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domingo, 29 de novembro de 2020

A LENDA DO CAVALEIRO TEMPLÁRIO E DA PAIXÃO PELA MOURA DE MONSARAZ

 

História, lendas e tradições da Vila de Monsaraz 



A lenda do cavaleiro templário e da sua paixão pela moura de Monsaraz 

No ano de 1232 as terras do Alto Guadiana, estavam quase todas, sobre o domínio dos Cristãos, porém, a Fortaleza de Monsaraz continuava na posso da moirama, graças às suas defesas naturais! A elevação da montanha, dificilmente permitia a subida das máquinas de guerra e da cavalaria, além das vantagens dos arqueiros que, da altitude lançavam as flechas mortíferas a grande distância, mas essa situação não podia continuar, porque era uma ameaça às terras Cristãs, assim, após o estudo do terreno o Rei D. Sancho II incentivado pelo mestre da Ordem dos Templários, mandou avançar as suas tropas em conjunto com os cavaleiros templários para a reconquista da Vila de Monsaraz! 

Na noite de trinta de Abril de 1232, sexta-feira, as tropas do Reino cercaram a Vila de Monsaraz e pediram a rendição da moirama que, obviamente não aceitou! O cerco destinava-se a cortar o auxilio militar, assim como de armas e mantimentos, no entanto, o cerco podia demorar meses, até à rendição do governador! 

Durante essa noite chegaram as tropas da Ordem do Templo com o seu arsenal pesado, catapultas, arietes/carneiros, escadas e outros instrumentos de guerra! A cavalaria não era muito numerosa, uma vez que, o campo de batalha previsto não permitia o uso da muita cavalaria, neste caso, devido ao terreno, eram necessárias outras técnicas de guerra! A cavalaria era mais útil em batalhas em campo aberto e no caso dos cavaleiros templários, como cada um, tinha direito a um escudeiro e três cavalos e podia ter um quarto cavalo em algumas situações, logo, mesmo não sendo muitos cavaleiros, obrigava a grande quantidade de cavalos que eram bem treinados, bem tratados e bem ferrados, exigindo muitos homens para estas tarefas! 

O exército templário constituído pelos respetivos freires cavaleiros, instalou-se num campo que foi limpo e preparado para a instalação das suas célebres tendas e de um dia para o outro edificaram uma cidade! Começaram, imediatamente a trabalhar, cada um nas suas áreas específicas, os alvanéus (pedreiros) levantaram a Ermida de Santa Catarina, fundamental para as suas orações, outros a fazer e reparar as vestimentas oficiais dos freires guerreiros, a reparar e fazer armamento, a tratar dos cavalos e outras tarefas! 

Os engenheiros militares e os mineiros já conheciam as características do terreno envolvente da Vila de Monsaraz fornecidas pelos espiões, sabiam que, o Castelo ficava no alto de uma montanha, envolto por terrenos ingremes e irregulares que dificultavam o acesso! Como já traziam os desenhos, mandaram abrir caminhos por onde iam subir as máquinas de guerra para, se fosse necessário, destruir o Castelo e permitir a subida de homens e cavalaria, no assalto final!

Passado cerca de um mês de preparação para o ataque, com várias escaramuças entre sitiados e sitiantes e grandes chuvadas de flechas, algumas certeiras, vindas do Castelo, na noite do dia 25 de Maio, estava tudo a postos e as catapultas foram colocadas no lugar mais próximo que conseguiram do Castelo, com os arqueiros colocados a seu lado, começaram a disparar grandes pedras contra as paredes e para o interior, assim como, flechas contra os mouros mais aventureiros que se expunham lá no alto e não demoraram a abrir brechas nas paredes e a provocar baixas nos arqueiros mouros e quando os cristãos se preparavam para lançar escadas e a entrar, os mouros içaram a bandeira da capitulação, evitando a destruição total da Vila e, principalmente que a população fosse dizimada!  

O governador mouro entregou-se e depois das negociações, participaram aos habitantes de Monsaraz que podiam ficar, mediante algumas condições severas, mas eles eram montesarenses, gostavam da sua Vila, por isso, a maioria aceitaram, mesmo perdendo as suas casas e todos os direitos, incluindo o de propriedade, ficavam na esperança de um dia a Vila voltar à moirama! 

Depois de tudo resolvido, a Vila de Monsaraz foi doada por D. Sancho II à Ordem dos Templários que, ficou a receber os tributos em troca da sua defesa, ficando nela, uma guarnição comandada pelo cavaleiro Pedro Sanches, com a missão de acabar com as bolsas de resistência dos mouros, nas imediações e se necessário, acudir às Vilas vizinhas! Os Templários começaram, imediatamente a erguer os edifícios e, principalmente o Castelo que, tinha ficado arrasado! 

