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quarta-feira, 24 de março de 2021

A LENDA DA MOURA ENCANTADA NA FONTE DA LESMA EM CAPELINS


A lenda da moura encantada na Fonte da Lesma, em Capelins

No ano de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil duzentos e trinta, no Domingo, dia vinte e quatro do mês de Março, os cavaleiros vilãos da cidade de Évora, reconquistaram a Vila de Odialuciuez (Terena), situada entre as Vilas de Juromenha e de Monsaraz que, sem fortaleza, o pequeno regimento que a defendia, cedeu facilmente às forças da cristandade depois de uma escaramuça que produziu algumas mortes e alguns feridos!
Os cavaleiros vilãos, tomaram as medidas de segurança e acamparam junto à Ribeira de Odialuciuez (Lucefécit), para tratar os feridos, descansar, organizar a logística e formar os grupos que, na madrugada seguinte, tinham de investir para sul, pelo vale da dita Ribeira e do Rio Odiana (Guadiana), para dominar pequenas bolsas de resistência concentradas nos Montes dos lavradores, apoiadas pelas tropas dos mouros instalados na Fortaleza mourisca de Monsaraz!
Durante a noite, os lavradores mouros residente a sul de Odialuciuez foram informados pelos espiões que, os cristãos tinham tomado aquela Vila e, preparavam-se para invadir as suas terras, pelo que, podiam fugir para Juromenha ou Monsaraz, ou podiam ficar e negociar com os cristãos, tornando-se seus servos!
Alguns senhores mouros, durante a noite, abandonaram os seus Montes e fugiram com as famílias para aquelas fortalezas, onde, ainda havia segurança, porém, outros ali nascidos, em terras já de seus avós, ficaram a tentar a sua sorte!
De madrugada, as forças cristãs saíram da Vila de Odialuciuez - Terena - e, cerca de duas horas de caminhada sem paragem, chegaram junto de um grande Monte, era o atual Monte do Escrivão, onde foram emboscados por um grupo de rapazes armados de varapaus, facas, espadas e outras armas artesanais, mas foram encostados às paredes pelos cavaleiros, desarmados sem ferimentos, apenas levaram alguns açoites e grandes puxões de orelhas, obrigando-os a contar-lhes tudo o que queriam saber sobre o rico lavrador mouro dono daquele Monte!
Os cavaleiros vilãos ficaram a saber que, o lavrador não queria deixar o Monte onde tinha nascido, mas com receio que os cristãos fizessem mal à família, principalmente à filha chamada Aniza considerada a rapariga mais linda da região de Odialuciuez, à última hora, tinha decidido partir para a Vila e Fortaleza de Monsaraz!
Os cristãos, ficaram a saber a que horas tinham partido e qual o caminho seguido na direção de Monsaraz e, os rapazes mouros contaram-lhe que, por motivo de maior segurança, a caravana tinha descido o vale da Ribeira, pelas terras do lavrador, pela atual Talaveira e Roncão e, ao fundo viravam pelo caminho que o guerreiro mouro Azavel usava com os seus mil cavalos, quando descia de Badajoz, pelo vale do rio Odiana até Monsaraz!
O lavrador mouro e a respetiva caravana levavam mais de duas horas de avanço, mas como o caminho estava muito mau, devido às grandes chuvadas de Abril, a sua marcha era muito lenta e quando chegaram à famosa Fonte do Amir (principe árabe), pararam a descansar e a abastecer daquela nobre água, não só por ser da melhor que existia na região, mas porque, já não podiam parar até Monsaraz!
Quando estavam preparados para continuar, chegaram alguns espiões e criados do lavrador a informá-lo de que os cristãos estavam mesmo a chegar, já se ouviam os cascos dos seus cavalos e seria melhor render-se e negociar, do que encetar uma fuga que podia acabar em tragédia!
O lavrador mouro começou por negar a rendição e mandou preparar os seus homens para receber os cristãos, mas disseram-lhe que era uma grande força, com homens bem armados e se não se rendessem, morriam todos, incluindo a sua família, mas se negociasse, podia ficar servo dos cristãos, mas só até que o exercito mouro do Califado de Córdova que vinha a caminho, os libertasse, ou em último caso, mais tarde podia ter a oportunidade de fugir para Monsaraz!
O lavrador ficou uns instantes a pensar na proposta e achou que fazia sentido, mas naquele momento lembrou-se da sua linda filha Aniza que, decerto não seria respeitada por aqueles cães cristãos, ainda pensou em a esconder por ali, mas eles acabavam por a encontrar e seria pior, então, fez-se luz no seu pensamento, tinha de a encantar, depois, quando viesse o exército de libertação, seria desencantada e tudo voltava ao normal, não tinha dúvidas de que seria a melhor maneira da filha ficar livre das garras dos cristãos!
Com a aproximação dos cristãos, a pressão dos presentes subia cada vez mais, o lavrador chamou junto de si a mulher e a sua linda filha Aniza e contou-lhes o que estava a pensar, explicou-lhes que, perante a situação, não encontrava outra alternativa, elas olharam uma para a outra e, sem contestar, concordaram com a ideia!
O lavrador, apressadamente explicou à filha o que tinha de fazer quando fosse desencantada, entregava o tesouro que fazia parte do desencantamento, o qual, ficava escondido, debaixo das pedras da Fonte do Amir e, se aquelas terras estivessem sobre o domínio dos cristãos, seguia, rapidamente para a moirama, caso contrário, ele encarregava-se de a mandar desencantar!
