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terça-feira, 30 de julho de 2019

FONTE DO TELHEIRO



FONTE DO TELHEIRO





Já que andamos falando de fontes hoje vamos falar de um dos ex-libris da nossa freguesia e de que tanto nos orgulhamos, a nossa FONTE DO TELHEIRO. A água era e é um bem vital, por isso muitas povoações cresceram à volta das suas fontes. Embora a data da sua construção aponte para o século XVIII com posterior reconstrução em 1930 ela é sem dúvida nenhuma com esta ou com outra forma muito anterior a isso, já que o chafariz que lhe fica anexo ficou concluído em 1422 conforme lápide existente no local que assinala a sua construção, por isso a primitiva fonte será no mínimo dessa época. Naquilo que é a minha memória e que vai até antes de haver água canalizada ela desempenhou um papel importantíssimo para as gentes do Ferragudo, Telheiro e Monsaraz muito embora para estes últimos não fosse uma das suas fontes de eleição já que preferiam o Roxo, as Brites ou o Pocinho do Rossio. Foi para muitas gerações e continua a ser para todos nós um lugar emblemático. Era à volta da fonte que brincavam as crianças. Era à volta da fonte o ponto de reunião dos jovens. Era á volta da fonte que se faziam os mastros dos Santos Populares. Era á volta da fonte que ia-mos ao cinema. Era á volta da fonte que ia-mos ao circo. Etc.etc. A FONTE NÃO ERA SÓ ÁGUA A FONTE ERA VIDA.





Como referi acima que independentemente da data de construção que se encontra escrita na própria fonte 1723, com posterior reconstrução em 1930, poderemos afirmar com elevado grau de certeza que ela é muito anterior a isso. Como todos nós sabemos para existir um chafariz, têm que existir uma fonte, um poço, ou qualquer outra forma de nascente, por isso fazendo fé naquilo que se encontra escrito no chafariz do Telheiro anexo à fonte, podemos dizer, que, com esta forma ou com outra, ela já existia em 1422. ESTA OBRA: MANDOU:/ FAZER: FERNANDO ROIZ: OUVIDOR:/ DE: DOM: FERNANDO: NETO:/ DEL: REY: CONDE: DE: ARRAIOLOS:/ ERA: DO: NASCIMENTO: DE: MIL: E CCCC XXII : ANOS





MONSARAZ A CAMINHAR SEMPRE NA PROCURA DA NOSSA IDENTIDADE HISTÓRICA.

"Autor texto e fotos Isidro Pinto" para Monsaraz a Caminhar

FONTE DOS CONTRABANDISTAS





FONTE DOS CONTRABANDISTAS




 Pequena fonte de forma circular, construída em tijolo burro, coberta com grandes lajes de xisto e pequena porta em arco virada a Este. Submersa pelas águas do Alqueva e só visível quando este desce às cotas atuais. Situada na Herdade da Coutada, junto á antiga estrada do moinho do Gato e a dois passos do Guadiana, fronteira tão apetecível para Contrabandistas e Guardas Fiscais, talvez daí o seu nome. Os poços eram vitais para os montes e para os gados, tendo até alguns de eles anexos enormes chafarizes e engenhos para tirar água (cegonhas ). As fontes em muito maior número mas de muito menores dimensões, (algumas não excediam o metro de profundidade ) destinavam-se a matar a sede a todos aqueles que deambulavam pelos campos, trabalhadores rurais, morais, contrabandistas, almocreves, maquilões, etc, etc. Algumas delas pela sua localização geográfica foram de extrema importância, e ficaram na memória das nossas gentes, como seja o caso da Fonte da Breca, junto ao caminho do moinho de Calvinos no Guadiana, e das Piteiras e do Catacuz no Azevel, ou a Fonte Coito junto às enxertias do S. Gens, ou a dos Contrabandistas, junto ao caminho do Moinho do Coronheiro no Azevel e ao do Gato no Guadiana, ou a Fonte do Roxo na encosta de Monsaraz e junto á ladeira do mesmo nome, ou a Fonte do Vale Gonçalo junto à Serra da Barrada Motrinos e também ela junto a vários caminhos à época importantes. Muitas mais merecem referência, mas importante agora é rever temporariamente aquelas que o Alqueva nos devolve, mas que seguramente nos voltará a reclamar como sejam, o Poço Formiga, a Fonte Coito, a Fonte dos Contrabandistas e a Fonte da Breca. MONSARAZ A CAMINHAR SEMPRE NA PROCURA DA NOSSA IDENTIDADE HISTÓRICA.



