Pesquisar neste blogue

quinta-feira, 5 de maio de 2022

A LENDA DA MOURA ENCANTADA E DO AJUDA DE GADO DE MONSARAZ

 A lenda da moura encantada e do ajuda de gado de Monsaraz




Numa noite de São João, nos tempos de outrora, quando o Manuel Sarugas seguia em passo largo para se preparar para o baile, antes de entrar na Vila de Monsaraz, ouviu chamar pelos seu nome e pensou que era alguma vizinha ou familiar que também se dirigia para sua casa, mas assim que virou a cabeça, ficou abismado e exclamou: - Meu Deus, que mulher tão linda!
A mulher misteriosa que o chamava, estava em pé em cima de uma rocha a sorrir e envolvida por um suave e brilhante nevoeiro dourado e pediu-lhe para se aproximar, depois disse-lhe que se chamava Zaya e que era princesa moura, do Reino de Badajoz que, como outras mouras, esteve refugiada na Vila de Monsaraz, o último bastião do seu Reino, a cair nas mãos dos cristãos e contou-lhe que tinha sido encantada pelo seu pai naquele lugar para não se tornar escrava dos cristãos, por isso, pediu-lhe para a desencantar, porque ele tinha no bornal o que era necessário para o fazer e em troca recebia o tesouro que estava associado ao encantamento e ficava muito rico.
O Manuel Sarugas olhava para ela de boca aberta, por fim, disse-lhe que não acreditava em encantamentos de mouras, mas fosse como fosse, estava disposto a fazer tudo por ela, era só dizer-lhe o que tinha de fazer.
A princesa moura disse-lhe que, teria de lhe dar o pão que levava no bornal, mas antes, colocava-o em cima da rocha, à qual daria três voltas dizendo as palavras mágicas: “Zaya estás livre, leva este pão e vai para a moirama” e, em cada volta à rocha dava um beijo no pão, depois recebia o tesouro e seguia o seu caminho, mas sem olhar para trás, sem olhar para trás, senão o desencantamento ficava sem efeito, e por consequência ele ficava sem o tesouro e o encantamento seria dobrado, estas palavras foram repetidas duas vezes.
O Manuel Sarugas fez tudo o que a princesa lhe indicou e no final recebeu o tesouro, meteu-o no bornal e seguiu o caminho para casa, mas ficou de cabeça perdida por ela e lembrou-se que devia tê-la convidado para ir com ele ao baile, ou podia ter exigido, afinal era um rapaz rico e começou a imaginar que dançava com ela no baile de Monsaraz, tanto dançou até que fez um rodopio que o obrigou a olhar para trás.
Quando entrou em casa ia eufórico, gritando que estavam ricos, os pais e os irmãos olharam uns para os outros e pensaram que ele estava parvinho, mas ele exibiu o bornal e pediu que o alumiassem com a candeia, dizendo que, estava cheio de moedas de ouro, mas todos confirmaram que não era verdade, estava cheio, mas de pedacinhos de ferro.
O Manuel Sarugas tinha visto o seu bornal cheio de moedas de ouro, por isso, não acreditava no que estava a ver, então lembrou-se das palavras da princesa, “não podia olhar para trás” e ele ao fazer aquele rodopio na dança, tinha olhado para trás e passado os olhos pela rocha, tentando vislumbrar a princesa, por isso, estava visto que o desencantamento tinha ficado sem efeito e o ouro do tesouro tinha-se transformado em ferro.
O Manual Sarugas ficou revoltado e já não foi ao baile, correu à rocha da princesa a tentar emendar o seu erro, chamou, chamou, disse as palavras mágicas muitas vezes e andou em redor da rocha até se cansar, mas nada aconteceu, então, zangado, atirou os pedacinhos de ferro pela ladeira de Monsaraz, chegando alguns à Aldeia do Telheiro e, ainda hoje, por ali se encontram alguns pedacinhos ferrosos.
O Manuel Sarugas, voltou para o curral do gado e nunca mais ficou bom da cabeça, em todas as conversas envolvia a princesa moura, como se estivesse presente e passou as noites de São João do resto da sua vida a andar em redor da dita rocha, dizendo as palavras mágicas e a dar beijos num pão.
Quanto à princesa Zaya, parece que, continua encantada nessa rocha, debutando misticismo à entrada da Vila de Monsaraz.
Fim
Texto: Manuel Correia
Fotografia: Isidro Pinto

Sem comentários:

Enviar um comentário