A cavalaria cristã ouvia-se cada vez mais próxima, já tinham atravessado o atual Ribeiro do Carrão e, o lavrador começou a dizer as palavras mágicas, quando chegou o momento de escolher o animal ou objeto, no qual a filha devia ficar encantada, não conseguia encontrar nada à mão, mas viu uma lesma tão bonita, tão elegante, com os corninhos de fora a subir as pedras da Fonte do Amir e, como não podia esperar mais, disse à filha que ficava encantada naquela linda lesma e seria desencantada com dois beijos de um jovem pastor, a filha anuiu e desapareceu, quase ao mesmo tempo, surgiram os cristãos na sua frente, o lavrador caiu de joelhos em sinal de submissão e, só se levantou, quando um oficial que comandava o regimento o mandou levantar, afastaram-se da Fonte e o oficial fez-lhe algumas perguntas, às quais, ele respondeu com muita humildade e prometeu ser seu servo, deixando-o convencido que lhe dizia toda a verdade e estava submisso aos cristãos!
Alguns cavaleiros cristãos, procuraram a sua filha, como não a encontravam, tentaram saber do seu paradeiro, ele respondeu que, tinha seguido diretamente por outro caminho, para a Fortaleza de Monsaraz e, decerto, já lá estava! Os cristãos, não ficaram muito convencidos, mas perante a atitude do oficial que, não o questionou sobre isso, não insistiram com mais perguntas e ficaram por ali!
Depois de tudo tratado, naquele lugar, alguns cavaleiros e infantes, voltaram com o lavrador e a caravana para o Monte - do Escrivão - onde foram efetuadas as negociações, quanto à posse das terras, dos gados e do tributo a pagar ao futuro senhorio, ficando o lavrador a explorar as terras mediante um pesado tributo e, depois de bem abastecidos de boa comida, a maioria dos cavaleiros vilãos seguiram para outros Montes, sempre com os olhos na Fortaleza de Monsaraz, onde estava um grande regimento mouro que podia sair ao seu encontro a qualquer momento!
O lavrador mouro, aceitou todas as condições que lhe foram impostas, não só, por não ter outra alternativa, mas na esperança de que seria por pouco tempo, porque, lhe diziam que o exército mouro do Califa de Córdova, devia estar a chegar, mas não chegou e, Juromenha, Monsaraz e toda a região do Odiana, logo a seguir, cerca de 1232, caíram nas mãos dos cristãos, por isso, o lavrador mouro e a sua família, desesperados, fugiram para as terras da moirama, senão, seriam servos dos cristãos, o resto das suas vidas!
A sua linda filha Aniza ficou para trás, encantada em lesma na Fonte do Amir, onde esteve durante muitos séculos, não por falta da presença de jovens pastores, mas devido ao animal em que estava encantada que, não cativava os rapazes a dar-lhe os dois beijos que ela lhes pedia, além de, ser uma lesma falante assustava os rapazes, obrigando-os a fugir da Fonte, muitas vezes sem encher o barril de água!
A lesma, só podia sair do seu esconderijo no tempo tépido, porque, não suportava muito frio, nem muito calor, sendo mais uma desvantagem, reduzindo as oportunidades em fazer as propostas do seu desencantamento aos jovens pastores que ali se dirigiam à Fonte!
Quando esta situação começou a ser falada pela região, ninguém acreditava nos rapazes, porque era impossível haver lesmas falantes e, diziam que era alguma feiticeira, ou invenção dos rapazes e a Fonte começou a ser conhecida pela "Fonte da Lesma"!
Quando os rebanhos da serra da Estrela começaram a descer para as pastagens do Alentejo, na transumância, eram acompanhados por muitos rapazes que ajudavam os pastores, chegavam em Novembro e partiam em Março ou Abril, mas alguns rapazes, ou porque arranjavam cá namoradas, ou porque as suas famílias eram numerosas e muito pobres, passando muito mal, preferiam ficar por cá e, foi o que aconteceu com o Manel Catrino que, ficou de ajuda do pastor da herdade do Aguilhão! Como habitualmente, um dia o pastor mandou-o buscar água à Fonte da lesma, por ser muito boa, servia de mesinha, o Manel Catrino era um rapaz que andava sempre bem disposto, cantando ou assobiando por todo o lado, passou ao Porto do Aguilhão, por cima das passadeiras, desceu a Ribeira de Lucefécit e, assim que chegou à dita Fonte, ouviu uma linda voz que, era a da moura Aniza:
Aniza: Bom dia, jovem pastor, não te assustes, eu não faço mal a ninguém, sou uma moura encantada numa lesma, chamo-me Aniza e tu como te chamas?
Manel Catrino: Olha, olha, já me tinham contado que andavam por aqui lesmas falantes e eu não acreditava, agora já acredito, eu sou o Manel Catrino, da Póvoa Nova, la da serra da Estrela, mas não sou pastor, sou o ajuda do pastor além do Aguilhão, então, agora que já nos conhecemos, diga-me lá, o que que vocemecê me quer?
A moura Aniza sentiu que, tinha chegado o fim do seu encantamento, nunca nenhum rapaz lhe tinha respondido e, muito menos, se tinham prontificado a ouvi-la!
O Manel Catrino sentou-se numa pedra da Fonte e com muita calma, ouviu o historial da vida da moura sem a interromper, só assobiava em sinal de admiração pelo que ouvia, por fim, colocou-lhe algumas dúvidas sobre o desencantamento que ela rapidamente esclareceu e, sem mais perguntas, quando ela lhe disse que podia avançar para a beijaria, nem hesitou, ele que até beijava as ovelhas ronhosas, quanto mais uma lesma, deu-lhe os dois beijos com tanta sofreguidão entre os corninhos, que quase a engolia, naquele momento, ela transformou-se na mulher mais linda que o Manel Catrino alguma vez tinha visto na sua vida, ficou tão atarantado e assustado que caiu de costas, a moura entregou-lhe o tesouro e desapareceu entre os arbustos da Ribeira de Lucefécit!
Quando o Manel Catrino se conseguiu erguer, meteu a mão no tesouro para se certificar o que estava dentro do saco, deu umas chapadas com força nele próprio, para ter a certeza que não era um sonho e lembrou-se de ir procurar a linda moura, correu, correu, pela Ribeira abaixo até chegar ao Rio Odiana, ao pego de Dona Catarina, na esperança de a encontrar nas suas margens, ou a atravessar o rio, mas nunca mais viu sinais da linda moura Aniza!