"Autor texto e fotos Isidro Pinto" para Monsaraz a Caminhar












domingo, 21 de julho de 2019

A LENDA DA PRINCESA ÁTILA NO CASTELO DE MONSARAZ


A lenda da linda Princesa Atília, no Castelo de Monsaraz 

Cerca do ano de 1151 o reino Mouro de Badajoz foi conquistado pelos Almóadas, obrigando à fuga do rei e dos principes e princesas para vários lugares do reino, na esperança de um dia poderem voltar à sua Corte em Badajoz! 

Um dos principes, filho do rei Sabur fugiu para Monsaraz com a família por ficar perto e, por ser um lugar seguro, não sendo fácil a sua conquista pelos inimigos! 

O principe  Abdalá, tinha uma filha muito linda que, o acompanhou até Monsaraz, lugar que ela muito gostava, porque, quase se avistava a sua cidade de Badajoz! 

A sua beleza era tanta que, todos os principes mouros dos reinos mais próximos a pretendiam e, faziam romagem a Monsaraz, trazendo-lhe presentes valiosos para lhe conquistar o amor! A bela princesa moura, a todos atendia, tendo o cuidado de não distinguir nenhum, mantendo-lhe acesas as pretensões, pois tinha interesse em os ter como aliados na luta contra os cristãos e contra os almóadas que lhe ocupavam a sua cidade! 

O tempo foi passando e, a lista de pretendentes já era extensa, começando a haver impaciência por parte dos pretendentes! 

A sua cidade continuava ocupada pelos almóadas e, por outro lado, o exército de D. Afonso Henriques e os bandoleiros do Geraldo o Sem Pavor estavam cada vez mais perto, então, não podia esperar mais para dar a conhecer o principe eleito pelo seu coração! 

Devido às ameaças dos inimigos em várias frentes, o seu pai decidiu pedir auxílio ao rei de Sevilha, onde se deslocou para explicar a situação e convencê-lo de que, se os cristãos conquistassem as terras da Extremadura, rapidamente chegariam ao seu reino de Sevilha, mas essa viagem, desde Monsaraz era muito longa e, a linda princesa Atília, começou a ficar desesperada devido às más notícias que chegavam a todo o momento a Monsaraz! 

Quando a princesa anunciou que, ia decidir quem era o escolhido, os pretendentes dirigiram-se a Monsaraz, com luxuosas embaixadas, porque, todos ansiavam por esse momento decisivo, cada um albergava dentro de si a esperança de ser o eleito, sabiam que, o mesmo, seria invejado e admirado, ao conquistar o coração daquela mulher que, todos enfeitiçava com a sua beleza!

A princesa era informada de tudo o que se passava, quem chegava, o que trazia, transmitiam-lhe todos os pormenores, porém, estava a chegar a hora da sua decisão e, não lhe anunciavam a chegada daquele que ela tinha escolhido para seu noivo! A princesa chamou a ama e perguntou-lhe: 

Princesa: Oh Samira, porque motivo ainda não me anunciaram a chegada do principe Saíd de Myrtilis (Mértola)? 

Samira: Minha princesa, ainda não anunciaram a chegada do principe Saíd, porque ele ainda não chegou e dizem-nos que, ainda não está por perto, ou então, pode ter sido apanhado pelos cristãos que andam por perto!

Princesa: Alá o ajude! E nós o que podemos fazer para o ajudar? 

Samira: Minha princesa, sabemos que ele vem de Sudoeste, de Myrtilis,  pode sempre enviar alguns bons cavaleiros ao seu encontro, ou a saber o que lhe aconteceu! Talvez se tenha atrasado! 

Princesa: Então, transmite isso ao mestre de guerra, capitão Almir, para organizar um bom grupo de guerreiros e ir ao seu encontro, porque, sem a sua presença eu não vou anunciar o escolhido!

Decorria, então, o ano de 1167 e, quis o destino que nessa manhã em que a princesa mandou os emissários ao encontro daquele que seria o noivo, a região de Monsaraz já estava cheia de cristãos disfarçados de mercadores e infiltrados nas embaixadas dos visitantes! Quando o grupo de guerreiros mouros saíram do Castelo de Monsaraz foram travados pelos homens de Geraldo Sem Pavor e envolveram-se numa sangrenta batalha às portas de Monsaraz! 

