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domingo, 30 de junho de 2019

MOINHOS DO GUADIANA




SAUDOSO GUADIANA. Sem dúvida alguma o Guadiana foi para muitas gerações um marco histórico. Os tempos eram outros e o Guadiana foi vital para a sustentabilidade sócio econômica de toda esta região. Das suas margens saíam o Buinho utilizado para o fundo das cadeiras e para fazer esteiras (espécie de colchão), a Atabua que entre outras aplicações era utilizada para tapar a serra da palha (que nesse tempo era a granel), a Junça com várias aplicações destacando-se as casas para pendurar os melões e para apertar e pendurar os paios da matança, o Vime que tanto servia para fazer a Nassa para apanhar os peixes como o cesto para os transportar. Das suas águas saiam o Barbo, a Enguia, a Boga tão apreciados na gastronomia local . Não podemos esquecer que era a força das suas águas que fazia funcionar os moinhos que abasteciam as populações de farinha para o fabrico do pão. E MUITO MAIS PODERÍAMOS DIZER .


"Autor texto e fotos Isidro Pinto" para Monsaraz a Caminhar






O PILRITEIRO OU PEREIRO BRAVO


O PILRITEIRO OU PEREIRO BRAVO


Um verdadeiro PILRRITEIRO bem no meio do mato, no ribeiro do Zagal





PILRITEIRO QUE DÁS PILRITOS ........PORQUE NÃO DÁS COISA BOA ......CADA UM DÁ O QUE TEM......CONFORME A SUA PESSOA. Quem se recorda de um pequeno texto que escrevi sobre o Carapeteiro ou Pilriteiro. ? Tal como escrevi na altura o Carapeteiro é uma espécie vegetal de porte arbóreo da família rosaceae muito abundante em toda a envolvência de Monsaraz, nomeadamente, nas azinhagas e ladeiras e junto aos muros de pedra, que limitam as pequenas propriedades. Devido á sua resistência aos rigores do clima no Alentejo, principalmente o calor e a falta de umidade, era muitas vezes enxertado em variedades como pero de S. João ou pero Soromenho ou ainda em pera brava. Na maioria das vezes eram os próprios moirais do gado que os enxertavam, garantindo assim fruta para si e para quem passava, sem esquecer uma infinidade de seres vivos que dela usufruía, desde as formigas aos gados passando pelas aves e caça. Na versão enxertado não demorará muito a estar extinto já que como todos sabemos poucos ou nenhuns moirais existem para os enxertar. Em terras do Barrocal ainda podemos ver alguns exemplares com algumas dezenas de anos, o que atesta bem a capacidade de resistência destas árvores........MONSARAZ A CAMINHAR SEMPRE NA PROCURA DA NOSSA IDENTIDADE HISTÓRICA.


"Autor texto e fotos Isidro Pinto" para Monsaraz a Caminhar


sábado, 29 de junho de 2019

LUGARES QUE JÁ TIVERAM VIDA

Poço do Formiga


Poço da Coutada, Poço dos Francos ou Poço do Formiga, são segundo a época os nomes porque era conhecido este pequeno poço. Situado junto á estrada que hoje nos leva á praia fluvial de Monsaraz e que antes dava acesso ao Guadiana e respetivos moinhos do Gato e Calvinos. 
A escassos duzentos ou trezentos metros do monte do mesmo nome desempenhou este poço provavelmente durante séculos um papel importanteDevido à sua estratégica localização deu de beber a muita gente, desde aqueles que demandavam o Guadiana aos Guardas Fiscais, aos Contrabandistas, aos Moirais, aos Caçadores e a um sem numero de gente que por aqui passava. Quantas e quantas vezes bebia-mos água no Poço do Formiga quando das nossas incursões de miúdos e jovens ao Guadiana. Hoje nada mais resta que um charco de pedras e lama onde apenas a Batidora (Batedora) teima em nos recordar onde era o Poço do Formiga, agora só visível quando as águas do Alqueva descem às cotas atuais ...............................................MONSARAZ A CAMINHAR SEMPRE NA CONSTANTE PROCURA DA NOSSA IDENTIDADE HISTÓRICA