O Manel Catrino, ficou com as ideias baralhadas, não imaginava o que fazer com aquele tesouro, pensou em o levar para dividir com o pastor, mas em boa hora se arrependeu, porque, decerto, ficava sem ele, então decidiu escondê-lo num lugar bem seguro debaixo de uns rochedos e, mais tarde com calma logo decidia o que fazer, escondeu o tesouro e foi encher os barris de água e seguiu para a herdade do Aguilhão, no outro lado da Ribeira, quando lá chegou com muitas horas de atraso, o pastor estava cheio de sede, deu-lhe uma surra tão grande que o deixou todo derreado e em grande sofrimento durante alguns dias, mas abriu-lhe os olhos, por pouco tinha contado tudo ao pastor, mas ele nem o deixou falar e essa surra, foi uma grande lição para o Manel Catrino!
Quando melhorou, disse ao pastor que ia voltar para a serra da Estrela, porque, estava com muitas saudades dos pais e dos irmãos, o pastor fartou-se de rir na sua cara e disse-lhe que, se queria passar fome, podia ir, mas nunca mais ali punha os pés naquela herdade do Aguilhão, porque se ali voltasse seria corrido a pontapés, mas ele, tinha tanto medo do pastor e foi-se embora dali!
O Manel Catrino, agora era um rapaz muito rico, dono de um tesouro, mas muito pobre, porque, não podia dispor dele, ninguém ia acreditar que o tinha recebido, honestamente devido ao desencantamento de uma moura, então, ficou pelas terras de Terena e de Capelins, o mais próximo possível do esconderijo do seu tesouro e, teve de andar mais de cinco anos em ajuda de gado e em trabalhos agrícolas, sempre, procurando saber a maneira de trocar o tesouro, ou parte dele, por dinheiro, para realizar o seu grande sonho, comprar uma herdade!
Já senhor de si, conseguiu saber que, moravam uns judeus muito ricos, na Vila de Borba que compravam moedas de ouro, pratas, pedras preciosas e jóias, um dia foi procurá-los, mas não levou nada, disse-lhe que tinha umas coisitas, cordões e outras peças que lhe pareciam ser de ouro que tinha achado quando era pastor e como não lhe serviam para nada, queria vendê-las! Os judeus, ficaram de olhos arregalados e nem quiseram saber onde os tinha achado, disseram-lhe que os fosse buscar já, que ficavam com tudo!
O Manel Catrino era muito fino, não teve pressa, quem esperou mais de cinco anos, espera mais um mês, pensou ele, e se o pensou, melhor o fez, só passados mais de um mês, com segurança, foi ao esconderijo onde estava o seu tesouro, escolheu algumas peças, meteu-as nos bolsos de umas ceroulas e montado na sua burra, voltou a Borba! Os judeus assim que o viram, lembraram-se dele e apanharam as peças de ouro com as duas mãos para observar bem, e ficaram sem palavras, avaliaram as peças por pouco mais de metade do seu valor, mas o suficiente para o Manel Catrino não acreditar no valor que ouvia, pelo que, nem regateou, não houve muita negociação, ele aceitou o que lhe ofereceram! Os judeus mandaram chamar o Tabelião da Vila de Borba para assistir ao negócio e ao pagamento, parte em dinheiro e outra parte numa moratória, uma escritura de juro, com o compromisso do pagamento no prazo de um mês!
Depois de tudo tratado o Manel Catrino foi para Vila Viçosa e, dirigiu-se ao Tabelião dessa Vila para o ajudar na compra da herdade, foram ter com um Procurador que tinha algumas herdades para vender, com o qual, negociaram três herdades nas terras de Terena e Alandroal!
Quando os processos da compra/venda das três herdades ficou resolvido, o Manel Catrino foi tomar posse das suas herdades e dos gados que tinham entrado no negócio e a conhecer os criados, feitores e, principalmente os pastores que tinham muita importância, era deles que dependiam os rebanhos e a boa produção, então, na sua última herdade, o feitor mandou chamar o pastor e explicou-lhe que estava ali o novo dono da herdade que queria ter uma conversa com ele, o pastor chegou de chapéu na mão, em sinal de respeito, o feitor anunciou o novo lavrador e o Manel Catrino estava de costas voltadas, a fingir que olhava para a propriedade, o pastor deu-lhe os bons dias e quando ele se virou, o pastor viu quem era e lembrou-se o que lhe tinha dito, que se algum dia, ele voltasse ali à herdade o corria a pontapés dali para fora, caiu de joelhos na sua frente a pedir-lhe perdão! O lavrador Manel Catrino, deu uns passos em frente e com muito respeito colocou-lhe a mão no ombro e disse-lhe para se levantar, estava perdoado e tudo esquecido, continuava a ser o seu pastor, porque, o mal que lhe tinha feito do passado já não tinha remédio e nunca era tarde para ele ser melhor pessoa!
O pastor levantou-se, beijou-lhe a mão e disse-lhe que nunca mais esqueceria aquele gesto, compreendeu as palavras do Manel Catrino e prometeu-lhe que seria isso que ia fazer o resto da sua vida, e fez!
O Manel Catrino casou-se com uma rapariga muito pobre, já sua namorada antes de comprar as herdades, amavam-se muito, à qual, contou toda esta história e depois aos filhos, mas nas terras de Capelins diziam que, a sua fortuna provinha da venda de um bocado da serra da Estrela que estava cheia de ovelhas, de uns tios que não tiveram filhos! O Manel Catrino e sua esposa a Catarina, como era normal nessa época, tiveram muitos filhos que foram lavradores nas terras de Terena e de Capelins e, donos de alguns Moinhos do Rio Guadiana e das Ribeiras de Lucefécit e do Azevel!
O Manel Catrino, continuou a cantar e a assobiar pelas suas herdades até ao dia em que foi prestar contas ao Senhor, sendo, nesse tempo, o homem mais opulento das terras de Capelins e de Terena!
A Fonte da lesma, em Capelins, continuou a oferecer boa água, até ao dia em que foi submersa pelas águas da Albufeira do Grande Lago de Alqueva, que lhe usurpou a sua água e a sua história.
Fim
"Texto de Correia Manuel em Amigos de Capelins"
     A Fonte da Lesma, em Capelins, fica nesta área.