Os príncipes visitantes com os seus homens, acorreram em seu auxílio, mas os guerreiros de Geraldo Sem Pavor pareciam cães derramados e, os mouros começaram a fraquejar perante a sua furiosa investida! A luta já durava há longas horas, a princesa acompanhada por alguns atléticos guardas mouros dirigiu-se à Torre para dali observar a batalha ficando cheia de orgulho e alegria quando reparou que não só estava lá o seu preferido na peleja, como se destacava em atos de valentia! 

O exército cristão, não parava de crescer, ao contrário dos mouros que cada vez eram menos, estavam a cair por terra a todo o momento, até que chegou a vez do seu escolhido, caiu sobre a espada de um homem de Geraldo Sem Pavor e morreu, imediatamente! A princesa Atília, adivinhou o seu fim às mãos daqueles cães, recolheu aos seus aposentos muito desgostosa, sabia que a tomada de Monsaraz estava por horas, bastava os cristãos encostar as longas escadas e subir as muralhas onde não existiam homens para as defender, então, a princesa mandou retirar a bandeira em sinal de derrota, apanhou um punhal de estimação, com o cabo em prata e ouro e crivado de pedras preciosas e  cravou-o no seu coração! Os guardas, nada puderam fazer, deitaram-na no túmulo de pedra e cobriram-na com a bandeira do Castelo de Monsaraz!

Logo a seguir, os cristãos entraram no Castelo de Monsaraz, cansados, mas vitoriosos, os guerreiros saquearam a Vila, mas não foram autorizados por Geraldo Sem Pavor a entrar nos aposentos da princesa Atília! Depois de se informar do sucedido, deu ordens aos criados da princesa, para que fosse sepultada ali nos seus aposentos, com todos os costumes da sua crença, ficando, assim, a linda princesa Atília, sepultada no Castelo de Monsaraz com o punhal cravado no seu peito, o qual, parece que, até este momento, ainda não foi encontrado. 

