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sábado, 6 de fevereiro de 2021

A LENDA DO MOURO ENCANTADO, NO CASTELO DE MONSARAZ

 

História, lendas e tradições da Vila de Monsaraz 

A lenda do mouro encantado, no Castelo de Monsaraz 



Em meados do mês de Abril do ano de mil duzentos e trinta e dois, o governador mouro da Vila de Monsaraz foi informado pelos seus espiões que a cristandade se preparava para atacar a sua Vila e o pior era que os atacantes eram os temíveis Templários que nunca falhavam nas suas conquistas! 

O governador ficou muito preocupado e como tinha tempo para tomar medidas, abasteceu e armou bem a Vila, mandou treinar os seus guerreiros, reforçou a Fortaleza e mandou emissários a pedir reforços aos reinos vizinhos, à Taifa de Sevilha e ao Califado de Córdova para onde seguiu a sua esposa, filhos mais novos e outras mulheres e crianças, ficando junto dele o filho mais velho, chamado Azmir, um rapaz de vinte e cinco anos, dono de uma nobre figura, corpo atlético, de pele trigueira e olhos negros,  muito cobiçado pelas mouras da região, era muito astuto, por isso, ganhou o cognome de raposa de Monsaraz!   

Sem surpresa para a moirama, passados poucos dias, a Vila de Monsaraz acordou cercada pelo exército dos templários, muito bem organizados, não permitiam a passagem de viva alma para um e outro lado e, quando raiou a aurora mandaram um emissário exigir a rendição do governador e com a mensagem que se não o fizesse a Vila seria saqueada e arrasada! 

O governador recebeu o emissário, ouviu a proposta que, em caso de rendição, garantia não haver derramamento de sangue, apenas teriam de entregar os seus bens e se quisessem podiam partir, ou podam ficar mediante severas condições, mas com vida! 

Quando o governador estava prestes a aceitar render-se, foi pressionado pelo seu filho para não o fazer, embora muito novo era um destemido guerreiro, treinado por grandes mestres de guerra, desenvolvendo muitas aptidões, entre as quais, a de ludibriar as sentinelas, subindo e descendo pelas paredes do Castelo sem ser visto e aparecia de surpresa simulando o inimigo! 

O guerreiro Azmir disse ao pai que sabia de fonte segura, que estava a chegar um grande exército do Califado de Córdova que vinha em seu auxílio e a reconquistar as praças perdidas, por isso, tinham de resistir ao cerco até à sua chegada e, assim convenceu o governador a rejeitar a proposta da rendição aos templários! 

O governador de Monsaraz, sabia que não ia receber auxílio, mas fez a vontade ao filho, até porque, havia tempo para se render, queria evitar um banho de sangue, mas a rendição era uma grande desonra e vergonha e ficaria condenado o resto da sua vida,  por isso, tinha de fazer alguma resistência aos templários e no momento da sua entrada no Castelo logo se rendia!

Na noite seguinte, o Azmir raposa, aproveitou a escuridão, desceu as paredes do Castelo e como conhecia muito bem a região, conseguiu rastejar como uma cobra, entre pedras e rochas e furou o cerco, iludindo homens, cavalos e cães, porque aplicou odores dos animais no seu corpo e conseguiu entrar no acampamento dos templários que estava instalado onde hoje se situa a Ermida de Santa Catarina, com intenção de matar o maior número possível, rapidamente degolou cinco ou seis homens que dormiam nas suas tendas e, se não fosse descoberto por um cão treinado do acampamento, atraído pelo sangue, tinha feito grande mortandade, teve de fugir e voltou ao Castelo passando novamente o cerco e sem as suas sentinelas darem por nada, mas ele, depois contou ao pai e a outros guerreiros, a sua façanha! 

Depois de averiguações, os templários foram informados pelos espiões que tinha sido obra do raposa, pelo que, depois de confirmado foi condenado à morte por decapitação, quando a Vila fosse tomada! Esta decisão, chegou, rapidamente aos ouvidos do governador que, sabendo o que sabia sobre os templários, logo previu que ia ficar sem o seu amado filho, fosse em combate ou mesmo em caso de rendição! 

A Vila de Monsaraz tinha excelentes defesas naturais que dificultavam a aproximação dos atacantes, como também a instalação das catapultas e de outros instrumentos de guerra, de maneira a alcançarem o Castelo, mas os templários tinham muita experiência em contornar esses obstáculos e quando chegou o dia do ataque final, não foi difícil atingir o alvo e, rapidamente as paredes do Castelo começaram a ceder devido ao impacto das grandes pedras lançadas pelas catapultas! 

