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quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

SAUDOSO GUADIANA OS NOMES SUBMERSOS

 SAUDOSO GUADIANA

OS NOMES SUBMERSOS



A Vida é feita de mudanças, jamais questionarei aquilo que hoje é inquestionável, o Alqueva, o Alqueva que apesar das muitas vozes discordantes, ou concordantes, quanto à sua utilização é sem dúvida alguma uma importante reserva de água. Não há bela sem senão e muitas foram também as perdas patrimoniais e imateriais. Para que não se percam, e possam ficar na memória das gerações vindouras, hoje lembramos aqui aquilo a que eu chamo o “0S NOMES SUBMERSOS”.

São nomes que fizeram parte da toponímia do Guadiana e dos seus afluentes, numa área que vai de Miguéns ao Mendonça, e, que de uma forma ou de outra também fizeram parte das nossas vidas, deixando em algumas gerações uma saudade imensa.

São nomes que marcaram vidas, sinónimos de alegrias e tristezas, de trabalho e lazer, de fome e abastança, de amor e ódio, de lágrimas e alegrias e de encontros e desencontros.

Tenho saudades do moinho de Miguéns, da Volta, do Porras, do Calvinos, do Gato, do Mendonça, do Coronheiro, do Catacuz, das Piteiras, do Ramalho e do Manjor.

Tenho saudades da Foz da Areosa, do Cuncos, do Azevel, do Ribeiro de Agosto, do Ribeiro da Velha, do Ribeiro do Monte e do Ribeiro da Cruz.

Tenho saudades do Pego da Barca, do Pego da Maia, do Caldeirão, das Péguias, de Calvinos e do Pego Soldado.

Tenho saudades do Porto Touro, do Porto das Carretas, do Porto de São Gens, da Fraga do Manjor, da Fraga de Ginebra, da Rocha do Grifo, da Fonte dos Sapateiros, da Enxertia do Sol, da Oliveira da Preguiça, do Tarrafeiral e da Cabeça Alta a que a mente humana tão engenhosamente rebatizou de “Ilha do Ouro”.

Tenho saudades das Lagoas da Malcega, das Lagoas de Calvinos, das Lagoas do Porto Touro, da Lagoa das Carnaçarias, das Lagoas do Gato e das Lagoas do Franco.

Tenho saudades da pesca à Lapa, dos Guitos, dos Galrritos, das Nassas, das Cordas, da Atarrafa, dos Barbos, das Eiroses, das Bogas, dos Bordalos, das Sebatelhas e dos Achigãs pescados no Chabouco do Calvinos, ou no Caneiro do Gato.

TENHO SAUDADES DO GUADIANA 

“Texto  de Isidro Pinto”    

 Fotos: Net



                                           SAUDOSO GUADIANA



Hoje quando caminhava junto às águas do Alqueva, veio-me à memória fevereiro e março de 1979. Quando o Guadiana corria turvo e caudaloso, empurrando para um descanso forçado os moleiros, que em alguns casos não fossem os redemoinhos à superfície, ou alguma das referências de margem, perdiam completamente o norte aos seus moinhos naquela imensidão de água. Leva uma bela cheia, ou já tem os moinhos todos tapados, eram expressões muito próprias da época
As cheias eram também o renovar de um ciclo tão necessário ao equilíbrio de todo o ecossistema, as cheias traziam nutrientes que fertilizavam as terras e renovavam a água das lagoas, levando também os detritos indesejáveis depositados nas margens, era podemos dizer, um mal necessário que muito contribuía para um renovar de vida.
Eram as águas turvas e caudalosas, época de excelência dos guitos e das cordas iscados com lesmas, quantas e quantas vezes a subida das águas era de tal ordem, que apenas com o passar da noite se transformava a euforia em frustração, aquela piorneira onde tinhas prendido a corda, quando chegavas de manha já lá não estava, demorando por vezes vários dias até que as águas descessem e conseguisses recuperá-las. Era também com as cheias a época de ouro das Bogas, (hoje em extinção) quando a foz do Azevel se estendia até ao moinho do Coronheiro, não era necessário tarrafa ou qualquer outro apetrecho de pesca, as Bogas subiam em tão grande quantidade pelos pequenos ribeiros, neste caso o do Coronheiro, que se apanhavam à mão, bastando para tal fazer um feixe de esteva com o qual se lhe cortava a passagem e assim se apanhavam as que queríamos e quantas queríamos, escolhiam-se as mais gordas porque estavam cheias de ovas.
Referi atrás o ano de 79 que por razões familiares me ficou na memória, recordo que esse ano, connosco foi também o Ti Cacharamba e a sua respetiva burra, as Bogas no ribeiro do Coronheiro eram tantas que depressa enchemos uma saca que fizemos chegar ao Ferragudo na Burra do Cacharamba, na maioria das vezes distribuíamo-las gratuitamente pelos vizinhos, sendo as sobras para fritar nas tabernas para o petisco.
AINDA HOJE RECORDO O SABOR DAS OVAS FRITAS.
" Texto.
Isidro Pinto
Fotos. Net"



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