Fim

"Autor do texto Correia Manuel foto Isidro Pinto" para Monsaraz A Caminhar 

sábado, 20 de julho de 2019

O TI ZÉ ELIAS NAS FESTAS DE MONSARAZ



 O Ti Zé Elias  na festa do Sr. Jesus dos Passos

Animado pelas boas perspetivas de negócio, resolveu o TI ZÉ ELIAS um ano, ir passar as festas a Monsaraz já que naquela época se dizia que eram uma das maiores das redondezas, atraindo gente de vários concelhos e freguesias vizinhas tais como, Reguengos, Mourão, Alandroal, Capelins e muitas outras.  A carga dos burrinhos pouco diferia das outras vezes, panelas, cântaros, enfusas, barris, tigelas de fogo, asados e uma ou outra tarefa por encomenda. As festas de Monsaraz eram e ainda hoje são ao fim de semana, sempre no 2° Domingo de Setembro, tendo o seu ponto alto no Sábado de tarde com a tourada e á noite o fogo preso, já no Domingo de manhã era o leilão das fogaças no adro da igreja e de tarde a procissão.
Desta vez porque era festa fazia-se acompanhar de um dos seus filhos, rapazola de 7 ou 8 anos que gostava de o acompanhar. Chegados a Monsaraz sábado de manhã e como de costume logo se instalou no quintal do seu amigo TI ZÉ CARDOSO, onde deixaria a carga e os burrinhos, pelo menos por enquanto,  já que à noite iria dormir ao Rossio ( pedaço de terra na encosta Este de Monsaraz e pertencente à junta de freguesia ) para os burros poderem pastar. Tal como se previa e dado o elevado número de pessoas ali presentes o negócio corria de feição, tendo o Ti Zé Elias feito umas boas vendas. Terminado  que estava quase o dia e não podendo ficar para a noite aceitou o convite do Ti Zé Cardoso e jantaram por ali, mas não sem antes ir com o filho à procura de um festeiro para oferecer ao Santo um belo Asado de barro (recipiente de barro com duas asas de tamanho intermédio entre uma panela grande e uma tarefa). Terminado o jantar tirou os burrinhos da cabana, e lá foram em direção ao Rossio, uma vez ali meteram as peias nos burros e com duas sacas de palha improvisaram as suas próprias camas, o dia tinha sido intenso e como tal não demorou muito a adormecerem, por volta da meia noite e em consequência do enorme barulho provocado pelo rebentamento dos foguetes e rodas de fogo em Monsaraz, ambos acordaram, o vento estava de feição e trazia até eles o barulho e o cheiro a pólvora queimada, foi nesse período de semi-sonolência que o rapaz se lembrou e perguntou, ó Pai o Santo tem casa?  O ti Zé Elias respondia, ó filho, a casa do Santo é aquela igreja em frente à igreja de Sta Maria da Lagoa e a que todos chamam igreja de N. Sr Jesus dos Passos, ah ! E têm família voltava a perguntar o miúdo ? Ó filho ! A família são os Cristãos, somos todos nós, respondia o Zé Elias, shiii pai tens que lhe dar mais asados que só um não chega para tanta gente, dizia o rapaz, esperando não haver mais  perguntas ficou o Zé Elias pensando como iria explicar ao filho que oferecer ao Santo era uma força de expressão, já que a oferta era aos festeiros e para a festa, também ele se sentia feliz por poder contribuir para uma comunidade que a ele lhe havia dado tanto, não poderia estar por ali no Domingo de manhã mas seguramente que alguém seu conhecido e amigo iria estar e iriam sentir orgulho nele quando ouvissem o leiloeiro dizer, ESTE ASADO FOI OFERECIDO AO Sr DOS PASSOS PELO TI ZÉ ELIAS DO REDONDO, QUANTO É QUE VALE?.             
   Em Monsaraz o culminar do fogo de artificio era o lançamento do balão, coisa que o Ti Zé Elias desconhecia completamente e que esse ano não estava a ser nada fácil, talvez as mechas não fossem da melhor qualidade já que não produziam chama e ar quente suficiente para o levantamento do enorme balão, após algumas tentativas lá conseguiram, perante o aplauso geral lá foi o balão subindo e começando a ganhar rumo em função do vento, que neste caso estava de poente e ia empurrando o balão para Este na direção do Rossio e do Ti Zé Elias.     No Rossio terminado que estava o diálogo e os pensamentos e quando parecia que estava de volta o sono, eis que o miúdo com voz de medo começa, PAI, PAI, PAI olha lá o que está no céu mesmo por cima das nossas cabeças, o Ti ZÉ Elias nem queria acreditar, uma enorme bola alaranjada toda iluminada e com lume dentro, nunca antes tinha visto tal coisa e nem sequer no relato de outros Almocreves havia memorias de uma tal aparição, nada mais se lhe ocorreu a não ser puxar para si o miúdo e dizer ......... TAPA A CABEÇA RAPAZ QUE ISTO VAI SER O FIM DAS NOSSAS VIDAS ........                             
Esta estória foi-me contada pela Ana Ribeiro . Nossa Conterrânea e distinto membro deste grupo . OBRIGADO ANA

"Autor texto e fotos Isidro Pinto" para Monsaraz a Caminhar

sábado, 13 de julho de 2019

A LENDA DA PRINCESA ALANDRA


A lenda da princesa moura Alandra, de Faro e de Monsaraz



Os protagonistas desta lenda são, uma linda princesa moura de nome Alandra, filha do príncipe de al Harun, ou seja Faro e, a mais alta figura da nobreza portuguesa do reinado de D. Afonso III, D. João Peres de Aboim, nascido cerca de 1213 em Aboim da Nóbrega, uma povoação situada a sul de Ponte da Barca, no Minho!

D. João Peres de Aboim, era protegido do rei D. Afonso III, cresceram juntos, por o seu pai ser camareiro do então Príncipe e, estiveram ambos, cerca de dezasseis anos em França, por isso, tornou-se letrado, foi apoiante de D. Afonso III, contra o seu irmão D. Sancho II e, tinha liberdade para tomar algumas decisões sem o consultar! Foi conselheiro do rei, mordomo mor, Senhor de Portel, da Defesa do Esporão no Termo de Monsaraz e de muitas outras terras e Vilas! Faleceu em quinze de Março de mil duzentos e oitenta e cinco, estando sepultado no Mosteiro de Marmelar em Vera Cruz, Portel!

Após a reconquista das terras da raia do Alentejo aos mouros, D. Afonso III, sentiu o desejo de alargar os domínios do reino de Portugal! Assim, em Março de mil duzentos e quarenta e nove, acompanhado de D. João Peres de Aboim, de alguns nobres, bastardos e Ordens Militares, dirigiu-se ao Algarve, com o exército em marcha forçada até à "Terra de Todos", a Vila de Alportel, onde acamparam para dali preparar os ataques às diversas Praças mouriscas do Algarve!

