Pesquisar neste blogue

sexta-feira, 24 de julho de 2020

VACA BRAVA NO FERRAGUDO

VACA BRAVA NO FERRAGUDO




Era uma noite de verão de meados Agosto quando o Chico Móca se lembrou que ao sol-posto tinha visto entrar alguns pardais para o beiral do seu telhado, morava na casa dos seus pais que penso ainda hoje lhe pertence entre o Zé Fortunato e a ti Maria Russa. Do outro lado da estrada e depois de terminado o acentuado desnível existente, morava a ti Mariana Canuda e o marido António João Chato que sendo pequenos seareiros eram simultaneamente proprietários do forno que sendo privado tinha funções comunitárias, servia para toda a gente cozer o pão a troco do pagamento em trigo ou com o próprio pão, analisada as hipóteses de caçada decidimos não avançar essa noite, havia que comprar pilhas para as lanternas e principalmente avisar o ti Manel da Barrada mais a ti Maria Ramalha pais do Chico Moca do que se iria passar, não fossem eles apanhar um valente susto ao ouvir mexer no telhado, já que á época quase todos eles eram de telha vã ou na melhor das hipóteses de caniço. Reunimos no alto do Ferragudo como era hábito, da horta da coutada já havia chegado o Manel Rela, do outro lado da estrada o Armando e o Zip assim alcunhado porque á época existia o conhecido concurso televisivo com o mesmo nome, cujo símbolo era um bonequinho com uma grande trunfa (cabeleira) a fazer lembrar a do Zip na época, porque jantava um pouco mais tarde também se atrasou o Relâmpago exímio executante da velocidade na arte de andar de motorizada o que lhe valeu a alcunha, com uma desculpa aceite por todos chegava em ultimo o Móca tinha ficado para trás a ver entrar os pardais par o beiral, eram muitos dizia ele, por isso a expectativa era grande, por unanimidade resolvemos optar por outros passatempos primeiro e só já serão avançado iríamos aos pardais. Chegada a hora apanhámos as lanternas e já perto da meia-noite descemos os escassos metros que nos separavam da curva da estrada, do lado oposto a casa do Moca e apenas com a estrada de permeio ainda hoje existe uma centenária oliveira que em noites de luar projeta a sua sombra sobre o alcatrão, do mesmo lado da casa e um pouco mais abaixo começavam as varandas, que no seu inicio não terão mais que 40 ou 50 centímetros de altura, feito o reconhecimento decidimos avançar, havia que tentar fazer o menor barulho possível, a parede não era muito alta por isso tinha-mos decidido que não era necessário escada, bastaria um ás cavalitas de outro para conseguir chegar ao beiral, com imenso cuidado e amparados pela própria parede lá fui eu com o zip ás cavalitas tentando elevá-lo até á altura do beiral, o que tinha a lanterna afastou-se um pouco mais para ganhar ângulo e segundo as indicações gestuais do Moca lá íamos metendo a mão nos buracos e apanhando alguns pássaros, tudo decorria normal até que como que pressentindo algo atrás de si o que tinha a lanterna virou-a na direção da oliveira e tentando fazer o menor barulho possível exclamou, olhem lá o que está ali !!! na sombra da oliveira e apenas á distancia da largura da estrada completamente expectante olhando para nós uma vaca brava, ainda com as bolas ( proteção em cabedal usado no gado bravo para saírem á arena) metidas como se tivesse acabado de sair á arena, um turbilhão de coisas nos passou pela cabeça, o primeiro a entrar em pânico foi o Zip, não porque tivesse mais medo que nós mas porque á altura que estava e devido ao precário equilíbrio rapidamente se imaginou a bater com os canastros no chão, e, supostamente a ser apanhado pela vaca, o segundo fui eu que com o Zip ás cavalitas também não iria muito longe e seria seguramente apanhado, felizmente ninguém fugiu até que eu para reduzir a altura fleti um pouco as pernas para tentar desapear o zip, ambos nos desequilibramos e foi de gatas e ao trochos mochos que todos conseguimos chegar ao inicio das varandas com escassos centímetros de vantagem sobre a vaca, já que esta investiu contra nós quando fugimos, uma vez aí e já com relativa segurança das varandas fizemos uma pequena tourada com várias investidas do bicho, voltou para trás até desaparecer no escuro junto ao posto da guarda fiscal do Telheiro. Até hoje não sabemos de onde veio nem para onde foi o dito animal.


Gostaria de dedicar este pequeno episódio ao nosso amigo Armando Oliveira infelizmente já desaparecido, e dizer-lhe que não contei a estória que ele queria que eu contasse, mas que contei esta, e contarei muitas outras onde ele também foi protagonista, que descanses em paz Armando.


“Fotos e texto: Isidro Pinto”




Sem comentários:

Enviar um comentário