A maioria dos mouros que ficaram na sua terra, Monsaraz, trabalhavam nestas obras e nos campos, mas pouco ganhavam, eram escravos dos cristãos, com impostos muito pesados, em alguns casos, acima dos seus rendimentos, embora alguns tivessem dinheiro das suas economias escondido, não conseguiam suportar a situação e como a comunidade tinha sido empurrada para um canto da Vila, conseguiam comunicar entre si e nomearam um mercador chamado Amin Caled que, decidiu ficar em Monsaraz com a sua família para em nome de todos falar com D. Pedro Sanches, e dizer-lhe que, ou reduzia os tributos para metade, ou os mouros abandonavam a Vila de Monsaraz!  

O mercador Mouro Amin Caled pediu para falar com o cavaleiro templário e depois de autorizado foi acompanhado da sua filha mais velha chamada Rosana, muito bonita e dona de uns lindos olhos que, levava as contas bem feitas, sobre o rendimento da sua comunidade e os tributos que pagavam aos Templários, acima dos rendimentos e fez a demonstração das contas a D. Pedro Sanches com tanta segurança e desembaraço  que, o deixou impressionado, e mais do que isso, perdido de amor por ela, talvez por isso, logo ali lhe garantiu a redução dos impostos e depois de ouvir que a comunidade queria abandonar a Vila de Monsaraz levou as mãos à cabeça e pediu-lhe para não o fazerem, uma vez que lhe concedia tudo o que pediam e, pensou que a Vila despovoada, não lhe servia para nada, nem podia receber impostos e não existiam povoadores por perto! Acertaram a negociação e despediram-se!

O cavaleiro templário Pedro Sanches cumpriu o que prometeu e a vida económica e social dos mouros de Monsaraz mudou completamente, para melhor, decerto, também por efeitos da paixão dele pela moura Rosana, os olhos dela, talvez ela tivesse feito por isso, tinham-se apoderado da sua alma e a todo o momento, de noite e dia se lembrava dela e quanto mais a tentava esquecer, mais a imagem dela se apoderava dele, porém, seria um amor impossível, não só por ser uma moura, mas por ele ter jurado celibato, como todos os cavaleiros templários!

Como a Vila de Monsaraz não tinha grande dimensão, o cavaleiro andava constantemente a cruzar-se com Rosana, talvez fizessem ambos por isso, porque também ela estava apaixonada pelo cavaleiro barbudo, até que, um dia deu-se um encontro inesperado, onde ela, sem se aperceber, se entregou completamente a D. Pedro Sanches! 

Desse encontro, nasceu um filho a quem deram o nome de Omar Sanches que, o cavaleiro não podia assumir, sabia que era seu filho e, como amava a Rosana, dava-lhe tudo, incluindo proteção à família, mas vivia num grande dilema, porque sabia que aos olhos de Deus estava condenado, por isso, para se redimir do pecado partia em campanhas contra os mouros, lutando com audácia, não se importando de cair no campo de batalha, mas não conseguia, voltava sempre a Monsaraz e aumentava o pecado, porque continuava a envolver-se com a sua amada Rosana!

Na despedida para uma das campanhas que fazia contra a moirama, o cavaleiro templário entregou uma carta a Rosana e disse-lhe que era o legado do seu filho, assim, se ele não voltasse a Monsaraz, para reclamar o que estava na carta que, era a herança dos seus bens!

Uma noite, foram bater à porta de Rosana e disseram-lhe que fosse, rapidamente ao Castelo, a Rosana sabia que era o seu amado que tinha chegado e decerto queria vê-la, não imaginava o que a esperava! Mandaram-na entrar para os aposentos do cavaleiro, ao entrar viu-o em agonia, fixou-a nos olhos, balbuciou algumas palavras, caiu-lhe nos braços e faleceu! 

O cavaleiro Templário tinha sido gravemente ferido numa batalha contra os mouros em terras distantes, mas em grande sofrimento conseguiu chegar à Vila de Monsaraz para se despedir da sua amada Rosana, falecendo nos seus braços! 

O cavaleiro foi sepultado em Monsaraz e passados alguns meses Rosana entregou a carta aos Templários que, sabiam da relação entre ambos, por isso, cumpriram a sua vontade e entregaram-lhe todo o legado do cavaleiro Pedro Sanches e continuaram a proteger a sua família! 

O filho Omar Sanches, recebeu uma educação esmerada, ficou rico com a herança do pai e, como não podia ser cavaleiro devido às origens de sua mãe, estudou para físico (médico) e dedicou-se a praticar o bem às gentes de Monsaraz.

Fim 

"Texto: Correia Manuel "

"Fotografia: Isidro Pinto"

 


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