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quinta-feira, 8 de outubro de 2020

A LENDA DO PRIOR DA MATRIZ DE MONSARAZ QUE SÓ QUERIA CONFESSAR À NOITE

 A lenda do Prior da Matriz de Monsaraz que só queria confessar à noite 




O Bispado de Elvas foi criado por Bula do Papa Pio V no dia nove de Junho de 1570, obrigando a redesenhar o espaço geográfico que ficou sobre a responsabilidade desta nova Diocese, o qual, incluiu quase todos os Termos (Concelhos) da raia entre Elvas e Mourão, logo, o Termo de Monsaraz!
A Villa de Monsaraz, nesta época, no início da centúria de 1600, tinha pelo menos seis Paróquias, com os seus Párocos que, no caso de doença, ou outro impedimento, eram substituídos por outro, da Paróquia mais próxima, ou mesmo, da Matriz da Villa, onde, no espaço temporal entre 1612 - 1629, identificamos através dos Registos Paroquiais, pelo menos dez padres ou Curas, incluindo o Prior da Igreja Matriz, Luís de Campos, eram eles, os padres: Baltazar Lopes Painho, Christo Romão de Macedo; Antonio Rodrigues, João Falardo, Manuel Daguiar da Fonseca, Miguel Jácome, Afonso Braz e pelo menos mais dois!
Esta lenda, é sobre o percurso da vida do padre, Manoel D. F. dono de boa figura e muito aprumado que, chegou à Vila de Monsaraz no ano de 1614, com carta de recomendação do senhor Bispo de Elvas, D. Rodrigo Pires da Veiga!
Depois de se instalar, de conhecer os cantos à sua Igreja, chegou o dia da missa de apresentação do padre Manoel aos fieis! Foram convidadas as autoridades montesarenses, entre elas, o Alcaide - mor, Juiz de Fora, Ouvidor, Juiz das Sisas, Juiz das Sacas, Juiz dos Orfãos, Juiz do Cível e do Crime, Almoxarife, Almoçaté mor e outros Juizes, Escudeiros, Cavaleiros, Tabeliães, Capitães, Tenentes, Sargentos das Ordenanças e outros militares, Procurador, Escrivães, Lavradores e outros homens bons da Vila, na companhia das suas ilustres familias! A Igreja Matriz, ficou apinhada de fiéis, alguns, tiveram de ficar no adro, de onde foram enxotados os pobres e curiosos! Esta enchente, deveu-se ao boato de que, o padre Manoel era protegido do Duque de Bragança, donatário da Vila, situação que, tornava o padre numa pessoa muito poderosa, logo, temida pelos lacaios!
A Igreja Matriz estava cheia de flores, verdura, fitas de veludo e outros enfeites, a missa foi rezada e assistida por todos os padres da Matriz de Monsaraz e, pelo Prior Luís de Campos, decorrendo com grande pompa, uma cerimónia religiosa pouco vista até esse dia na Villa de Monsaraz, ficando na memória da élite montesarense que, a seguir à santa missa, ofereceu um banquete a todos os convidados!
Após o almoço, os convidados foram dar as boas vindas e desejar felicidades ao novo padre e, aproveitavam para tentar saber pormenores da sua vida pessoal, a sua linhagem e o percurso da sua vida até chegar a Monsaraz, depois, faziam grandes elogios e afastavam-se, procurando outras individualidades, para tentar saber novidades do reino e da Vila! As mulheres, ali, não se expandiam, mas algumas já tinham o padre Manoel debaixo de olho!
A alta sociedade montesarense, gostaram do padre, então, logo no dia seguinte, começou o rodopio das fiéis a caminho da Igreja Matriz, a pedir para serem confessadas pelo padre Manoel, também, na tentativa de, no confessionário poderem saber o que ainda não sabiam sobre a sua história de vida! Já sabiam que, era protegido do Duque de Bragança, descendente da fidalguia, era uma Benção enviada por Deus para a Vila de Monsaraz!
A partir desse dia, algumas fiéis começaram a mudar-se para o novo padre, mas os outros padres da Matriz e o Prior, não se importavam com isso, assim, tinham mais tempo para dedicar às pobres almas que precisavam do amparo do Senhor!