domingo, 21 de março de 2021

MERCEARIAS DA NOSSA TERRA – O TI COELHO

 MERCEARIAS DA NOSSA TERRA – O TI COELHO


Tentaremos um dia destes, falar das mercearias da nossa freguesia e do seu papel socioeconómico à época. Hoje iremos recordar aqui, uma que sem dúvida alguma, na nossa freguesia e nomeadamente no Telheiro, onde estava sediada, marcou uma época. Oriundos da zona centro do país, mais concretamente da zona de Pombal, terá vindo esta família na primeira metade do século XX, segundo consta, terá sido o patriarca, que começou, a aparecer por aqui vendendo ambulante pelas aldeias, vindo posteriormente, por volta dos anos 20 a estabelecer-se no Telheiro. Alguns de nós, ainda nos recordamos do Ti Coelho e muitos mais serão aqueles, a quem ainda é familiar o nome de Carminda, herdeira por natureza da mercearia do Ti Coelho. Atrever-me ia a dizer, que a mercearia do ti Coelho ou da Carminda, como posteriormente ficou conhecida, não era uma mercearia, era assim uma espécie de centro comercial, desde o prego ao parafuso, passando pelas botas de borracha, não esquecendo o arroz e o açúcar, ou a peça de linho para os lençóis, ou à bombazine para um par de calças, ali havia de tudo.
Não resisto a contar aqui, um episódio, que é bem revelador do espírito comerciante do Ti Coelho. Comerciante abastado, e para conseguir bons preços, comprava por vezes em grandes quantidades, foi um dia alertado pelos seus filhos, que devido à enorme quantidade de açúcar, que tinha comprado, este começava já a dar alguns sinais de estar a deteriorar-se. Astúcia de comerciante, era coisa que ao Ti Coelho não lhe faltava, começou logo a pensar, como é que se iria desfazer de tão grande quantidade de açúcar. Um dia apanhou lá na loja, uma cliente, daquelas que ele sabia que era mulher para guardar bem um segredo, chamou-a de parte e disse-lhe, ouve lá FULANA, tu tens muito açúcar? Por acaso até não tenho Ti Coelho! Então olha lá não digas nada a ninguém, mas se poderes, compra mais uns bons quilos, porque vai haver uma grande crise de açúcar, parece que lá para Lisboa, houve problemas com o descarrego dos barcos e vai faltar o açúcar. Passaram-se alguns dias e não tardou, que a Carminda lhe disse-se, olhe pai! Não sei o que é que aconteceu, que desatou tudo a comprar açúcar já se está a acabar, sorria maliciosamente o Ti Coelho e respondia, já sabes como elas são, devem ter começado todas a fazer marmelada e arroz-doce.
Obrigada Antonino por essa memória prodigiosa que nos vai contando estes pequenos episódios da nossa terra.