Na Vila de Alportel, misturavam-se cristãos com mouros, sem represálias de parte a parte, era terra de mercadores que, no dia da feira, atraía pessoas de todas as localidades da região, incluindo príncipes e princesas!

Num desses dias, D. João Peres de Aboim, atravessava a feira envolvido numa acesa conversa com um grupo de fidalgos, quando deu por si, estava nos braços de uma linda mulher que, tinha a cara tapada por um turbante, mas com o encontrão ficou descoberta deixando ver-lhe além dos lindos olhos o seu lindo rosto!

O fidalgo ficou muito atrapalhado e pediu desculpa, mas a mulher, não respondeu, continuando o seu caminho com outras mulheres que a acompanhavam, mas a pouca distância virou-se e fitou o fidalgo, tocando-lhe o coração!

D. João Peres de Aboim ficou perturbado e perguntou aos mercadores que estavam ao lado e tinham assistido à situação, se sabiam quem era aquela mulher? Sendo imediatamente informado que, era a princesa "Alandra", filha do príncipe de al Harun (Faro)!

O nobre continuou o seu caminho, sempre com a princesa Alandra na sua mente e no seu coração, mas as reuniões do conselho de guerra com o rei eram constantes, para delinear como deviam fazer os ataques, obrigando-o a esquecer o caloroso encontro com a linda princesa Alandra!

Com a ajuda dos espiões, os portugueses foram sabendo quais as forças que os mouros dispunham em cada praça, e que não podiam ser auxiliados pelos exércitos da moirama, porque, também Castela atacava os mouros em todas as frentes, por isso, decidiram atacar a praça mais forte e importante, ou seja, al Harun, decerto as restantes, não ofereciam resistência!

No dia seguinte, o rei deu instruções a D. João Peres de Aboim para ir com os seus homens, montados nos melhores ginetes, bem treinados na arte da guerra, testar a resistência de al Harun, simulando um ataque surpresa, mas na verdade, não queriam entrar em luta com o inimigo! Partiram de Alportel e perto de Harun fizeram um pequeno acampamento, depois em grande correria, investiram contra a cidade, mas na sua frente surgiu uma figura agitando os braços no ar, obrigando-os a refrear a cavalaria! D. João Peres de Aboim, irritado, deu um salto para terra e ficou de espada em punho! A figura, tinha a cara tapada por um turbante, mas mostrou que estava desarmada e não estava ali para se bater com ele, o qual, depois de verificar que não era armadilha, que não havia movimento por perto, deu alguns passos em frente e perguntou? Quem és tu? O que quereres de mim? Então, ouviu uma vós trémula que lhe disse: Quero falar com o teu rei! D. João Peres de Aboim continuou: Se queres falar com o meu rei, porque te escondes atrás desse turbante? A figura respondeu: Bem sabes senhor, se viesse às claras, nunca me deixariam chegar até aqui, seria logo preso e eu tenho de falar com o teu rei!

Mas quem és tu? Pensas que te vou levar até junto do meu rei sem saber quem és? sabes que isso é impossível, respondeu D. João de Aboim!

Sou um guerreiro filho do príncipe de Harun que defenderá o seu senhor até à última gota de sangue, respondeu a figura!

D. João Peres de Aboim, deu mais um passo em frente e, num golpe de surpresa arrancou-lhe o turbante e aos seus olhos apareceu o rosto de uma jovem e linda mulher e exclamou: Alandra! És a princesa Alandra! O que fazes aqui?

Quero falar com o teu rei, respondeu Alandra!

D. João Peres de Aboim, delicadamente, encaminhou-a para um lugar mais afastado e seguro e perguntou-lhe o que queria falar ao rei, porque estando ele longe, quem tomava as decisões ali era ele!

Então a divina e bela Alandra disse-lhe:

Alandra: Senhor, queria que ele poupasse a vida das mulheres e crianças de Harun, nem que para isso, eu tenha de sacrificar a minha honra!

D. João Peres de Aboim: Princesa Alandra, nós não somos feras, prometo solenemente que, será cumprido o que deseja, sem que para tal, seja necessário qualquer sacrifício da sua parte!