Algumas mulheres e filhas da élite montesarense, queriam ser as primeiras a ser confessadas, também, por uma questão de posição social! O padre Manoel, logo nos primeiros dias de trabalho, esgotou o horário destinado às confissões e o número de fiéis não parava de aumentar, já não tinha mãos a medir, porque, algumas confessavam diariamente! A conversa em confissão encaminhava-se para pormenores impróprios, embora o padre não mostrasse abertura, porque, sabia que depressa surgiam boatos! O padre sabia que, algumas daquelas mulheres gostavam de fantasiar com padres, começavam por brincadeiras e, muitas vezes acabavam em casos muito sérios, senão tragédias!
O Prior Luís de Campos, acompanhava aquele invulgar movimento das fiéis sem preocupação, porque, era a repetição do que acontecia sempre que chegava um padre com boa figura à Vila de Monsaraz, depois, quando a poeira assentava, tudo voltava ao normal, agora, não seria diferente!
Depois do inverno, chegou a primavera do ano de 1615, sem acontecer nada de novo na Vila de Monsaraz, por isso, tudo continuava como no ano anterior, as fiéis da alta sociedade continuavam o ataque ao confessionário do padre Manoel, algumas, só para estimular a adrenalina, enquanto os maridos e namorados, por ambição desmedida, tentavam fazer a cama uns aos outros para usurpar os lugares que cada um ocupava, porque o do outro era sempre melhor! Porém, algumas esposas e filhas, sem nada para fazer, além de uns pontos de costura e bordados, tentavam fazer a cama para a desfazer com o padre! Elas continuavam a confessar todos os dias, estavam sempre cheias de pecados, quando o padre pensava que já não tinham argumentos, logo, inventavam outros, deixando-o incrédulo! O padre, cada vez aumentava mais a receita da Penitência, em Pai Nossos e Avé Marias, rezados em casa, mas nada mudava!
O padre Manuel, desde logo, percebeu o que algumas fiéis queriam, mas fingia não perceber, no entanto, andava preocupado com a situação, porque, embora estivesse protegido pelo Duque de Bragança, conhecia o perigo dos boatos, por isso, tinha de os evitar, fosse de que maneira fosse, mas era impensável, naquele momento, enxotar aquelas fiéis da sua Igreja, porque, eram da alta sociedade montesarense! O padre, já não conseguia ficar indiferente a algumas, criaram muita intimidade, por isso, sonhava com elas em poses indecentes e, passavam-lhe cenários pela cabeça que, ele castigava com pesadas penitências, mas sem resultado!
Algumas fiéis faziam-lhe confissões incríveis e, tinham conversas impróprias, mas em confissão, o padre era obrigado a ouvir tudo o que as almas tinham para dizer! Quando as interpelava sobre o motivo de se confessarem diariamente, elas respondiam que, estavam cheias de pecados, porque tinham tido sonhos eróticos com um homem que não o seu marido ou namorado e, prontificavam-se a contar-lhe todos os pormenores! O padre, ficava aflito e fingia não as perceber e, desviava a conversa para os sacramentos! Por fim, dava-lhe o perdão em troca da receita, cada vez mais recheada de Pai Nossos e Avé Marias, mas no dia seguinte, já lá estavam novamente cheias de pecados!
Os anos passavam e nada mudava, todos apreciavam os sermões do padre Manoel, as fiéis da élite não desistiam das confissões diárias, o padre estava à beira do abismo, já andava de cabeça perdida por algumas! O Prior, apercebeu-se e, apressou-se a tentar dar-lhe a mão, mas descuidou-se e, quando chegou o auxílio, já era tarde, o padre Manoel não resistiu às investidas da esposa de um tabelião e, a partir daí, já com a honra perdida, outras se seguiram!
Quase em simultâneo, começou o falatório na Vila de Monsaraz, o povo dizia que, o padre Manoel tinha amantes e filhos, mas isso, até era uma coisa normal, passando-se com um padre, era atenuado, foi sempre assim!
parecia que os boatos, tinham efeitos contrários, porque, a concorrência no confessionário aumentou e o padre Manoel teve de reorganizar os horários, em turnos, como as horas disponíveis durante o dia para confessar não chegavam, porque, tinha de realizar outros atos religiosos, o padre Manoel, para poder dar resposta a todas as almas teve de começar a confessar à noite! Este horário, não agradou aos maridos e namorados das fiéis, a quem o povo chamava, "os cabeças pesadas", então, os mesmos, fizeram uma reunião, na qual, foram unânimes em reprovar os turnos noturnos das confissões e, decidiram que, fosse indicado um dos presentes, para ir pedir ao Prior que, acabasse com aquela pouca vergonha, caindo essa responsabilidade no Juiz das Sacas, por ser amigo do Prior!