O governador estava protegido pelos seus melhores homens a observar e a comandar a peleja, preparado para no momento da entrada dos templários içar a bandeira da rendição, observava o filho a comandar um grupo de guerreiros com muita bravura, mas sabia que a batalha estava perdida, então mandou chamá-lo à sua presença e disse-lhe: 

Governador: Filho, estamos perdidos, não demora os infiéis entram por aqui e não os dominamos, tenho de me render para evitar um banho de sangue!

Azmir: Meu pai, peço-lhe que não faça isso, vamos aguentar até à chegada de reforços, sei que está a chegar um grande exército em nosso auxílio! 

Governador: Não, filho, não está, sei de fonte segura que não conseguiram passar a linha de defesa dos castelhanos, não vem ninguém em nosso auxílio, por isso, só nos resta a rendição ou a nossa morte e o massacre do nosso povo! 

Azmir: Meu pai, eu não me vou render, bem sabe que estou condenado pelos infiéis, então vou morrer a defender o nosso povo!

Governador: Meu amado filho, não posso permitir que sejas morto por esse cães, por isso, tenho uma solução, quer tu queiras ou não, vais ser encantado! 

Azmir: Oh meu pai, não me faça isso, para mim é um ato de cobardia, quero antes morrer a combater pelo nossa fé e pelo nosso povo! 

Governador. Não, filho, já está decidido, encantamento não é cobardia, depois de morto já não podes fazer nada pelo nosso povo, mas se ficares encantado tens oportunidade de mais tarde o servir, porque, depois do desencantamento  serás um homem livre! 

O mouro Azmir não queria aceitar ser encantado pelo pai, mas os homens que o ladeavam deram um passo em frente, como sinal de ameaça e ele deixou cair os braços e prontificou-se a ouvir a explicação sobre o encantamento e o desencantamento e onde estava escondido o tesouro do encantamento! 

Os templários estavam cada vez mais próximos e ainda faltava decidir em que símbolo ou animal o Azmir seria transformado, assim como, a chave do seu desencantamento! Durante a indecisão, os templários abriram grande brecha na parede do Castelo fazendo saltar pedras até junto do governador entre as quais, um bloco quadrado muito bem talhado, ele sobre pressão e num impulso bateu com a bengala nesse bloco de pedra, disse algumas palavras mágicas e acrescentou: Meu filho muito amado, ficas nesta pedra encantado e a mulher que te desencantar, três beijos nela tem de dar! O mouro Azmir desapareceu e, ao mesmo tempo entraram os templários, mataram alguns guerreiros que não se renderam, mas perante a rendição do governador, ficaram em posição de ataque esperando ordens dos seus superiores! 

Após o controlo da situação entrou um oficial e outros comandantes, dirigiram-se ao governador que se curvou em sinal de submissão e com ele entraram numa casa para negociar sobre os deveres e direitos dos mouros que quisessem ficar na Vila e o destino a dar ao governador, ao mesmo tempo começaram a procurar o mouro Azmir para ser decapitado, mas não o encontraram, o pai e todos os guerreiros que foram interrogados até à morte, disseram sempre o mesmo, que ele tinha fugido para a moirama! 

Alguns cavaleiros templários, seguiram os caminhos que iam dar ao rio Guadiana e todas as pessoas que interrogavam afirmavam que tinham visto passar alguns cavaleiros a galope naquela direção, depois, os pescadores que por ali andavam e moravam confirmaram que tinham visto passar os cavaleiros e deles fazia parte o raposa, os templários ficaram convencidos da sua fuga e ao fim de algumas horas voltaram desolados, ao Castelo de Monsaraz! 

Depois de tudo acertado, deixaram partir o governador e começaram, imediatamente a reconstruir a Vila e o Castelo, usando as mesmas pedras do desmoronamento! 

A pedra, na qual Azmir está encantado foi colocada, aleatóriamente na parede do Castelo, como as outras, mas está destacada devido ao seu formato, num lugar de difícil acesso, porque ficou e continua lá, a mais de dois metros de altura, tornando muito difícil o desencantamento do mouro! 

As tentativas feitas por Azmir para convencer as mulheres a procurar um banco ou um escadote para chegar à dita pedra e dar-lhe os três beijos para o desencantar, em troca do tesouro, não têm dado bons resultados, ou as mulheres fugiram assustadas, porque ,pensaram que era uma alma do outro mundo que assim falava, ou atribuíram as palavras a homens que estavam por perto, os quais não se livraram de levar alguns açoites, por isso, o mouro Azmir,  continua encantado no Castelo de Monsaraz, espalhando magia pela Vila nas noites de nevoeiro, esperando a mulher que o vai desencantar e receber o cofre com o seu tesouro.

Fim 


Texto: Correia Manuel 

Fotografia: Isidro Pinto 




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