A princesa Alandra baixou a cabeça e quando a reergueu tinha os olhos embaciados por lágrimas e continuou:

Alandra: Senhor, todos nós vivemos aterrorizados com o que tem acontecido na tomada das nossas terras, por isso, o senhor meu pai, príncipe de Harun quer entregar as chaves da cidade ao teu rei sem derramamento de mais sangue!

A princesa, levou as mãos ao rosto num jeito de assustada e as palavras saiam-lhe em soluços!

D. João Peres de Aboim, colocou a mão no ombro direito da princesa, com intenção de a acalmar, mas nesse momento sentiu nela um tremor tão forte que a retirou imediatamente e, apenas repetiu a promessa de que, as mulheres e as crianças seriam respeitadas em troca das chaves da cidade! A princesa Alandra tentou aproximar-se do fidalgo num gesto de entrega da honra, mas ele, afastou-a delicadamente e despediu-se!

No dia vinte e sete de Março de mil duzentos e quarenta e nove, o exército de D. Afonso III, estava pronto para atacar Harun, porém, de madrugada, o rei que, estava a par da situação, reuniu o conselho de guerra e pediu a D. João Peres de Aboim para falar! Então, ele disse: Senhor meu rei, sem a sua autorização prévia, já tratei de tudo, vamos tomar Harun sem derramamento de sangue, o príncipe vai entregar as chaves sem luta, mas por amor de Deus senhor meu rei, temos de respeitar as mulheres e as crianças, foi essa a condição que prometi, estou por penhor dessa condição que vale a minha honra!

D. Afonso III baixou a cabeça num gesto afirmativo, dando, assim, a devida autorização!

D. João Peres de Aboim: Então, senhor meu rei, deveis ir agora ao palácio do príncipe de Harun para que ele vos entregue as chaves da cidade!

D. Afonso III: O quê? Vou lá sozinho?

João Peres de Aboim: Não, senhor meu rei, de modo algum! Levais uma guarda de honra, constituída pelo Estêvão Anes, Afonso Peres Farinha, Gonçalo Peres e eu próprio, além de ficar preparada, por precaução, uma força de intervenção constituída pelos melhores mestres de guerra, mas sei que, não vai haver luta!

Então, D. Afonso III, acompanhado da referida guarda de honra, dirigiu-se ao palácio do príncipe de Harun onde foram recebidos com cordialidade! Acertaram alguns acordos, foram assinadas as condições honrosas para os vencidos e ainda mais para os vencedores, depois o príncipe entregou as chaves da cidade na mão do rei!

As referidas negociações, demoraram mais do que se esperava e, os homens da força portuguesa que estava de prevenção, pensando que, alguma coisa tinha corrido mal, envolveram-se em luta com os guerreiros mouros no atual Largo de S. Francisco e foi D. Afonso III que teve de correr ao centro da contenda a mandar parar a luta e a mostrar as chaves de Harun que, a partir daquele momento começou a designar-se por Santa Maria de Farum!

Como a promessa foi cumprida, no dia seguinte, a princesa Alandra, com o rosto tapado pelo turbante, dirigiu-se aos aposentos de D. João Peres de Aboim, com um grande ramo de flores vermelhas! Assim que chegou, caiu-lhe nos braços e entregou-lhe a sua honra, mesmo sabendo que, não podiam ficar juntos, estiveram envolvidos algumas horas, até se esgotar o tempo razoável que, pudesse justificar a sua ausência do palácio!

A princesa, foi seguida por espiões da confiança do príncipe seu pai que, lhe foram contar tudo o que se passou entre sua filha e D. João Peres de Aboim!

O príncipe já tinha perdido a sua honra ao entregar as chaves de Harun sem luta, agora, era a sua linda filha a traí-lo entregando voluntariamente a sua honra a um cristão, mais nada lhe restava! Esperou a chegada da princesa, chamou-a ao jardim, trocaram algumas palavras, ele disse-lhe que tinha de a encantar, porque ambos tinham perdido a honra e mais nada lhe restava, ao entregar-se a João Peres de Aboim! A princesa compreendeu o pai e não reagiu foi, imediatamente morta e encantada ali no seu jardim!

D. João Peres de Aboim, tinha trinta e seis anos e casado, havia cerca de três anos com Dona Marinha Afonso de Arganil, mas naquele momento o seu casamento estava esquecido, porque, não controlava a sua paixão pela princesa Alandra!