O Juiz das Sacas, marcou a hora com o Prior, foi a sua casa e, depois dos cumprimentos e de uma conversa sobre o tempo e sobre a vida social da Vila de Monsaraz, começou:
Juiz: Senhor Prior, como sabe, estou aqui em nome de um grupo de homens bons desta Vila, para lhe participar que, não estamos de acordo com o horário noturno das confissões feitas pelo padre Manoel, sendo assim, pedimos a sua intervenção para acabar com essa pouca vergonha!
Prior: Senhor Juiz, é verdade que não é uma situação muito normal, mas sinceramente, não vejo nenhum mal nisso, porque, os sacramentos não têm hora marcada para serem ministrados, bem sabe que, não há hora marcada para se ouvir a palavra do Senhor!
Juiz: Senhor Prior, não posso dizer que não tem razão, mas tem de compreender que, essa situação do padre confessar à noite, é uma modernice que não queremos na nossa Vila, não admitimos uma coisa dessas! Além disso, circulam boatos que o padre tem por aí amantes e até uma quantidade de filhos, mas isso, não passam de boatos, coisas do povo e daquele grupo de solteironas, melancólicas, esquecidas pela história que se arrastam pelas casas dos ancestrais como baratas tontas, muito preocupadas em mandar polir os cobres e as pratas e em envenenar a vida alheia, por isso, nada disso nos preocupa, sabemos as mulheres e filhas que temos lá em casa e, sempre se ouviram esses desaforos sobre outros padres, mas o que nos preocupa senhor Prior, é aquele horário do padre confessar à noite, é uma modernice que, como lhe disse, não queremos de maneira nenhuma, na nossa Vila de Monsaraz!
Prior: Senhor Juiz, sendo assim, vou imediatamente falar com o padre Manoel e tenho a certeza que, ele vai compreender e acaba com as confissões à noite!
O Prior e o Juiz das Sacas despediram-se e, a conversa ficou por ali!
Nesse mesmo dia, depois da missa rezada pelo padre Manoel, o Prior participou-lhe que precisavam de ter uma conversa, o padre sabia o que o Prior queria e disponibilizou-se, imediatamente, demonstrando que, não tinha qualquer peso na consciência e, marcaram encontro às 16 horas, porque, era quando tinha tempo livre até ás confissões noturnas! Assim, ás 16 horas, foram falar para a sacristia, o Prior, começou por elogiar o excelente trabalho do padre na Matriz e, a seguir, passou diretamente à questão:
Prior: Padre Manoel, desde que chegou aqui à Matriz de Monsaraz tem sido incansável no cumprimento da sua missão, não consigo apontar-lhe nenhuma falta, mas sabe como é o povo, por nada de importância, arranjam um enredo, inventam boatos que, mais cedo ou mais tarde, acabam por chegar aos ouvidos do nosso Bispo ou da Santa Inquisição, depois lá estamos a ser inquiridos e metidos em confusões! Sei que o padre tem muito trabalho com o seu rebanho, por isso, teve de começar a confessar algumas das suas fiéis à noite, não encontro nenhum mal nisso, mas sabe que o povo não gostou e, já há por aí muito falatório, por isso, algumas autoridades, vieram falar comigo e disseram-me que estão contra esse horário das confissões! O que me diz sobre isso?
Padre Manoel: Senhor Prior, com todo o respeito por si, pelo povo e, pelas autoridades descontentes com o horário das confissões à noite, mas não vejo nenhum mal nisso, sabemos que, não existe hora marcada para os fiéis ouvirem a palavra do Senhor, há muitas almas que, devido a não poderem estar na Vila durante o dia, querem confessar à noite, ou por outro motivo que só a eles diz respeito! Os fiéis que querem confessar durante o dia, podem fazê-lo, têm aqui outros padres à escolha, ou podem falar comigo que, decerto, não ficam por confessar! Quanto aos boatos do povo, o senhor Prior, sabe que, sempre houve e nada podemos fazer!
Prior: Padre Manoel, como lhe disse, não vejo nenhum mal nesse horário, ao ouvi-lo, até me leva a concordar consigo, mas fico preocupado com o que as autoridades podem fazer, porque, envolve alguns dos homens mais poderosos da nossa Vila!