"Autor texto e fotos Isidro Pinto" para Monsaraz a Caminhar


quarta-feira, 26 de junho de 2019

A VIDA DO ALMOCREVE DO REDONDO


O TI ZÉ ELIAS 

Havia já alguns dias que tinha entregue nas olarias do Redondo a lista daquilo que queria levar para Monsaraz, o mestre Zé Oleiro vendo passar um dos seus rapazes disse-lhe. Olha lá rapaz diz lá ao teu pai que a carga para Monsaraz está pronta, que venha carregar quando quiser. Recado entregue resolveu o Ti Zé Elias que carregaria no dia seguinte e partiria no outro logo manhã bem cedinho. Mentalmente e porque se lembrava de tudo quanto tinha encomendado distribuíra já a carga pelos trés burrinhos, o Jumento como era o maior e mais possante levaria a louça mais grossa, tendo ainda que sobrar lugar para si já que era ele a sua montada, o Pouca Roupa assim alcunhado porque havia tido uma moléstia no pelo e tinha perdido grande parte dele, levaria a louça de tamanho
médio, panelas, cântaros, enfusas, e algumas tigelas de fogo, o Jirinho como era o mais pequeno levaria a louça mais miúda.  
Tinha por hábito dividir a viagem em duas etapas, a primeira noite dormiria em Monte Juntos, onde tinha alguns fregueses e bons amigos que certamente lhe dariam guarida, o tempo andava chuvoso e a viagem não foi fácil, chegou empapado até aos ossos, felizmente e mais uma vez um dos muitos amigos que tinha por Capelins cedeu-lhe um cabanão para pernoitar.  A passagem por Monte Juntos tinha muito que ver com a Defesa e o Roncanito, grandes Herdades no caminho para Monsaraz onde tinha muitos fregueses, principalmente nesta ultima onde grande parte do pessoal era já da Freguesia de Monsaraz. 
Manhã bem cedinho passou pela Defesa e já no Roncanito lembrava-lhe o feitor o quanto havia chovido de véspera. Olhe lá Ti Elias não queira ver onde se vai meter, olhe que o pessoal do Outeiro à hora de enrregar não apareceu nenhum, é sinal de cheia no Azevel e não foram capazes de passar.  Respondia o Ti Elias, obrigado feitor , mas eu tenho por ali uma marca e quando lá chegar logo vejo, Veja lá veja lá, olhe que a água não tem agarras, respondia o feitor.
 Montou o Jumento e meteu estrada abaixo em direção à ribeira do Azevel cujo leito é o limite entre as freguesias de Capelins e Monsaraz, ao aproximar-se depressa se deu conta que a ribeira levava uma grande cheia e que da sua marca, que não era mais que uma rocha no leito da ribeira a montante do porto do Asseiro, apenas havia um redemoinho sobre ela que indicava a sua presença. Desmontou do Jumento, verificou todas as cordas que prendiam os Burrinhos uns aos outros assim como todas as cilhas e albardas, agradeceu a Deus, por desta vez não ter trazido nenhum dos filhos e  pensou, para si, há-de ser o que Deus quiser, montou novamente o Jumento e precedido pelos outros lá se foi metendo á água, o Jumento avançava lentamente, tateando cada passo que dava, os animais também pressentem o perigo, e aqui não havia margem para erros a queda de um era a morte de todos, o Jirinho apesar de amparado pelo Pouca Roupa era o que mais sofria com a força da corrente, não por ser o último, mas sim por ser o mais pequeno e a água quase o submergia, tudo parecia correr dentro do previsto, quando o Ti Elias como que pressentindo algo atrás de si, olhou e já o Jirinho começava a ser arrastado pela corrente, partira-se a corda que o amarrava ao Pouca Roupa, incrédulo, triste e impotente lembrou-se o Ti Elias que o Jirinho era quem transportava a panelinha dos trocos e então ainda lhe gritou, OLHA JIRINHO NÃO FIQUES A DEVER NADA A NINGUÉM, VÃO AÍ 25 TOSTÕES DENTRO DUMA PANELA DÁ PARA PAGARES A VIAGEM. Felizmente o Jirinho não necessitou pagar a viagem, já que foi encontrado livre de albarda e carga dias depois pastando nas vargens do Azevel lá para os lados do monte do Anastácio Manuel.