“Foto Net e textos de Isidro Pinto”

O MAQUILÃO E AS TRAIÇOEIRAS AGUAS DO AZEVEL

O MAQUILÃO E AS TRAIÇOEIRAS ÁGUAS DO AZEVEL


Hoje com as cheias que estamos vivendo, veio-me à memória o TI Manel Serafim, conterrâneo nosso, que nas décadas de 50/60 foi durante largos anos maquilão, dos moinhos de Calvinos e dos Piteiras, há época propriedade do também conterrâneo e muito conhecido o Ti Zé Luís, patriarca da família Gonçalves de onde sairia aquele que foi o último moleiro do moinho de Calvinos o Domingos Pintainho.
Tal era a assiduidade com que o Ti Manel Serafim, fazia a ligação entre as aldeias da freguesia e o moinho de Calvinos, que se orgulhava do seu fiel e possante companheiro de viagens o macho russo, de quem costumava dizer com orgulho, ponho-lhe as arreatas atadas ao taipal e não lhe toco até Calvinos, conhece os buracos todos. O macho Russo era um bonito e possante exemplar de raça muar, vezes sem conta puxou a carroça, carregada de semente ou farinha pela sinuosa estrada de Calvinos, que saía e muito embora já cortada em alguns pontos, sai do Ferragudo pelo que hoje chamamos de Monte Verde, Monte da Breca, Fonte da Breca e Porto de Calvinos. O porto de Calvinos no Azevel era sem dúvida alguma o ponto nevrálgico deste percurso, não só pelas impetuosas águas do Azevel, mas também porque parte do percurso foi aberto a força de picaretas, cuja largura não ia muito além da largura da carroça, o que pressupunha que quando submerso não havia margem para erros.
O inverno ia chuvoso, mas nada que tivesse impedido até aí a laboração do moinho, era mais uma das muitas viagens de ida e volta do Ti Manel Serafim, quando chegou ao Calvinos já o Domingos Pintainho o espera junto ao monte, bom dia Domingos dizia o Ti Serafim — bom dia Manel respondia o Domingos acrescentando, olha encosta o carro aqui à porta do monte, e descarrega aqui a semente, que o gajo está a subir que nem um bruto, (referindo-se ao Guadiana) e temos que deixar de moer e já agora ajudas-me a ir lá abaixo ao moinho com o carro para trazermos tudo aqui para o monte.
A chuva que de manhã começou miúda e mansinha foi ao longo do dia ganhando corpo e intensidade, caindo agora copiosamente deixando adivinhar as habituais e repentinas cheias do Azevel. Dizia o Domingos, Serafim olha que eu não te empato mais, não te descuides que com o que está caindo não tarda muito já não passas o Azevel, é verdade, Domingos, hoje tem caído bem o dia inteiro, vou-me já andando, mas tenho confiança no Russo ele sabe quando se pode passar, respondia o Serafim, Vê lá, Vê lá, olha que falhas todos temos e ele algum dia também se pode enganar, e olha que a água não tem agarras, se vires que não passas, volta pra trás e dormes aí no monte, terminava assim o dialogo com o Domingos Pintainho.
O Russo nome pelo qual tratava o seu macho, tinha vezes sem conta passado o Azevel, e como todos os animais, também ele tinha perceção do perigo, até aquele dia e durante anos, apenas uma ou duas vezes se recusou a passar, naquele dia e como de costume, deixou o Manel Serafim que o Russo tomasse parte na decisão, afinal apesar do racional e irracional eram uma equipa com provas dadas, quando dobrou a penúltima curva do sinuoso caminho do Azevel, depressa se deu conta do sussurro assustador das águas, o Pintainho não se tinha enganado o Azevel levava uma grande cheia, continuou a descer até à entrada do porto, e já muito perto das águas, que corriam desenfreadas arrastando consigo tudo o que encontravam à sua frente, sem que nada lhe dissesse o Russo parou, farejando as águas como tantas vezes fizera, deu dois ou três fortes sopros deixando escapar o seu temor e indecisão, o Manel Serafim folgou as arreatas tentando não ter interferência na decisão, enquanto assustado via passar perto deles enormes troncos arrastados pela impetuosa corrente, deixou as arreatas soltas e num gesto vigoroso ajoelhou-se dentro do carro abrindo os braços e com unhas e dentes agarrou-se aos taipais de ambos os lados, parecendo-lhe que seria a posição de melhor equilíbrio, o Russo tinha decidido avançar, andaram alguns metros, e o ruído dos detritos arrastados pela corrente, a bater nos taipais do carro era assustador, não tardou muito em dar-se conta, que o carro já não levava as rodas no chão, devido ao facto de ir descarregado, depressa começou a flutuar e a ser arrastado pela corrente, e consequentemente, arrastando atrás de si o Russo que se debatia ingloriamente para os tirar de ali, veio-lhe a memória as palavras do Domingos Pintainho, todos falhamos, e o macho também pode falhar, efetivamente o Russo terá falhado, esqueceu-se de que nunca antes tinha acontecido ir descarregado, o que fazia com que o carro perdesse aderência e começasse a flutuar, a corrente arrastava-os a caminho de uma morte certa, felizmente o carro não se virara, o Manel Serafim tentava manter o equilíbrio agarrado aos taipais, enquanto o Russo se debatia, um enorme estrondo, seguido de um solavanco e um forte embate fê-los ficar encalhados num enorme Freixeiro, no meio do desespero de quem caminha para a morte, ambos perceberam que essa poderia ser a única hipótese entre mil, de pelo menos momentaneamente não morrerem afogados, o Manel Serafim conseguiu alcançar o Freixeiro e subir por ele enquanto pode, enquanto o Russo percebeu que deveria ficar o mais imóvel possível para não desencalhar o carro.
As horas pareciam intermináveis, enquanto a roupa encharcada aumentava a sensação de frio no cimo do Freixeiro, o desânimo quase o dominava, veio-lhe à memória a mulher e os filhos e toda uma vida de trabalho árduo neste Alentejo, que às vezes parece impiedoso com aqueles que pouco têm. AGUENTA RUSSO alguém há de vir à nossa procura.