Padre Manoel: Senhor Prior, como sabe, não posso abandonar as almas que querem ouvir a palavra do Senhor à noite, seja por que motivo for, ou seria sacrilégio e a Santa Inquisição não vai gostar, por isso, se as minhas fiéis estiverem de acordo, posso mudar o horário, de contrário, não o posso fazer!
Prior: Tem toda a razão padre Manoel, abandonar as almas, seria sacrilégio e podíamos ter problemas com a Santa Inquisição! É verdade que, não existe hora marcada para ouvir a palavra do Senhor, o assunto está arrumado, o padre confessa quando as almas o pedirem!
A conversa entre o Prior e o padre Manoel, sobre o caso acabo ali!
O Prior foi dali e pedu ao sacristão para passar pelo escritório do Juiz das Sacas e, dizer-lhe que já tinha resposta para ele!
O Juiz das Sacas, no dia seguinte, foi ouvir o que o amigo Prior tinha para lhe dizer e ficou muito surpreendido com a resposta! Ficou assustado, quando o Prior lhe disse que, o assunto, podia despertar interesse da Santa Inquisição e, isso não convinha a ninguém!
O Juiz das Sacas despediu-se com amizade, porque, o caso, não interferia nas suas boas relações, foi dali, convocou os descontentes para uma reunião para lhe participar a resposta do Prior e para decidirem o que fazer!
Quando o Juiz das Sacas, na reunião, contou a conversa que tinha tido com o Prior, foi uma deceção para todos! Estavam de mãos atadas, ainda mais, por o padre Manoel ter a proteção do Duque de Bragança, por isso, estava fora de questão transferir o padre para uma Paróquia e muito menos queixar-se dele ao senhor Bispo, ou à Santa Inquisição, porque, além das confissões à noite não tinham nada a apontar, como é que podiam fazer queixa dele? Mas se o povo da Vila de Monsaraz também não estava contente com as confissões à noite, podiam escrever uma carta ao Duque de Bragança a mostrar o seu descontentamento! Assim, como não conseguiram encontrar outra solução, decidiram incitar o povo, através dos boateiros, para escrever a dita carta e meteram mãos à obra!
Entretanto, as queixas ao Prior eram cada vez mais frequentes, o povo queria acabar com as confissões à noite, não queriam essa pouca vergonha na Vila de Monsaraz! O Prior Luís de Campos já andava de cabeça perdida, sem saber o que fazer, não podia obrigar o padre a abandonar as almas, porque, era sacrilégio, mas já não suportava a pressão do povo e dos cabeças pesadas! Passava noites sem dormir a rezar e a pensar numa saída para este caso, mas o Senhor, parecia não querer ajudá-lo! Porém, numa noite fez-se luz, embora lhe custasse imenso, mas não encontrou outra porta de saída, na madrugada do dia seguinte, meteu-se a caminho de Elvas pedir ao Bispo D. Frei Lourenço de Távora a sua transferência para a Paróquia de Santo António de Capelins que, ele sabia que estava vaga, justificando que, andava muito cansado e era verdade, estava muito abatido, o Bispo reparou e levou isso em consideração! Em boa hora o fez, o Senhor não se esqueceu dele e, não foi preciso esperar muito pela resposta, o seu pedido foi aceite e, a partir do dia 2 de Janeiro de 1624, deixou o seu lugar de Prior na Igreja Matriz de Monsaraz, para se fixar na Paróquia de Santo António de Capelins, de onde, a todo o momento avistava a sua Vila de Monsaraz, já que, tinha lá o coração!
O Prior Luís de Campos, não saiu mais da Paróquia de Santo António de Capelins, onde faleceu no dia13 de Agosto de 1639, mas antes, despediu-se, à distância, da sua saudosa Villa de Monsaraz, ficando sepultado na Igreja de Santo António de Capelins!