"Autor texto e foto Isidro Pinto" para Monsaraz a Caminhar

A IMPORTÂNCIA DOS ALMOCREVES



   
    A IMPORTÂNCIA DO ALMOCREVE NA SOCIEDADE




Os almocreves desempenharam um papel importantíssimo nas sociedades que nos antecederam, eles eram um elo de ligação entre os povos. No Alentejo dos séculos XIX e XX, principalmente nesta região tiveram um papel preponderante os do Redondo e S Pedro do Corval, eram eles que levavam às aldeias e montes mais remotos a tão necessária louça de barro, desde o cântaro para a água até à panela para as sopas, passando pela tigela para a açorda ou gaspacho, tudo era de barro. Alguns de eles, de tantos anos que o fizeram criaram fortes laços de amizade com os povos que visitavam. Foi assim que chegaram até nós nomes como o TI ZÉ ELIAS, o TI TIAGO, o TI ANSELMO, o RAMALHINHO e muitos outros.




"Autor texto e foto Isidro Pinto" para Monsaraz a Caminhar












































































O GUARDA DAS CHARRUAS


O GUARDA DAS CHARRUAS

Nesse ano a folha de sementeira era a das Lameiras, pedaço de terra pertencente à Herdade do Barrocal mas já paredes meias com o Xerez, tendo apenas a separa-las o Ribeiro da Velha, ribeiro nascido no Barrocal e afluente do Guadiana lá para os lados de D. Amada de Baixo. Como as Lameiras ficavam a uma considerável distância do monte do Barrocal lá se instalou a choça do guarda das charruas que iria servir de residência ao Jorge Fraldas (assim alcunhado por andar sempre de fralda fora). Ao guarda das charruas eram normalmente atribuídas algumas outras tarefas, destacando-se de entre elas a de aguadeiro, a quem competia ir à fonte de melhor qualidade de agua e mais próxima encher os cântaros para o pessoal beber. Corria a sementeira de uma forma normal até que o feitor, à data o António Bento se começou a dar conta que à hora de enrregar sobravam parelhas, o que era sinal que faltavam homens ao trabalho, vindo posteriormente a saber que tinham ficado doentes com soltura (diarreia ou caganeira), como o problema se vinha agravando, uma manhã deu ordem para alguém lhe preparar o cavalo e resolveu ir às Lameiras. Estava o Fraldas fora da choça cuidando do lume e das muitas panelinhas das sopas quando por altura do Brajel avistou ao longe o Tonho Bento no cavalo e pensou, ó diabo, o feitor por aqui a esta hora, não deve ser coisa boa. O feitor era homem de poucas falas mas chegou e disse. Bom dia Fraldas Bom dia Sr António respondeu o Fraldas enquanto se apressava para segurar as rédeas do cavalo para o feitor desmontar em segurança, enquanto isso acontecia foi o feitor começando a falar . Olha lá ó Fraldas, ando aqui preocupado com uma coisa, o que é que tu fazes aos homens que anda tudo a adoecer com caganeira. Respondeu o Fraldas ó Sr António eu nada, eu trato-os bem, mas eles às vezes deitam-se-me aqui ao Sol. Para bom entendedor meia palavra basta e percebeu o Fraldas que a partir de ali já estava debaixo de olho, DEIXOU DE ENCHER OS CÂNTAROS NO RIBEIRO DA VELHA e começou a ir ao Poço das Brites á agua, pouco a pouco os homens foram melhorando e regressando ao trabalho. Esta estória foi-me contada pelo meu amigo Marreneco e as funções do Guarda das Charruas foram-me descritas pelo amigo Zé Barradas.

