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terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

A LENDA DO BAILE DO DIABO NA "VILLA DE MONSARAZ"

 A Lenda do baile do diabo, na Villa de Monsaraz **



Quando o mafarrico andava pela Terra à pesca de almas, um dia ao lusco-fusco estava em Capelins, onde tinha feito uma boa colheita, quando ouviu a conversa entre dois rapazes a combinar a sua viagem até à Vila de Monsaraz, para assistir a um grandioso baile, como nunca se tinha realizado nesta Vila!
Como não era uma viagem fácil, devido ao percurso de hora e meia, nas suas burras, que tinham de deixar na propriedade de um amigo na Aldeia de Telheiro e depois fazer o resto a pé e antes passar a Ribeira do Azevel no Porto do Outeiro que, levava muita água, já de noite, era perigoso e tinha de ser feito com muito cuidado! O diabo, ainda não tinha ido à Vila de Monsaraz, não lhe agradava entrar dentro das muralhas com poucas oportunidades de saída em caso de aflição e onde havia muitos padres, logo, muitas cruzes, o seu terror, mas viu ali duas oportunidades, com sorte para ele, os rapazes podiam ter algum azar no caminho e eram duas boas almas que podia pescar e no baile, alguma alma havia de arranjar!
O diabo seguiu os rapazes desde Capelins que, para sua decepção nada de mal lhe aconteceu e chegaram sãos e salvos a Monsaraz, conheciam muito bem o caminho e, na hora do começo do grande baile, já lá estavam, em companhia de alguns amigos, companheiros de trabalho nas herdades de Capelins e de Monsaraz!
O baile nessa noite era abrilhantado por um, conjuntos de Jaz Band muito admirado na região, composto pela Lolita e os seus Muchachos, era uma espanhola de Vila Nueva del Fresno que se amigou com um rapaz de Monsaraz e tinham ambos muito, talento para a música, tocavam e cantavam como rouxinóis, acompanhados dos seus três filhos!
O baile começou e, era tanta gente que mal cabiam no recinto e não paravam de chegar pessoas, as raparigas da Vila de Monsaraz já rodopiavam nos braços dos rapazes e havia algumas que, eram mais pretendidas do que outras, ou, porque dançavam bem ou, porque eram muito bonitas, como a Maria Gracinda, uma das raparigas mais bonitas da Vila de Monsaraz e, das mais cobiçada pelos rapazes da região, por isso, era muito protegida pela mãe, era a luz dos seus olhos, não lhe deixava pôr o pé fora de casa sem ser debaixo da sua asa e, andava sempre a comentar com as vizinhas: - A minha Maria Gracinda é tão bonita, só pode ser para um fidalgo! Quando algum rapaz de Monsaraz se aproximava dela, como não era fidalgo, era logo enxotado pela ti Maria Ribeiro!
Naquela noite do grandioso baile, a Maria Gracinda ainda estava mais bonita, irradiava beleza da cabeça aos pés, os rapazes amontoavam-se no lugar onde lhe podiam pôr os olhos em cima, porque sabiam que, as suas mãos ásperas do trabalho, não lhe podiam tocar, ainda mais, ela só podia dançar com os rapazes que a mãe permitia, acenando com a cabeça, em sinal de sim, ou não, só algum conhecido da família ou bem trajados, como prova de melhor vida, era assim o controlo feito no baile e fora dele, pela sua mãe, a ti Maria Ribeiro!
Quando o baile estava no auge entrou um rapaz desconhecido que, quase fez parar a função, ouviu-se um grande burburinho e até a Lolita que estava a cantar uma das suas lindas cantigas se engasgou, o rapaz vestia um lindo fato de seda que brilhava com a luz dos candeeiros e usava um chapéu nunca visto por estas bandas, era um traje de príncipe da Corte! O baile continuou, mas os olhos das pessoas estavam pregados no suposto príncipe e alguns, em bicos de pés, afirmavam que era mesmo um príncipe, porque conheciam muitos fidalgos da região e nenhum vestia assim!
Assim que, a série da dança acabou e os rapazes começaram a marcar par, para a seguinte, o suposto príncipe com muita calma e altivez dirigiu os olhos à Maria Gracinda e fez-lhe sinal para dançar, ela hesitou, mas olhou para a mãe que já estava há muito tempo a dar à cabeça para baixo e para cima, em sinal de consentimento e, a sua cabeça fervilhava e pensava: - Eu queria um fidalgo para a minha linda filha, mas enviaram-me um príncipe!
O suposto príncipe envolveu a Maria Gracinda e o baile em tanta magia que, as pessoas entraram em transe, num sonho mágico, os pares flutuavam e, até a Lolita e os seus Muchachos, sem darem por isso, tocavam e cantavam lindas canções que desconheciam e, a Maria Gracinda e o seu par encantavam toda a gente!
Devido ao transe a ti Maria Ribeiro passou pelas brasas e começou a sonhar que a sua linda filha dançava com Principie das Trevas, fez um esforço para acordar e naquele momento, ainda assarapantada viu o par mesmo na sua frente e os olhos do diabo fixaram-se nos seus, ainda ensonada, mas não teve dúvida que ele era a figura que viu no sonho e olhando-o de frente, não se conteve e gritou: - Oh meu Deus! É o diabo, e fez o sinal da cruz! Como o diabo não podia ver a cruz e soube que estava descoberto, largou a Maria Gracinda, ouviu-se um grande estrondo, os candeeiros a petróleo apagaram-se, ficando uma escuridão e ele desapareceu, mas a ti Maria Ribeiro não parou de gritar que estava ali o diabo!
O diabo saiu do baile a correr e dirigiu-se à porta da muralha, por onde tinha entrado atrás dos rapazes de Capelins, mas essa porta estava fechada e o diabo em corrida, perdeu-se pelas ruas de Monsaraz, aquela hora, por motivo de segurança, só já estava uma porta aberta, com guardas e o portageiro que, ao ouvirem gritar que andava ali o diabo, prepararam as armas e uma grande cruz para não o deixar sair, as pessoas correram a chamar os padres que vieram logo, mesmo em ceroulas a benzer as ruas da Vila e os Montesarenses foram a suas casas buscar cruzes, armas, machados, gadanhas, forquilhas, marretas e outros instrumentos e cercaram o mafarrico que, não conseguindo sair por nenhuma porta, encontrou um lugar de acesso à muralha, por onde saltou e desapareceu na escuridão!
O baile parou e já não continuou, algumas pessoas foram para casa, outras andaram pelas ruas e, até saíram da Vila e seguiram a direção das pegadas dos cascos do bode, mas nunca mais foi visto pelas terras de Monsaraz!
A Maria Gracinda, durante o baile e perante tanta magia, não resistiu a entregar a sua alma ao diabo e, a partir daquela noite, nunca mais foi a mesma, continuou bonita, mas muito apática, acabando por casar com um pobre jornaleiro e no fim da sua vida, quando partiu, o dono da sua alma não apareceu a recolhê-la, por isso, dizem que, ainda hoje, anda penando pelas ruas da Vila de Monsaraz, onde o mafarrico, nunca mais voltou.
Fim
"Texto: Manuel Correia"
"Fotografia: Isidro Pinto"
VARANDIL (local onde eram feitos os bailes)


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