Após a partida do Prior Luís de Campos, o Priorado da Matriz de Monsaraz ficou vago, mas por pouco tempo, o Bispo de Elvas D. Frei Lourenço de Távora, nomeou, imediatamente Prior o padre Manoel! Assim, em Janeiro de 1624, o padre Manoel já era Prior, logo, a autoridade máxima no Priorado, podia confessar de noite ou de dia sem prestar contas a ninguém e, se a situação já estava complicada, ainda mais se agravou, porque, em vez de acabar com as confissões à noite, passou a confessar só à noite, mas os outros padres confessavam durante o dia, portanto, ninguém era obrigado a confessar à noite, mas o grupo dos cabeças pesadas ainda ficaram mais zangados com a atitude do Prior! Alguns, proibiram as esposas e filhas de se confessar à noite, outros, empanturravam-se à ceia (jantar) e caiam para o lado a dormir, ou tinham assuntos a tratar, dentro, ou fora da Vila, então, não se importavam que as suas esposas e filhas, fossem confessar à noite em companhia das criadas da sua confiança! Por isso, os boatos na Vila de Monsaraz e arredores subiram de tom, diziam que, o Prior tinha amantes e grande número de filhos, não só nas élites, mas até tinha um filho da escrava do Juiz das Sisas!
Em 1626, o povo incitado pelos cabeças pesadas, à noite, dirigiram-se à Matriz e, ofenderam o Prior Manoel, foi uma arruada, quando ele estava a confessar, então, ele adiantou-se e, escreveu uma carta ao Duque de Bragança apresentando queixa contra o povo! O Duque, mandou que se fizesse uma devassa (investigação) ao povo, para confirmar as ofensas feitas ao Prior, mas, entretanto, por outras vias, pelos seus lacaios que estavam ao lado dos cabeças pesadas, ficou informado de tudo, então, mandou acabar com a devassa, (investigação) e silenciar a questão, pedindo para não darem crédito ao Prior, ou seja, para abafar o assunto!
O Prior Manoel, não foi molestado e, continuou a fazer tudo como antes, o número de fiéis a pedir a confissão à noite aumentou, por isso, andava cada vez mais cansado de tanto trabalhar a cuidar das suas almas!
A sua criada, a Maria, tratava-o muito bem, com caldinhos de galinha, cabidelas, ensopados, migas com toucinho e boas sopinhas, mas o Prior de tanto trabalhar, definhava dia a dia, até que, na madrugada do dia 12 de Setembro de 1629, como habitualmente, a Maria chegou à porta do quarto e disse: "Bom dia, senhor Prior, as migas estão na mesa"! A Maria voltou à casa de fora, esperou alguns minutos e estranhou não ouvir nenhum movimento, esperou mais um pouco e voltou à porta do quarto a repetir a mesma frase, ia afastar-se, mas pensou em entrar no quarto, coisa que nunca fazia com o Prior lá dentro, por respeito, não por receio de ser confessada, chegou junto da cama e chamou o Prior, mas não teve resposta, ficou aflita e colocou a mão por cima dele, começou a abaná-lo, mas ele não reagia, concluiu que, ele tinha falecido da vida presente, saiu a correr e foi chamar outros padres que estavam perto e não demoraram em confirmar que o Prior Manoel já estava no céu junto do Senhor!
A notícia do falecimento do Prior, causou grande consternação ao povo, foi grande surpresa! Chamaram o médico (físico) da Vila de Monsaraz que, se limitou a confirmar o óbito e a fazer as diligências oficias sobre se teria havido crime, mas concluiu que, tinha sido o coração do Prior que lhe tinha pregado uma partida, não tinha aguentado tanto trabalho!
As autoridades eclesiásticas trataram do funeral e, o Prior Manoel foi sepultado na manhã do dia 13 de Setembro de 1629 na Capela Mor da Igreja de Nossa Senhora da Lagoa, sendo as exéquias ditas pelo padre Afonso Braz, acompanhado por todos os outros padres e representantes da diocese de Elvas, estando, também presentes as suas viúvas, filhos e autoridades montesarenses que, mostravam grande pesar, mas no fundo, algum regozijo, porque estavam livres daquela pouca vergonha do Prior confessar à noite!
A morte do Prior Manoel, acabou por ficar envolta em mistério, o qual, nunca foi desvendado, ficando escrito que, foi falha no seu coração devido ao excesso de trabalho!
A partir desse dia, acabaram-se as confissões à noite na Igreja Matriz de Monsaraz! A vida social continuou como antes e, a comunidade montesarense, ficou esperando a chegado do substituto do Prior Manoel e, da missa da sua apresentação! Depois, os boatos sobre os padres de Monsaraz com filhos, voltariam!
Bem Haja Prior Manoel, por ter cumprido a sua missão e contribuindo para o povoamento da Vila de Monsaraz!
FIM



"Autor texto Correia Manuel" para Monsaraz a Caminhar

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