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sábado, 20 de fevereiro de 2021

O DIABO QUE FUGIO DE MONSARAZ E A LENDA DA ROCHA DO DEMO

 O DIABO QUE FUGIO DE MONSARAZ E A LENDA DA ROCHA DO DEMO




Tinha que sair de ali o mais urgente possível depois do incidente do baile, a notícia depressa se espalhou e toda a gente correu a casa à procura de uma foice, uma gadanha ou uma forquilha, a partir daquele momento estava aberta a caça ao Diabo, o pai da Maria Gracinda sentindo que ele tinha desrespeitado a sua filha não queria que se fizesse justiça por mãos alheias e gritava! Se alguém o apanhar entreguem-mo a mim que eu ensino-lhe o caminho para o inferno, os guardas das portas perante tamanha algazarra e os gritos do gentio de ANDA AQUI O DIABO, correram a fechar as portas deixando apenas semiaberta a Porta da Vila. Sentia-se encurralado, mas manhoso como o diabo aproveitou a distração dos guardas e esgueirou-se pela pequena abertura da porta. Sentiu que alguns dos perseguidores vinham atrás de si, mas na escuridão da noite tudo era mais fácil, a vantagem agora era sua, mas mesmo assim não podia descurar, apanhou a primeira ladeira que encontrou, que nada tinha que ver com aquela por onde entrara, entrara pela Ladeira da Fonte e agora saia pela Ladeira do Convento, que o havia de levar até à ribeira da Pega, andou Pega abaixo Pega acima à procura de um sítio para passar, sabia que havia por ali um porto com passadeiras a que chamavam o Porto de Chefes, e cuja estrada ia a dar aos Montes Juntos para onde queria regressar, caminhou parte da noite entre estevas e tojos encontrou um fraguedo de tal ordem que não mais conseguiu sair de ali, no seio das enormes rochas estava uma lapa que lhe serviria de abrigo, e que parecia até já ter servido de abrigo a alguma alma penada. De manha quando despertou descobriu que, no fundo, de tão grande fraga havia um moinho e um moleiro, com quem viria a coabitar até ao dia em que estando o moleiro a assar um bocado de chouriço, num lume que tinha feito na rua do moinho apareceu o diabo com um lagarto e disse Ó! Moleiro deixa-me assar aí o meu lagarto! tudo bem, mas não o deixes chegar ao pé do meu chouriço, que nem te passe essa ideia pela cabeça, dizia o moleiro enquanto ia de vez em quando tirando o chouriço do lume e deixando que este pingasse em cima do pão que tinha na outra mão, também me podias dar um bocado de pão, dizia o Diabo, não, só tenho este e não te dou pão, assa lá o lagarto e já vais com sorte, e não o deixes chegar ao meu chouriço, concluía o moleiro, perante a ameaça do lagarto perto do chouriço o moleiro voltava a lembrar OLHA O LAGARTO, enquanto o diabo cantava PINGA PINGA LAGARTO, LAGARTO INTEIRO, PINGA PINGA LAGARTO, NO PÃO DO MOLEIRO, e nesse momento deixou que o lagarto desse uma dentada no chouriço do moleiro.
Enraivecido o moleiro tinha perto de si a agulha de ferro com que movia as mós do moinho e deu com ela na cabeça do diabo, arrancando-lhe uma orelha, este ao ver tanto sangue e a orelha no chão jurou vingança e disse VOU-TE AFOGAR A TI E AO MOINHO, e nessa mesma noite construiu no meio da fraga e a jusante do moinho, uma enorme parede, que chegou até aos nossos dias, dando o nome à fraga que ainda hoje se chama FRAGA DA ROCHA DO DEMO.
Obrigado ao Francisco Gonçalves por me teres contado esta lenda da Rocha do Demo que o teu saudoso pai o Ti João Catacu nos deixou, e que muito poucos ou nenhuns saberiam.
“Texto e Fotos Isidro Pinto”



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