo que me fez isto exclamou!!!!!. Só depois de exaustiva explicação do seu grande amigo Lumumba as coisas acalmaram, já que havia sido este que aproveitando a sua ausência quando da ida á casa de banho, tinha tramado tudo indo buscar a sua furoa branquinha. Ó sócio (já que assim se tratavam em virtude da espingarda com que o Serrano caçava ser emprestada pelo Lumumba) agora pago eu uma rodada e fazemos as pazes exclamava o Lumumba, também está bem, respondia o Serrano, e rapidamente a taberna voltou ao são e fraterno convívio que á época se vivia. Partiu á uns anos atrás deixando Monsaraz mais pobre. 
"Foto e texto: Isidro Pinto"
A imagem pode conter: pessoas sentadas, mesa e interiores

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