"Autor texto e foto Isidro Pinto" para Monsaraz a Caminhar

terça-feira, 25 de junho de 2019

MARIA JOAQUINA E JOAQUIM MANUEL

O NAMORO DA MARIA JOAQUINA E DO JOAQUIM MANUEL 


Nas grandes herdades era normal nos trabalhos sazonais, monda, azeitona ou ceifa haver ranchos de gente de várias procedências, nomeadamente de freguesias vizinhas, foi assim que o Capelinense Joaquim Manuel e a Montesarense Maria Joaquina se conheceram. Desta vez a ceifa era na parte Sul da Herdade do Roncanito já quase a bater no Moinho do Gato. O Joaquim Manuel era um rapazolas robusto e bem parecido, que logo iria cair nas graças da Maria Joaquina também ela uma moçoila bonita de pele morena, grandes olhos pretos e longos cabelos da mesma cor a deixar adivinhar algum sangue sarraceno que lhe corria nas veias . Piscar de olho aqui, beijinho roubado por detrás de algum releiro ali, lá foram consolidando o namoro de tal forma que quando a ceifa terminou era já um namoro sério. Acertaram entre ambos que ele a visitaria em Monsaraz aos Domingos para dar continuidade ao namoro. De Monsaraz o Joaquim Manuel pouco ou nada sabia, a não ser aquilo que da parte mais alta dos Monte Juntos via, que era lá longe um enorme cabeço com um castelo. Chegou o primeiro dia de namoro e teve o Joaquim Manuel algum cuidado extra em aperaltar-se, afinal não queria fazer ruim figura em terra estranha, camisa de colarinho baixo xadrez miudinho e calcinha de cotim azul a condizer , para calçar levaria as botas novas que havia comprado com o dinheiro da ceifa na feira de St. Maria . Depois de uma semana de trabalho de sol a sol fazer todos aqueles km a pé e subir as ladeiras de Monsaraz não era tarefa fácil mas nada que a sua jovialidade e robustez não superasse , esqueceu-se o Joaquim Manuel que as botas eram novas e isso iria complicar a parte final da viagem já que começavam a magoar os pés. Pelas indicações que a Maria Joaquina lhe havia dado não foi difícil dar com a sua casa, chegou, fez-se anunciar batendo à porta e logo foi encaminhado para a janela destinada ao namoro, para surpresa sua a dita janela não era um primeiro andar mas quase já que tinha que estar de pescoço esticado e chegar à Maria Joaquina nem no bico dos pés, passaram-se assim um Domingo ou dois até que para o Joaquim Manuel naquelas condições o namoro começou a esmorecer. Até que um Domingo saiu de Capelins disposto a pôr fim aquela relação, o caminho parecia-lhe agora mais curto, não só porque já o conhecia melhor mas também porque havia solucionado o problema das botas, trazia agora umas alpergatas que havia comprado em Cheles e só calçava as botas quase a entrar em Monsaraz, escondendo as alpergatas num buraco das muralhas para o qual havia arranjado uma láge à medida para o tapar. Nesse dia chegou e como de costume depois de se fazer anunciar dirigiu-se para a dita janela onde já o esperava a Maria Joaquina, depois de um breve boa tarde e sem lhe dar tempo para mais nada imediatamente lhe declamou uma quadra. 

AS LADEIRAS DE MONSARAZ
SÃO CUSTOSAS DE SUBIR 
ARRANJA OUTRO RAPAZ
QUE EU NÃO TORNO CÁ A VIR 

Virou costas e nem esperou pela resposta, passou pela porta de Évora tirou as alpergatas do buraco e tomou a direção do Telheiro rumo a Capelins onde algum tempo depois arranjou uma rapariga não voltando a saber nada mais da Maria Joaquina ...............................Lenda ou realidade o que é um facto é que esta quadra é muito conhecida em Monsaraz, vezes sem conta a ouvi ao falecido e saudoso Zé Veladas. 

Janela em Monsaraz


"Autor texto e foto Isidro Pinto" para Monsaraz a Caminha