Já o serão ia largo e a mesa posta para a ceia deixava antever que algo não estava bem, não era habito o Manel Serafim chegar tão tarde, quando muito ao sol-posto, a angústia foi aumentando com o passar das horas, respirava fundo tentando recuperar o ar que lhe faltava oprimido por aquele aperto no peito, olhem lá filhos! Vamos pedir ajuda aos vizinhos, mas nós temos que ir à procura do pai, a esta hora se não ficou no moinho onde quer que esteja já não está por bem, dizia a Ti Estrudes.
Entre familiares e vizinhos mais chegados reuniram uma pequena equipa que depressa tomou a estrada de Calvinos, o Azevel era algo em que ninguém queria pensar, mas que, no fundo a todos atormentava, pode ser que tenha tombado o carro ali no Má Passo, ou que esteja atascado à Figueira do Breque e não seja capaz de sair, também não podemos esquecer que pode não ter querido meter-se à água no Azevel e ter ficado lá no Monte de Calvinos, e amanha por aí aparece, concluía um dos vizinhos, todos se recusavam a desenhar uma tragédia.
As águas não davam sinais de baixar, o frio próprio das chuvosas noites de inverno, cobrava a sua parte, as mãos enrregeladas, tinham cada vez mais dificuldade em manter-se firmemente agarradas ao Freixeiro, olhava para baixo e imaginava que também o Russo atolado em água até ao pescoço, e enfrentando a força da corrente seguramente estaria a passar por grandes dificuldades, AGUENTA-TE RUSSO que alguém há de vir á nossa procura, voltou a olhar novamente para aquilo que lhe parecia ser a direção da estrada, e por uns momentos pareceu-lhe ver luzes, luzes difusas, fracas de intensidade, mas fortes de esperanças, pensou, são eles que vêm aí, seguramente a minha Estrudes os meus filhos e algum amigo ou vizinho? Sabia que àquela distância ainda não eram audíveis os seus gritos, mas, começou imediatamente a gritar ESTOU AQUI, ESTOU AQUI.
Aquilo em que nenhum queria pensar estava cada vez mais perto, estavam já na descida para o Azevel e do Manuel Serafim nem rastos, à distância a que estavam ouviam o enorme barulho das revoltosas águas, foram-se aproximando, mas a escuridão da noite pouco ou nada deixava ver, apenas o brilho das águas e pouco mais.
Agora já não tinha dúvidas, as luzes seriam três ou quatro o que correspondia a três ou quatro lampiões, são eles, que já estão aqui à minha procura! Foi buscar forças onde já não as tinha, mas gritou, gritou com tanta intensidade que do outro lado do rio alguém disse, calem se lá! Parece que soa alguém a gritar lá do meio do rio, com a voz embargada de emoção exclamou a Ti Estrudes é a voz do meu Manel! Senhor dos Passos nos ajude, mas está vivo, ó filhos vão já ao Ferragudo levar a notícia e pedir às pessoas para virem ajudar a salva-lo, que eu e os vizinhos passamos aqui a noite.
Apesar de todo encharcado e das várias horas que levava em tão perigosa situação, renasceu nele a esperança de sair dali com vida, a fogueira que os familiares acenderam para passar a noite, apesar da distância e a impossibilidade física de isso acontecer, também lhe aquecia a alma, nunca antes um lume o aqueceu tanto, nem nas gélidas manhãs de geadas em que as mãos se engadanhavam, era um calor intenso, aquela chama era uma chama de alento e esperança de conseguir sair de tão perigosa situação falava, falava para ele e para o Russo, vamos aguentar Russo, ainda não estamos mortos, talvez não seja desta vez que o Azevel nos engole.
No Ferragudo vários eram aqueles, que esperavam ansiosamente que alguém voltasse e pudesse trazer um pouco de luz, sobre o que teria acontecido ao Manel Serafim, olhos postos na estrada de Calvinos alguém exclamou, parece que vem lá ao Monte do Ti Rela uma luz, será que já trazem alguma notícia? Mas não vêm todos, eram três ou quatro lampiões e só lá vem um, exclamava outro dos presentes, a incontornável ansiedade fez com que fossem descendo a rua ao encontro de quem lá vinha, era um filho do Manel Serafim, já achamos o meu pai, está lá no meio do Azevel em cima dum Freixeiro, mas está vivo, vamos avisar as pessoas e de manhã vamos todos ver se o conseguimos salvar, dizia o filho do Manel Serafim.