No dia seguinte, a meio da manhã, D. João Peres de Aboim, estava agitado, pensando na princesa com um mau pressentimento, montou o seu cavalo e, acompanhado por alguns guardas, foi dar um passeio com a intenção de passar em frente ao palácio do príncipe e poder ver Alandra a espreitar por alguma janela, mas ao chegar viu tudo atarracado, sem movimento, avançou com o cavalo na direção de um grupo de homens mouros que estavam à porta do palácio em acesa conversa, os quais, começaram a correr assustados, mas ele gritou-lhe que não lhe fazia mal, só queria uma informação sobre o príncipe! Os homens pararam logo, eram os criados do palácio, alguns tinham assistido à morte da princesa e contaram como tudo se passou e que a seguir o príncipe e a família tinham fugido num barco para as terras da moirama, deixando-os ali abandonados à sua sorte!

D. João Peres de Aboim, ficou furioso e de cabeça perdida, tentou recrutar um grupo de homens para perseguir o príncipe, mas D. Afonso III, ao inteirar-se da situação, acalmou-o e demoveu-o da ideia!

Nos dias seguintes, foram tomadas as restantes praças do Algarve, Loulé, Albufeira, Porches, Aljezur e outras, quase sem luta! D. Afonso III apressou-se a entregá-las a alguns nobres que participaram na conquista, a Ordens Militares e aos bastardos que o acompanharam!

Depois de tudo sereno, o rei e os seus exércitos deixaram o Reino dos Algarves que, embora já português, só foi reconhecido por Castela através do Tratado de Alcanizes em 1297, antes era português mas o uso e fruto era de Castela!

D. João Peres de Aboim e alguns nobres acompanharam o rei, porém, antes da partida, o fidalgo mandou arrancar e envolver em terra as plantas todas do jardim do palácio do príncipe, das quais a princesa Alandra tinha colhido as flores que lhe tinha oferecido com a sua honra, para as transplantar nas suas terras!

O rei e o exército seguiram em conjunto até Beja, onde descansaram! Antes da partida, D. Afonso III reuniu-se com D. João Peres de Aboim e disse-lhe que tinha de seguir outro caminho, por Serpa, Moura, Mourão e Monsaraz, para fazer uma avaliação das terras para demarcação de alguns Termos (Concelhos) e verificar como estavam a ser administradas, uma vez que, existiam muitas queixas contra os Alcaides-mor, entregando-lhe uma carta com poderes régios!

D. João Peres de Aboim, partiu de Beja no dia seguinte, com um grupo dos seus homens, foi cumprindo as instruções do rei, acabando por chegar a Monsaraz quinze dias depois de sair de Beja, levando consigo os arbustos vindos de Faro!

Uma das missões de D. João Peres de Aboim, era avaliar as terras de Monsaraz para, a demarcação do seu Termo, como depois aconteceu em 1265, obrigando-o a demorar-se mais do que esperava e ainda tinha de fazer a avaliação das terras da herdade de Terena, para demarcação do seu Termo como aconteceu em 1262, só depois seguia para Évora!

Então, uma noite enquanto dormia começou a sonhar com os arbustos cheios de flores vermelhas ali em Monsaraz e, no meio deles, estava a princesa Alandra! Quando acordou, o sonho não lhe saía da mente, mas ao longo do dia, foi esquecendo! A partir daí, todas as noites tinha o mesmo sonho, até que, se fez luz, D. João Peres de Aboim, percebeu que, se isso acontecia, era porque a princesa Alandra queria os arbustos plantados em Monsaraz! Chamou um criado e disse-lhe para encontrar um bom lugar, tratar bem a terra e plantar lá os arbustos e tomar bons recados para que os mesmos fossem protegidos, porque, em caso algum se podiam perder!

O criado não andou muito, encontrou um espaço com boa terra perto da rua direita e da Igreja de Nossa Senhora da Lagoa, aí plantou os arbustos e, foi dizer ao fidalgo que o trabalho estava feito! Ele deslocou-se ao lugar, acariciou as flores muito comovido, o criado estava a assistir, pediu licença e perguntou-lhe que flor era aquela que o deixava assim tão triste? D. João Peres de Aboim respondeu: Alandra, Alandra! E foi assim que, aqueles arbustos, ficaram a chamar-se alandros ou alandroeiros!

Passados três dias, D. João Peres de Aboim partiu para Terena, mas antes, foi despedir-se das suas flores, ficou muito surpreendido, porque estavam tão lindas como, quando a princesa lhe as ofereceu! Deixou uma carta na Alcaidaria mor, na qual, a responsabilizava pelo tratamento e proteção daqueles alandroeiros, como sendo património da Vila de Monsaraz e partiu!

