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quarta-feira, 26 de junho de 2019

A VIDA DO ALMOCREVE DO REDONDO


O TI ZÉ ELIAS 

Havia já alguns dias que tinha entregue nas olarias do Redondo a lista daquilo que queria levar para Monsaraz, o mestre Zé Oleiro vendo passar um dos seus rapazes disse-lhe. Olha lá rapaz diz lá ao teu pai que a carga para Monsaraz está pronta, que venha carregar quando quiser. Recado entregue resolveu o Ti Zé Elias que carregaria no dia seguinte e partiria no outro logo manhã bem cedinho. Mentalmente e porque se lembrava de tudo quanto tinha encomendado distribuíra já a carga pelos trés burrinhos, o Jumento como era o maior e mais possante levaria a louça mais grossa, tendo ainda que sobrar lugar para si já que era ele a sua montada, o Pouca Roupa assim alcunhado porque havia tido uma moléstia no pelo e tinha perdido grande parte dele, levaria a louça de tamanho
médio, panelas, cântaros, enfusas, e algumas tigelas de fogo, o Jirinho como era o mais pequeno levaria a louça mais miúda.  
Tinha por hábito dividir a viagem em duas etapas, a primeira noite dormiria em Monte Juntos, onde tinha alguns fregueses e bons amigos que certamente lhe dariam guarida, o tempo andava chuvoso e a viagem não foi fácil, chegou empapado até aos ossos, felizmente e mais uma vez um dos muitos amigos que tinha por Capelins cedeu-lhe um cabanão para pernoitar.  A passagem por Monte Juntos tinha muito que ver com a Defesa e o Roncanito, grandes Herdades no caminho para Monsaraz onde tinha muitos fregueses, principalmente nesta ultima onde grande parte do pessoal era já da Freguesia de Monsaraz. 
Manhã bem cedinho passou pela Defesa e já no Roncanito lembrava-lhe o feitor o quanto havia chovido de véspera. Olhe lá Ti Elias não queira ver onde se vai meter, olhe que o pessoal do Outeiro à hora de enrregar não apareceu nenhum, é sinal de cheia no Azevel e não foram capazes de passar.  Respondia o Ti Elias, obrigado feitor , mas eu tenho por ali uma marca e quando lá chegar logo vejo, Veja lá veja lá, olhe que a água não tem agarras, respondia o feitor.
 Montou o Jumento e meteu estrada abaixo em direção à ribeira do Azevel cujo leito é o limite entre as freguesias de Capelins e Monsaraz, ao aproximar-se depressa se deu conta que a ribeira levava uma grande cheia e que da sua marca, que não era mais que uma rocha no leito da ribeira a montante do porto do Asseiro, apenas havia um redemoinho sobre ela que indicava a sua presença. Desmontou do Jumento, verificou todas as cordas que prendiam os Burrinhos uns aos outros assim como todas as cilhas e albardas, agradeceu a Deus, por desta vez não ter trazido nenhum dos filhos e  pensou, para si, há-de ser o que Deus quiser, montou novamente o Jumento e precedido pelos outros lá se foi metendo á água, o Jumento avançava lentamente, tateando cada passo que dava, os animais também pressentem o perigo, e aqui não havia margem para erros a queda de um era a morte de todos, o Jirinho apesar de amparado pelo Pouca Roupa era o que mais sofria com a força da corrente, não por ser o último, mas sim por ser o mais pequeno e a água quase o submergia, tudo parecia correr dentro do previsto, quando o Ti Elias como que pressentindo algo atrás de si, olhou e já o Jirinho começava a ser arrastado pela corrente, partira-se a corda que o amarrava ao Pouca Roupa, incrédulo, triste e impotente lembrou-se o Ti Elias que o Jirinho era quem transportava a panelinha dos trocos e então ainda lhe gritou, OLHA JIRINHO NÃO FIQUES A DEVER NADA A NINGUÉM, VÃO AÍ 25 TOSTÕES DENTRO DUMA PANELA DÁ PARA PAGARES A VIAGEM. Felizmente o Jirinho não necessitou pagar a viagem, já que foi encontrado livre de albarda e carga dias depois pastando nas vargens do Azevel lá para os lados do monte do Anastácio Manuel.

"Autor texto e foto Isidro Pinto" para Monsaraz a Caminhar

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