Indiferente ao silencio da noite a notícia foi-se espalhando como fogo em seara seca, de madrugada eram já muitos aqueles, que tentavam organizar-se, recolhendo tudo o que lhes parecia ser útil para semelhante operação de salvamento, cordas, pás, enxadas e escadas. Mal se começou a ver, começaram a chegar ao Ferragudo os grupos do Telheiro e de Monsaraz, de burro, a pé ou de carroça, ninguém queria ficar indiferente, de Monsaraz além de muita outra gente vinha também o Manuel Pedinho, intrépido contrabandista, de quem se dizia ser excelente nadador, tinham sido várias as vezes que se metera à água para escapar aos Carabineiros ou aos Guardas Fiscais, e de quem se contava também que quando os meloais eram no Mercador, (herdade do lado Mourão) pela calada da noite ia roubar melancias e voltava a cruzar o Guadiana com elas.
Era impossível ficar indiferente a tamanho gentio, deixou momentaneamente emocionar-se e as lágrimas corriam-lhe teimosamente, indo diluir-se nos fios de água que lhe escorriam da cabeça, estava tremulo de frio e empapado em água, mas, agora mais que nunca não podia vacilar, era hora de esperança, esperança de sair dali vivo e poder voltar para junto dos seus e agradecer a toda aquela gente.
Ó! Ti Estrudes não chore que eu vou tirar dali o Manel, dizia o Manel Pedinho, DEUS TE OUÇA FILHO e que o SENHOR DOS PASSOS TE AJUDE respondia a Ti Estrudes. Despiu as calças e a camisa, deixando a descoberto o improvisado fato de banho, que não era mais que umas ceroulas compridas atadas em baixo. Aí nesse carro que veio do Telheiro vêm boas cordas, vão lá desenrolando duas e deem-me as pontas, dizia o Manel Pedinho, tinha a partir de ali assumido o comando das operações, quando eu chegar ao Freixeiro vou atar lá uma corda, essa corda, vocês atam-na ai ao carro de parelha e deixam-na mais ou menos esticada, a outra corda, vou atá-la por debaixo dos braços do Manel Serafim e vocês só a vão mantendo esticada sem fazer força, é só se a água o quiser levar que vocês aguentam e puxam, concluía o Pedinho perguntando, ENTENDIDO ? Nadador experimentado, com as duas pontas da corda na mão, caminhou dez ou doze metros para montante, para que a própria corrente o arrastasse até ao Freixeiro, o que viria a acontecer, tal como combinado, prendeu firmemente uma das cordas ao Freixeiro e esperou que os de terra prendessem a outra ponta ao carro, experimentou a tenção da corda e exclamou para si, está boa! Vá Manel deixa-te lá de choraminguices e sem medo desce lá até aqui, que chegou a hora de ires abraçar os teus filhos, tremolo e meio desorientado pelas longas horas de espera passadas em tão adversas condições, obedeceu de imediato e desceu até onde estava o Pedinho, assustava-o estar com a agua até ao pescoço, mas conhecia o Pedinho e sabia do que ele era capaz, tinha confiança nele, vamos lá atar esta corda aí ao teu corpo por debaixo dos braços, dizia o Pedinho, e agora vens atrás de mim agarrado com unhas e dentes à outra corda e vais mudando os braços agarrado à corda, não tenhas medo, se alguma coisa acontecer eles não te deixam afogar e puxam a corda que tens atada ao teu corpo, concluía o Pedinho.
Aquilo que lhe faltava em forças, sobrava-lhe em vontade de sair de ali, tudo correu como previsto e não tardou estavam em terra firme, era um momento de autêntico júbilo, uns choravam, outros batiam palmas e muitos eram os que davam vivas ao Manuel Pedinho.
Passaram-se alguns minutos e refeitos de tão grande emoção sobressai novamente a voz do Pedinho, e AGORA VAMOS SALVAR O RUSSO, enquanto perguntava, quem é que tem aí uma navalha que corte bem e que seja pequena porque tenho que a levar na boca, logo alguém se prontificou a dar-lhe a navalha ideal, com a corda ainda atada ao Freixeiro tudo era agora mais fácil e não tardou estava junto ao carro e ao Russo, cujo olhar dócil parecia perceber que tinha chegado a hora de o salvarem, deixou que o Pedinho desatasse a corda do Freixeiro e a atasse ao seu pescoço, enquanto este, recomendava para terra aguentem-se com a corda, não deixem o macho ir água abaixo, cortou todas as cordas e correias que ligavam o Russo ao carro ajudando-o a libertar-se deste. Conta quem viu que foi comovente ver o macho conduzido pelas arreatas atrás do Pedinho, ambos nadando para a margem e para a vida.
Pelos relatos que recolhi, não havia consenso relativamente ao carro, se o tiraram nesse dia ou passado dias.
Muitas foram as vidas que se perderam no Guadiana e seus afluentes, felizmente desta vez tudo acabou em bem e o Russo depois de um largo período a recuperar das multiplas feridas que sofreu continuou a levar o trigo e a trazer farinha acompanhado pelo Manel Serafim.
Obrigada a Maria Catarina Cardoso, Francisca Gonçalves, Catarina Berjano e