Na noite de vinte e quatro de Junho de mil duzentos e cinquenta, à meia noite, pela primeira vez foi vista a princesa Alandra a cantar uma linda cantiga mourisca e a pentear os seu longos cabelos negros com um pente de ouro, irradiando uma ténue luz, porque, ficou encantada nos Alandros do jardim do seu palácio em Faro, os mesmos que, D. João Peres de Aboim transplantou para Monsaraz, onde a princesa Alandra ainda continua encantada e pode ser vista por momentos à meia noite de vinte e quatro de Junho de cada ano e, é nesse instante que, pode ser desencantada com estas palavras:

Alandra de Faro e de Monsaraz

O teu encanto chegou ao fim

Estás livre, vai em paz

Juntar-te a João de Aboim

Ele está em Marmelar

No Convento de Vera Cruz

Se não quiseres cá ficar

Deixa-nos a tua luz

Se não quiseres abalar

Fica aqui neste recinto

E podes ir caminhar

Com o amigo Isidro Pinto.

Fim

"Autor do texto Manuel Correia foto Isidro Pinto" para Monsaraz A Caminhar

quarta-feira, 10 de julho de 2019

O TI TIAGO E A TI JOAQUINA

Ti Tiago e ti Joaquina


Vários Almocreves demandaram a nossa Freguesia e muitos de eles foram ao longo dos anos criando laços de amizade com as gentes locais, fazendo com que muitas das suas estórias chegassem até aos nossos dias. Desde o TI JULIÃO com as suas sardinhas, até aos do Redondo com o mel e a louça, todos eles deixaram por estas terras um pouco das suas vidas.  O TI TIAGO era mais um almocreve do Redondo que frequentava a nossa freguesia e as aldeias do seu termo . Foi numa dessas viagens , quando com o seu burrinho percorria as ruas da Vila e fazendo o seu pregão de MEL, ÁGUA MEL E LOUÇA DO REDONDO,  lhe saiu ao caminho a velha
Joaquina, Montesarence  com fama de ser muito agarrada ao dinheiro. Bom dia Ti Tiago, disse a velha Joaquina, bom dia mulher,  então diga lá o que é que lhe vendo hoje respondeu o Ti Tiago. Olhe quero aqui um kg de mel dentro desta panelinha respondeu a Joaquina,  pegou o Ti Tiago na panela que logo meteu encima do prato da balança ao mesmo tempo que ia metendo umas pedrinhas no outro prato por forma  ficarem equilibrados e assim tirar a tara à panela, meteu o peso de kg no prato das pedrinhas e lá foi  vertendo o mel até que os pratos da balança ficassem equilibrados, não foi tarefa fácil já que estava-mos no final de Outubro e o mel começava já a ganhar uma textura mais  espessa, olhe até está bem pesado dizia o Ti Tiago tentando entregar a panelinha à velha Joaquina, eis,  que esta se vira para ele e lhe pergunta, então e como é que é o preço Ti Tiago? lá lhe respondeu o Ti Tiago dizendo-lhe o preço do mel à época, ai isso é muito caro,  assim não quero, olhe pode-o tirar que eu não o levo, dizia a velha, ó mulher de Deus como é que você quer que eu agora tire o mel, respondia o Tiago, ai não sei, não o levo insistia a Joaquina. Não teve o Ti Tiago outro remédio senão tentar escorrer o mel de dentro da panela mas consciente que muito dele iria ficar agarrado às paredes interiores da mesma. Resignado, devolveu a panela e com cara de poucos amigos saiu de ali consciente que se tinha deixado enganar pela  velha. Numa próxima viagem a Monsaraz ia o Tiago pela rua da velha Joaquina apregoando MEL, ÁGUA MEL E LOUÇA DO REDONDO, quando ouviu atrás de si  alguém chamar TI TIAGO, TI TIAGO ESPERE LÁ AÍ, olhou para trás e reconheceu a velha Joaquina, sem se deter deu levemente  com a varinha nas nádegas do burrinho e lá foi dizendo. ARRE BURRO VAMOS EMBORA DE AQUI,  QUE ELA A ZORRA O QUE QUER É LAMBER .........Lenda ou realidade faz parte da memória coletiva das gentes mais velhas.


"Autor texto e fotos Isidro Pinto" para Monsaraz a Caminhar