"Fotos e texto Isidro Pinto"





sábado, 6 de março de 2021

ROCHA DA NOIVA 2

 A ROCHA DA NOIVA

 


 

Esta  é  uma das portas  existentes na muralha que encerra a nossa linda Vila de Monsaraz, chamada a Porta de Évora.

Outrora era a porta que dava acesso ás aldeias que  constituíam a extinta freguesia de São Tiago de Monsaraz. Ali desembocavam as seguintes ladeiras de acesso à Vila:

- A ladeira de São Sebastião,  que servia a Aldeia dos Motrinos e todo o sector NO do Termo ;

- A ladeira Torta que servia a Aldeia da Barrada  os vários montes do sector Norte;

- A ladeira da Fonte que servia a Aldeia do Telheiro e Aldeia dos Gomes (Outeiro) e toda a  zona a NE da Vila;

- A ladeira dos Frades (actualmente do Ferragudo) que servia quase que exclusivamente ao Convento da Orada.

Todas as desembocaduras das referidas ladeiras se situavam, duma maneira geral, mais ou menos a cerca de cem metros.Por volta dos  cinquenta metros,  do lado esquerdo para quem entra na Vila , encontramos ali uma rocha xistosa chamada a "Rocha da Noiva".

Esta pequena permissa destina-se unicamente  aos nossos amigos que deconhecem o local.

É  precisamente nesta rocha que vamos focar a nossa atenção:

Mais uma vez eu peço mil deculpas ao nosso querido amigo  Isidro Pinto para que não  interprete esta minha intervenção como  uma correcção ao excelente trabalho  que ele publicou há  dias sobre a rocha da Noiva ao qual não devo nem está no meu propósito alterar seja o que for.

A minha intenção é  simplesmente de uma complementaridade ao citadado trabalho.

- Em tempos idos, em que não havia igrejaa em qualquer uma das aldeias que supra mencionei, antes de 1750, como muito bem o amigo Isidro disse, que foi a data da Igreja  de Nossa Senhora  do Carmo,  na aldeia dos Motrinos aberta ao culto. Algumas vezes, excecionalmente, os casamentos eram realizados nas Eremidas de São Sebastião ou de Santa Catarina. 

Como é lógico, quando os casamentos eram respeitantes às aldeias, o pessoal que os costituiam, fazia-se tranportar em carros de tração animal, cujos carros estavam impossibilitados de subir as ladeiras.

Neste caso, os referidos carros ficavam, no sopé da Vila, pelo que, todo o pessoal que constituía o casamento, tinha que subir a pé,  à  exceção da noiva que, para tal, havia sempre uma azémola (muar ou cavalar) destinada à  Noiva, que a transportava desde o lugar onde haviam ficado os carros até  à  tão falada

"Rocha da Noiva",

A partir dali, todo o séquito entrava no Vila a pé,  até à Igreja, normalmente de São Tiago, onde o pároco esperava, à porta da Igreja e ali era feito um ritual, ao qual o pároco chamava o "ato tridentino ", que consistia numa breve apresentação e que ele fazia questão de deixar consignado no registo do casamento.

Depois dos esponsais, todo o pessoal que constituía o  séquito regressava até à  tal Rocha da Noiva, onde era feito um outro ritual de característica profana, a que davam o nome de "os ramos", que mais não era que  uma pequena distribuição de bolos e bebidas .

Só depois se tratava do regresso   e também a noiva subia para a referida rocha e montava a dita azémola. 

Évora,  6 de Março de 2021

Manuel Godinho Mendes Gato